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Cwb Live Entrevista – Danilo Zolet, de instrumentista a luthier, a visão de um músico à frente do seu tempo
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Arquivo pessoal/Danilo Zolet
Danilo e sua criação, o violino Tuono

Danilo Zolet, ex-guitarrista e violinista do Infernal, extinto e lendário grupo curitibano de death metal, é um dos mais criativos talentos que a música paranaense já produziu.

Morando desde 2009 na fria cidade de Colônia, na Alemanha, ele concedeu uma entrevista exclusiva ao Cwb Live falando sobre o seu trabalho como luthier e a sua vida na Europa.

A concepção do “violino guitarra”

No Infernal, Danilo usava o violino como uma guitarra, por mais paradoxal que isso possa parecer. Adaptado para a sua forma de tocar, o instrumento tornou-se uma marca que faz com que o grupo seja reconhecido, até hoje, em todo o mundo. “Em 1990 eu conheci um cara chamado Mark Wood. Ele tinha lançado um disco e esse material era, aparentemente, de uma banda de heavy metal tradicional, sem guitarras”, relembra.

A descoberta de que a “banda” era, na realidade, um músico que tinha uma forma original de usar um instrumento tão clássico, despertou o interesse do curitibano. “Depois vi que não era uma banda e sim um cara que construía violinos elétricos. Nesse CD, ele tinha o objetivo de divulgá-los”, explica.

Após alguns anos com a ideia de usar o instrumento dentro do som do Infernal, Danilo comprou um violino de cinco cordas e começou a criar alguns riffs para a banda. O “estalo” definitivo veio depois da turnê que o grupo fez pela Europa, em 2002. “Eu e minha esposa, Sabine, começamos a investir na elaboração e construção de um violino de seis cordas. Dali em diante não parei mais. Hoje toco com um de sete cordas”, conta.

O primeiro projeto idealizado pelo casal acabou sendo construído por um amigo que, no momento, tinha mais conhecimento sobre a arte da luthieria. “Com o tempo fizemos melhoramentos no desenho, estrutura, acessórios etc. Depois eu comecei a construí-los, pois esse amigo me deu várias instruções. Serei sempre agradecido pela ajuda que ele me deu”, elogia.

Os captadores são parte essencial de qualquer instrumento elétrico de cordas. Pela sua complexidade, eles foram desenvolvidos separadamente. “Tive que aprender sozinho, pois sobre isso ele não entendia nada. A minha linha de captadores, a Tuono, se tornou muito popular e está sendo usada por músicos de vários estilos”, explica.

Divulgação/Infernal
Uma das formações do Infernal com o vocalista Marcelo Koehler, falecido em 2008, Danilo, o baixista Covero e o baterista Edi Tolotti

A versatilidade do instrumento

As características do instrumento permitem que o musicista possa executar vários estilos, da música clássica ao heavy metal. “Eles possuem um suporte peitoral junto com uma alça, que faz com que o músico não use o queixo para segurar o violino e, com isso, fique mais livre para se movimentar, cantar junto ou até agitar a cabeça”, conta. Eles são construídos com quatro, cinco, seis ou sete cordas, fazendo com que possam emitir até as notas mais graves, essenciais para o heavy metal.

A qualidade no desenvolvimento da sua marca teve repercussão no mundo musical. Seus captadores, por exemplo, estão sendo utilizados pelos percussionistas de Elba Ramalho e Gilberto Gil.

A vida na Europa

A estrutura para os que fazem música no velho continente chamou a atenção do violinista por ser muito mais acessível que no Brasil. “Existe uma estrutura de bares, gravadoras e produtoras que vai da pequena às grandes bandas. O custo não é alto para o músico, diferente daí”, afirma.

O preço dos instrumentos musicais também é mais baixo. A comparação com o jeitinho brasileiro de levar vantagem em tudo é inevitável. “É uma grande questão para se perguntar aos honestos lojistas! Com 600 euros, em média, é possível comprar, por exemplo, um amplificador Marshall completo, com gabinete e as duas caixas. Uma guitarra B.C. Rich Warbeast é vendida por, no máximo, 200 euros!”, enfatiza. No câmbio atual, o instrumento sairia por R$ 544. No Brasil, o mesmo modelo custa acima de R$ 4.000.

Em Colônia, Danilo faz shows de música brasileira para os atônitos alemães que se espantam ao ver um instrumento clássico sendo executado de uma forma tão original. “Tenho tocado outros estilos para ganhar dinheiro, como samba, bossa nova e chorinho”, explica.

O death metal, porém, não sai da veia do violinista que ainda pensa em ressuscitar a antiga banda, agora com músicos europeus. “Já ensaiei com alguns caras, mas eles não eram bons. Continuo procurando as pessoas certas para montar o Infernal, novamente”, revela.

Danilo foi um dos pioneiros da música mundial a adaptar um instrumento clássico para um som extremamente pesado e violento. Dentro do heavy metal, gênero nem sempre aberto a inovações, o feito é ainda maior e parece não ter se repetido. “Estou sempre de ouvidos e olhos abertos. Ainda não surgiu uma banda com a concepção que eu tive para o Infernal”, finaliza.

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Confira duas músicas do Infernal onde é possível ver como Danilo executava o violino dentro do som do grupo, “Entrails invaded” e “Metal in blood”.

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