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Há quem diga que o rock brasileiro está morto, ou moribundo. Ledo engano. O show do grupo Barão Vermelho, ontem (7) no Teatro Positivo, em Curitiba, mostrou que boas canções e letras ainda resistem ao mar de lama que tomou conta da música nacional que atinge o grande público, atualmente.

A banda, que estava em stand by desde 2005, retornou no ano passado para comemorar os 30 anos do lançamento do seu primeiro disco, “Barão Vermelho”, de 1982, com a turnê “+ 1 Dose”.

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As cortinas vermelhas do palco do teatro se abriram perto das 22h. O grupo começou a noite com “Por que a gente é assim?”, seguida de “Ponto fraco” e “Pense e dance”, sem intervalo entre elas. Após esse início de tirar o fôlego, o guitarrista e vocalista Frejat saudou o público e explicou que a tour era uma forma de tocar músicas que fizeram parte da trajetória do grupo e que nem sempre são incluídas no repertório. “É importante que a molecada veja o que é um show do Barão”, explicou.

A trinca inicial já dava o tom do que seria a apresentação. Durante quase duas horas, a banda presenteou os fãs com um setlist formado só por clássicos como “Billy Negão”, “Carne de pescoço” e “Política voz”, passando por todas as fases e discos da sua trajetória. “Meus bons amigos”, do álbum “Carne Crua”, lançado em 1994, teve o seu refrão cantado em uníssono pelas mais de 2.000 pessoas presentes. “O amor sem fim não esconde o medo de ser completo e imperfeito”, diz a letra.

A formação atual do Barão tem o vocalista e guitarrista Frejat, Guto Goffi na bateria, Fernando Magalhães na guitarra, Rodrigo Santos no baixo e Peninha na percussão, além da participação do tecladista Mauricio Barros, remanescente da formação original do grupo, ao lado de Frejat e Gutto. A química entre os músicos, fruto de décadas tocando juntos, é impressionante.

Foi perceptível o caráter de celebração com que a banda está encarando essa turnê. Os músicos pareciam estar realmente se divertindo no palco, interagindo entre eles e com a plateia sem forçar a barra. O comportamento do público também chamou a atenção pelo respeito que demonstravam. Shows de rock sempre são marcados pela sinergia entre artistas e seus fãs. Atualmente essa interação parece ainda maior. As pessoas, por conta da quase extinção do rock nas rádios, TVs e mídia em geral, trocado por “artistas” de gosto duvidoso, parecem ávidas por boa música e letras que tenham algo a dizer.

Homenagens

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Frejat dedicou a música “O Poeta está vivo”, ao vocalista do Charlie Brown Jr., Chorão, falecido na última quarta-feira. “Ele era um cara muito talentoso, com todos os seus céus e infernos pessoais”, afirmou.

As homenagens se estenderam a mais dois ícones do rock nacional com “Quando o sol bater na janela do seu quarto”, da Legião Urbana e “Tente outra vez”, de Raul Seixas. Um dos maiores sucessos de Cazuza, “O tempo não para”, foi tocada em uma versão bem mais pesada.

Antes de “Sorte e azar”, o vocalista revelou que, durante a remasterização do primeiro disco da banda, eles encontraram músicas que nem lembravam que tinham sido gravadas. Entre essas canções perdidas estava “Down em mim” com Cazuza, o vocalista do grupo na época, cantando em espanhol.

“Declare Guerra”, clássico do disco homônimo lançado em 1986, trouxe para os velhos e novos fãs uma das letras mais diretas e bem escritas do grupo. “E pra piorar quem te governa não presta. Declare guerra aos que fingem te amar. A vida anda ruim na aldeia. Chega de passar a mão na cabeça de quem te sacaneia”, diz a letra. Escrita há quase três décadas atrás, ela tem a magia que só grandes canções possuem: não envelhece.

“Down em mim”, que une o ritmo do blues, uma letra melancólica e um solo de guitarra sensacional, foi emocionante. “E da privada, eu vou dar com a minha cara de panaca pintada no espelho e descobrir, sorrindo, que o banheiro é a igreja de todos os bêbados”, diz a letra. Um dos hinos da história do rock, “(I Can’t Get No) Satisfaction”, dos Rolling Stones, encerrou a noite. Nela, Frejat largou a guitarra e cantou a música bem próximo ao público.

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Ver um show de rock sempre foi uma válvula de escape para várias gerações. Em meio ao caos da vida moderna isso fica ainda mais evidente. Ouvir canções bem construídas e bem tocadas, acompanhadas por letras que dizem algo, que fazem as pessoas pensarem, é quase um programa em extinção. Felizmente ainda existem bandas como o Barão Vermelho que proporcionam esses momentos únicos para os amantes da boa música.

Confira as três primeiras músicas do show do Barão Vermelho, “Por que a gente é assim”, “Ponto fraco” e “Pense e dance”.