O Dorsal Atlântica, um dos nomes mais importantes da história do heavy metal brasileiro, está de volta. Em uma entrevista exclusiva para o Cwb Live, o vocalista e guitarrista da banda, Carlos Lopes, conta os fatos que levaram a esse esperado retorno, além de detalhes da carreira do mítico grupo carioca.
A banda foi formada no início dos anos 1980, no Rio de Janeiro. “Quando começamos, em 81, não havia cena de metal no Brasil. Trouxemos muitos elementos ao que se considera como metal brasileiro: as letras políticas e humanistas, uma forma inédita de compor e cantar, a pegada, o visual enfim, é uma longa história”, relembra Carlos.
Em 1985 o Dorsal lançou o split “Ultimatum”, ao lado do Metalmorphose. O disco teve uma tiragem de 500 cópias. Sem conseguir apoio na sua cidade natal, a banda foi procurar parceiros em São Paulo. “Um selo/loja de São Paulo nos prometeu mundos e fundos, mas qual não foi a nossa surpresa quando as prometidas ‘fartas horas de gravação’ foram substituídas por apenas 3 períodos de gravação e mixagem ou, em outras palavras, apenas 18 horas”, relembra Carlos. Em 1986 é lançado o álbum “Antes do fim” que é, até hoje, uma das maiores referências do rock nacional.
A capa do disco, uma foto mostrando 3 cadáveres feita por um amigo da banda, foi censurada, sob a alegação de que seria anti comercial. “A conhecida capa da caveira de olhos esbugalhados entrou em pauta porque, no último dia deles no Rio, pois o LP estava sendo gravado na cidade, nos foi dada a sentença: ‘Ou a capa aparece agora ou nós vamos decidir por nós mesmos em São Paulo!’. A solução foi pegar a minha camiseta pintada a mão. Decidimos que esta seria a nova capa”, conta Carlos.
A maioria das músicas do disco, como “Caçador da noite”, tornaram-se clássicos do metal tupiniquim. “Heavy metal era a sua Bíblia. Executar suas letras, o destino. Se for preciso matar, será o certo. Seguir o deus do metal e sua lei”, diz a letra.
O álbum vendeu, oficialmente, 3.000 cópias mas, segundo a banda, o disco teria vendido 10.000. Movidos pelo boom do rock, no Brasil, o Dorsal abre os shows de alguns dos primeiros grandes nomes do metal mundial a desembarcarem no país. “Esse disco, que vendeu milhares de cópias, e do qual não recebemos todos os direitos autorais, nos levou a vários estados brasileiros, coisa raríssima naquela época. Abrimos para as bandas Venom e Exciter, no ginásio do Maracanãzinho, em dezembro de 1986”, conta Carlos.
Seguiram-se os álbuns, “Dividir & Conquistar”, de 1988, trazendo mais alguns clássicos como “Metal Desunido” e “Tortura”, a ópera metal “Searching for the light”, de 1990, “Musical guide from stellium”, de 1992, “Alea Jacta Est”, de 1994 e “Straight”, de 1997.
A banda encerrou as suas atividades no começo dos anos 2000. “Nos separamos por questões pessoais e financeiras. É como uma casamento. Você deve ter lido que a maior causa de separação entre casais é a questão financeira. Uma banda é um casal de três, quatro, cinco…”, explica Carlos.
A volta do Dorsal
O convite para uma nova reunião da banda partiu dos produtores do festival Metal Open Air, que aconteceu em São Luís, no Maranhão, no último mês de abril. O evento mal foi realizado devido aos inúmeros cancelamentos por parte das bandas programadas. “A ideia de retorno aconteceu quando a produção do Metal Open Air, o festival no Maranhão que não ocorreu e que contava com um cast de dezenas de bandas fabulosas, nos convidou para fechar uma das três noites tendo, para a nossa abertura, as bandas Exodus e Anthrax. Percebi que era chegada a hora”, afirma Carlos.
A partir desse momento, o grupo começou a procurar formas de lançar um novo trabalho. A opção escolhida foi o site Catarse. Nele, os fãs podem ajudar, financeiramente, para fazer com que o CD seja gravado. A campanha de arrecadação vai até o próximo dia 10 de junho. “Os valores de contribuição cobrem todas as despesas relativas à gravação e prensagem do novo CD. O apoiador terá o seu nome impresso no encarte do digipack e, dependendo do valor do apoio, pode receber brindes que não serão vendidos depois da campanha, como a reedição da biografia “Guerrilha!”, revisada e com capa dura”, explica Carlos. Caso o valor necessário para a gravação do álbum não seja alcançado, o dinheiro será devolvido e a banda não gravará o CD. Até o momento, a campanha arrecadou R$ 21.120 dos R$ 40.000 almejados, pouco mais de 50% do valor necessário, doados por 194 fãs. O nome do novo trabalho ainda não foi definido pois está sendo realizada uma votação no perfil da banda no Facebook.
A formação do grupo será a mesma que gravou os LPs “Antes do fim”, “Dividir e conquistar” e “Searching for the light”, com Carlos Lopes no vocal e guitarra, Cláudio Lopes no baixo e Hardcore na bateria. “Quisemos, dessa forma, dar dois presentes aos fãs: um CD de inéditas gravado pela formação mais popular”, explica Carlos.
De acordo com o músico, a química entre os três não mudou, apesar do longo tempo de inatividade. “Foi perfeita. Somos pessoas diferentes que aprenderam muito nas últimas décadas. Não somos os mesmos de antes, mas há um elo muito poderoso que nos une como indivíduos e músicos. Não temos a mesma visão de antes mas, em compensação, hoje temos mais consciência do que podemos fazer e de quem somos, o que nos dá muito mais estofo em tudo o que fazemos”, diz Carlos.
Atingindo o montante que a gravação exige, a ideia é enviar o CD digipack pelo correio com o nome de cada apoiador no encarte. Serão 10 faixas inéditas que, segundo Carlos, farão uma mistura do som do Dorsal, Metallica, Discharge e da N.W.O.B.H.M, (New wave of British heavy metal, movimento surgido no final dos anos 1970, na Inglaterra, que revelou grandes nomes do metal, como o Iron Maiden). “O disco não será um trabalho de ‘crust’, como o ‘Straight’, nosso último álbum gravado na Inglaterra, e nem exatamente como os antigos. Será uma soma e uma evolução, sem qualquer traço de ‘modernidades’. Será um trabalho que honrará a tradição da banda e o compromisso e apoio dos fãs. Esse é um CD para os apoiadores, não para todos. Em algumas opções, o apoiador receberá, por via digital, 2 faixas bônus”, explica Carlos.
Segundo o guitarrista das bandas curitibanas Axecuter e Imperious Malevolence, Daniel “Danmented” Azevedo, ajudar nessa volta é quase uma obrigação dos fãs. “O Dorsal Atlântica fez parte da minha adolescência, cresci ouvindo discos como “Antes do fim” e “Dividir e conquistar”. Eles sempre honraram o metal nacional, e sempre terão meu respeito por isso”, comenta.
A repercussão dessa possível volta da banda aos estúdios, segundo Carlos, pode ser um divisor de águas no metal brasileiro. “Vitoriosa, ou não, essa campanha deixará marcas profundas. Em menos de duas semanas teremos que arrecadar o mesmo valor que arrecadamos em 30 dias. Não é uma tarefa fácil. É quase como ganhar um jogo aos 45 minutos do segundo tempo. Mas, seja qual for o resultado, estarei satisfeito, pois não consigo ver o mundo dividido entre vitoriosos ou derrotados”, afirma.
Caso a campanha tenha sucesso e o Dorsal retorne ao cenário do metal brasileiro, Curitiba deve ser um dos locais escolhidos para a turnê. “Há muitos anos não tocamos na cidade. Gostaríamos. Talvez, não me recordo bem, deveria consultar ‘os universitários’, o nosso último show como Dorsal deve ter sido em Curitiba, talvez um ano após o festival Monsters of Rock realizado no estádio do Pacaembu, em São Paulo”, relembra Carlos.
Após o fim do Dorsal Atlântica, Carlos continuou o seu trabalho como músico e jornalista. Ele participou do videodocumentário Global Metal, dirigido pelo antropólogo canadense Sam Dunn, que também acompanhou o Iron Maiden na turnê que passou por Curitiba, na saudosa Pedreira Paulo Leminski, em 2008, a “Somewhere back in time tour”, criou o grupo Mustang e escreveu o livro “Guerrilha!”, que conta a história do Dorsal. “Eu precisava de um grande motivo para voltar à banda e foi o apelo constante dos fãs. Agora nós estamos prontos, mas contamos com o apoio desses mesmos fãs que pediram a nossa volta por longos 12 anos. Deixei algumas escolhas pessoais de lado para atender a esses apelos”, desabafa.
O futuro da banda está nas mãos do seu público. A volta de uma das mais representativas forças do heavy metal, e um dos pioneiros do estilo, no país, está sendo decidida nessa campanha. “Deus disse que não destruiria Sodoma caso encontrasse dez homens justos. Estamos em 2012, a data do apocalipse. Nesse momento, o CD está nas mãos dos que não apoiaram. Nesse caso e, para variar, ‘poucos’ pagariam por ‘muitos’. O apocalipse é uma questão de tempo, ou não. Contamos com todos os apoiadores”, finaliza Carlos.
Para contribuir acesse o site da banda.
Confira o vídeo da campanha.
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