A banda curitibana Semblant vem se destacando como um dos mais importantes nomes do dark/gothic metal brasileiro. Em uma entrevista exclusiva para o Cwb Live, o grupo reconta toda a sua carreira e a sua saga dentro do cenário underground do país.
A história
A Semblant teve início em 2006. O primeiro EP, “Behold The Real Semblant”, foi lançado dois anos depois, em 2008. Segundo o vocalista e mentor da banda, Sergio Mazul, o trabalho foi uma espécie de apresentação para a mídia nacional do trabalho que o grupo estava se propondo a fazer. “Nós usamos ele como um cartão de visitas para a mídia, para as revistas e sites especializados começarem a dar atenção ao nosso trabalho”, explica.
“Last Night of Mortality”, o primeiro CD oficial, foi lançado em 2010 pela gravadora Free Mind Records. Apesar do destaque que o grupo vinha recebendo da imprensa especializada, logo após o lançamento houve uma mudança drástica na sua formação. “Nós acabamos trocando, praticamente, todo o line up da banda. Dos membros originais só restaram eu e o Guto, (tecladista)”, relembra Sergio.
Trocas na formação de um grupo são sempre momentos perigosos. Com a saída principalmente da vocalista Katia Shakath, o que parecia uma situação difícil se tornou uma das grandes marcas da Semblant: a voz da atual cantora Mizuho Lin. “Eu acredito que essa tenha sido a fase que fez com que nós chegássemos onde estamos hoje”, afirma Sergio.
Ao receber o convite para integrar o grupo, Mizu, como é chamada pelos outros integrantes, enfrentou o desafio de se aventurar em um terreno musical totalmente novo para ela. “Eu tenho formação lírica, estudo canto lírico desde 2007. Antes de eu entrar na banda eu só cantava música erudita, então foi um desafio para mim. Eu não sabia que poderia cantar outros estilos, mas acabei me adaptando”, conta Mizuho.
A formação atual tem Sergio Mazul nos vocais guturais, a excelente, e bela, Mizuho Lin nos vocais líricos, Rodrigo Garcia no baixo, Sol Perez e Juliano Ribeiro nas guitarras, J. Augusto nos teclados e Welyntom Sikora na bateria.
As dificuldades do cenário underground
Manter uma banda no Brasil, sem o apoio de gravadoras, empresários ou da mídia é sempre uma batalha. “Hoje, na realidade brasileira, no que é popular no Brasil como música, é muito difícil você manter uma banda de metal em atividade. É complicado a mídia abrir espaço para um grupo com essas características”, afirma Sergio.
O música comercial, cada vez mais, toma por completo a mídia em geral, diferente dos anos 1980, quando o rock surgiu com força total tomando conta dos espaços disponíveis, com bandas sendo descobertas a cada dia. “Nós vivemos em um país em que o apoio da mídia e das grandes gravadoras vai para músicos de axé, sertanejo e pagode. O rock não tem uma atenção muito grande no Brasil e o metal menos ainda”, critica Sergio.
A decepção do Metal Open Air
Apesar disso, o grupo vem recebendo convites para se apresentar em vários estados do país. No último dia 7 eles foram convidados pela banda carioca Matanza para participar do Matanza Fest, que aconteceu na Sociedade Abranches, em Curitiba. No evento, a banda teve a iluminação de palco do artista plástico curitibano Gustavo Preto.
Mas um desses convites para shows seria de um festival que ficaria marcado como a maior vergonha da história do rock nacional. No último mês de abril eles seriam uma das atrações nacionais do Metal Open Air, que aconteceria em São Luís, no Maranhão.
A desorganização e a falta de estrutura, além da reclamação de boa parte das bandas envolvidas de não terem recebido dos produtores o cachê combinado, fez com que a Semblant não se apresentasse. Essa frustração, até hoje, não foi esquecida. “Foi uma das maiores vergonhas da cena rock/metal no Brasil. Nós podemos concluir que foi o maior desrespeito que organizadores incompetentes, e até mal intencionados, já tiveram com o público e com as bandas autorais dentro do cenário metal brasileiro”, enfatiza Sergio.
Curitiba, um celeiro do heavy metal nacional, mas com um público ausente
Curitiba sempre foi uma fonte de boas bandas, em vários estilos musicais. No heavy metal isso é ainda mais forte com uma linhagem que vem desde os anos 1980 com grupos como Hecatombe, Imperious Malevolence e A Tribute to the Plague, atual Archityrants, só para citar alguns.
A safra mais recente mantém a qualidade da música curitibana em alta, com bandas como o Division Hell, .50, Terrorzone, Fire Shadow, entre outras. Sem meias palavras, a capital paranaense é uma das mecas do cenário metálico brasileiro.
Apesar disso, o apoio do público que gosta de rock na cidade é mínimo. São poucos os que comparecem aos shows de bandas autorais ou que compram CDs, camisetas e produtos desses artistas.
Essa realidade é uma das grandes pedras no trabalho de qualquer grupo curitibano. Enquanto em outras cidades como Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo, os fãs valorizam e respeitam os artistas locais, em Curitiba isso raramente acontece. “Por que as pessoas dizem que as bandas autorais não são reconhecidas em Curitiba? Isso acontece 100% por causa de um público que não as valoriza devidamente”, critica Sergio.
O ciclo que deveria alimentar a produção dos artistas independentes na cidade não se fecha. Indo em um show o fã pagará o ingresso que será, ou deverá ser, revertido como cachê para a banda, que poderá, por sua vez, investir esse dinheiro na gravação de CDs, compra de equipamentos etc. “Só que, se não tem público e o produtor tem que pagar o artista do mesmo jeito, ele terá prejuízo e será obrigado a tirar do próprio bolso. Em outro evento talvez ele não chame as mesmas bandas, ou chame outras com um perfil diferente, e aí o cenário perde”, explica Sergio.
O vocalista enfatiza que não está generalizando o cenário curitibano, mas que a crítica é uma forma de conscientização. “O recado que a gente pode dar é para as pessoas apoiarem mais as bandas da sua cidade porque vocês estarão enriquecendo esse cenário como um todo”, finaliza.
MMA
Os membros da Semblant sempre tiveram uma ligação com o mundo da luta. O irmão da vocalista Mizuho Lin tem uma academia em Foz do Iguaçu, interior do Paraná, terra natal da cantora. O guitarrista Sol Peres pratica taekwondo e Sergio treina artes marciais.
Por conta disso, a Semblant recebeu um convite para criar a trilha sonora para um evento de MMA, o Xtreme Fighter, que foi realizado no último dia 8 de agosto, em Foz do Iguaçu. “Como os organizadores eram fãs da nossa música eles nos fizeram esse convite, perguntando se poderíamos compor uma música, com as características da nossa banda, para figurar como trilha sonora do evento. Como nós estávamos em plena pré-produção do nosso disco do ano que vem, a nossa energia musical estava muito forte e acabamos compondo essa faixa, tanto a letra quanto a produção no geral, focando nesse objetivo”, conta Sergio.
Os planos para 2013
A música estará no próximo CD da banda, o segundo full lenght, ainda sem nome definido, que será lançado em 2013. São 16 composições prontas das quais, aproximadamente, 13 serão escolhidas para integrar o CD.
A Semblant deve começar as gravações em março do ano que vem e ficar dois meses no estúdio do produtor Adair Daufembach, em São Paulo, lapidando as músicas. “Pela afinidade que criamos no nosso relacionamento inicial com ele, nós acreditamos que será um grande trabalho”, afirma Sergio.
Para o lançamento, o grupo está mantendo em sigilo um pré-acordo com uma gravadora para que a distribuição seja feita a nível mundial.
2012 foi um grande ano para a Semblant, e todos fazem questão de agradecer o apoio dos fãs. “Eu não tenho nem palavras suficientes para agradecer a atenção que o público tem dado à nossa banda. Os que comparecem aos nossos shows, que buscam o nosso material, que dão palavras de apoio, de força. Nós ficamos muito honrados de receber toda essa amizade e essa energia forte de todos”, agradece Sergio.
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Confira a entrevista completa em vídeo e duas músicas do show da Semblant no Matanza Fest, “11:11 The door is open” e “The undead”.
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