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A Igreja sempre proferiu afirmações teológicas sobre a verdade, e, em cada época, teve de lidar com desafios. A questão é que tais adversidades ganham novas nuances e complexidades, e cabe a geração identificar quais os obstáculos estão atrapalhando e até mesmo sufocando o exercício da fé e a livre pregação – imperativos da fé cristã. Esses impedimentos variam de acordo com a cultura, o sistema educacional e informativo, e os modelos de governo e laicidade de um país.
No Brasil vivemos em uma democracia constitucional; nosso modelo de laicidade é colaborativo, mas somos impactados, quase todos os dias, com situações em que algum dos braços do poder estatal - entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário - são utilizados para tentar validar posturas “sofisticadas” de perseguição. Quando tal situação não acontece, temos ainda de lidar com a relativização da tolerância por parte de alguns grupos que promovem uma verdadeira caça aos cristãos, determinando como válido até mesmo a depredação de objetos de culto e templos religiosos.
Alguns exemplos que mostram essa situação podem ser citados aqui, como o que aconteceu com o Pastor Jorge Linhares da Igreja Batista Getsêmani, que foi intimado pelo Ministério Público de Minas Gerais por uma suposta “discriminação de identidade de gênero”, em razão do compartilhamento de vídeo publicado pelo Mundo de Otávio, aonde crianças falam que “Deus nunca erra” para se opor à ideologia de gênero.
Outra situação que demonstra o cenário brasileiro em relação a inviolabilidade do local de culto, foi a invasão à uma missa na Igreja de Curitiba, onde um vereador, juntamente com outros militantes, atrapalharam o momento litúrgico de uma paróquia católica, entrando posteriormente no templo, e, aos gritos e levantamento de bandeiras, lançaram suas visões e insatisfações ideológicas, desrespeitando fiéis, colocando idosos em risco, e passando por cima do educado pedido do padre para que se retirassem.
O mesmo vereador que promoveu a invasão a um local de culto, também ficou conhecido por usar um secador de cabelo numa sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal de Curitiba, para afrontar um projeto de lei a respeito do uso da linguagem neutra (mais um tema que gera uma grande bagunça em nosso sistema de linguagem, atropela os conceitos básicos e identidade e merece a nossa atenção).
Ao acompanhar essas situações e ver que em alguns casos fica por isso mesmo, é natural que tenhamos medo de agir conforme a nossa fé. Logicamente não estamos falando da totalidade dos crentes, e sabemos que muitos seguem agindo de forma corajosa, não renunciando àquilo que acreditam. Mas, na mesma medida, não podemos deixar de pensar em soluções para ajudar aqueles que andam com medo.
O medo, dizem psicanalistas, é considerado como um instinto de sobrevivência. A partir disso, vem a pergunta: os acontecimentos do Brasil em relação a expressão religiosa tem ameaçado o nosso senso de sobrevivência a tal ponto de andarmos com medo?
Vivemos num período de forte propagação da cultura do cancelamento, onde uma decisão, uma fala ou comprometimento a determinado conjunto de crenças pode ser o suficiente para um grupo de pessoas decretarem que não temos mais legitimidade para viver em sociedade e externar nossas ideias, impactando até mesmo na obtenção de um emprego, resultando em demissões e outros constrangimentos de diferentes naturezas.
Os acontecimentos do Brasil em relação a expressão religiosa tem ameaçado o nosso senso de sobrevivência a tal ponto de andarmos com medo?
A questão é que, além da coragem como uma virtude apologética inerente aos crentes e à pregação do evangelho, também temos um conjunto de leis presentes na Constituição Brasileira (art. 5º, inciso VI; inciso VII; inciso VIII; art. 19, inciso I; art. 143, §1º; art. 210, inciso I, art. 231); na legislação, e os tratados internacionais que protegem o exercício da fé e tem por objetivo repelir o medo de o cidadão, que também é fiel, apontando que: o transcendente não pode ser manipulado ao bel prazer de ninguém, nem mesmo de um agente público. Ainda temos ferramentas de articulação que, quando usadas corretamente, nos protegem contra esse sistema hostil e garante a liberdade para a pregação do Evangelho.
O medo é despertado em razão do desconhecimento, (condição a qual somos alertados desde Oseias 4:6) e, por isso, tal é um sentimento que merece nossa atenção e que deve ser combatido com amor para aqueles que cedem, e sobretudo, com instrução para a nossa Igreja, visando dar as ferramentas para que não se submetam a constrangimentos acreditando que “crente nasceu para ser perseguido mesmo”.
(Se você quiser saber mais sobre como sobreviver à cultura do cancelamento no contexto do ministério pastoral, inscreva-se em nossa Masterclass “Pregando Sem Medo”, que acontecerá dia 29/3 as 20h. Acesse aqui).