No dia 12 de setembro de 1975 era lançado “Wish You Where Here”, o 9° álbum de estúdio da carreira do Pink Floyd. Considerado um dos maiores discos da história do rock, ele foi cercado de turbulências durante toda a sua fase de gravação.
O trabalho tinha a nada fácil responsabilidade de manter a qualidade, e o sucesso comercial, de seu antecessor, o sensacional “Dark Side of the Moon” que, até hoje, vendeu mais de 50 milhões de cópias e permaneceu 741 semanas nas paradas da revista americana Billboard, entre 1973 e 1988.
O disco foi gravado no lendário estúdio Abbey Road, em Londres, na Inglaterra, pelo guitarrista e vocalista David Gilmour, o baterista Nick Mason, o tecladista Richard Wright e o baixista e vocalista Roger Waters. Em meio a brigas e desinteresse dos músicos na gravação do álbum, (não foram raras as ocasiões em que o Gilmour e Mason trocaram horas de estúdio por partidas de squash), ele foi surgindo discretamente como uma obra prima.
Além disso, o guitarrista, compositor e “guru” da banda , Syd Barrett, tinha sucumbido ao uso abusivo de LSD. Esse trauma marcou o Pink Floyd de forma tão dura e pesada que, até hoje, em entrevistas concedidas pelos ex-membros do grupo, é nítida a emoção quando falam do seu ex-companheiro.
Foi em meio a esse baque psicológico que os membros da banda seguiram em frente para gravar o álbum. O momento mais tocante do disco é a música “Shine on you crazy diamond”, “Brilhe diamante louco”, dedicada a Syd. Os versos de Waters criam uma imagem direta mostrando todo o problema enfrentado pelo amigo. “Você alcançou o segredo cedo demais. Você chorou para a lua. Brilhe, diamante louco. Ameaçado pelas sombras da noite, e exposto à luz. Brilhe, diamante louco”, canta Roger.
“Have a cigar” critica a falsidade dos produtores e donos de gravadora que, já naquela época, procuravam somente o sucesso e o dinheiro. “Entre garoto, pegue um charuto. Você vai longe. Você vai voar alto. Você nunca morrerá. Você vai conseguir isto, se tentar. Eles vão amá-lo”, diz a letra.
Em “Welcome to the machine”, Roger convidou o artista Gerald Scarfe para criar imagens que seriam usadas na execução da música durante os shows da turnê. Ironicamente, em uma espécie de visão do 11 de setembro, uma dessas imagens mostra duas torres prateadas sendo engolidas por um mar de sangue onde surgem mãos em posição de oração.
Curiosidades
A capa do álbum foi feita por Storm Thorgerson, o mesmo que criou a arte de “Dark Side of the Moon”. Storm acabou optando por uma imagem de dois homens em um aperto de mão, sendo que um deles está em chamas. O simbolismo diz respeito a gíria “me queimaram”, muito usada na época para explicar que uma pessoa teve o seu tapete puxado por outra no mundo musical, seja entre os artistas ou empresários. Nada muito diferente de hoje. Como, nos anos 1970, não existiam os recursos dos editores de imagem dos computadores atuais, a solução foi, literalmente, atear fogo em uma pessoa.
Em uma das sessões de gravação, alguém entrou sem permissão no estúdio Abbey Road. Demorou um bom tempo para a sua presença ser notada, pois ninguém deu muita atenção ao intruso. De repente, Gilmour perguntou ao baterista Nick Manson “Você sabe quem é ele?”. Nick deu de ombros e ficou a espera da resposta. “É Syd”, explicou David. O músico, careca, sem sobrancelhas e muito mais gordo, era um espectro do companheiro que os seus ex-colegas de banda se acostumaram a ver. Roger e David foram às lágrimas.
Em 2005 a banda voltou a se reunir, após 24 anos, para uma apresentação no Hyde Park, em Londres, durante o festival Live 8. Antes de “Wish you where here”, Waters comentou. “É um prazer tocar ao lado desses caras após tanto tempo. Estamos aqui pelos que já se foram, especialmente por Syd”.
Seria a última aparição do Floyd. Syd Barrett morreria em 2006 e Richard Wright em 2008.