Lenine é um daqueles talentos que só a música brasileira consegue produzir. Enraizado nos ritmos nacionais, o músico incorpora com maestria toda e qualquer influência que enriqueça o seu trabalho. No último dia 11 de março o Canal Bis exibiu o vídeo-documentário “Lenine – isto é só o começo” que retrata, com depoimentos de grandes nomes da MPB como Marcos Suzano, Lula Queiroga, Paulinho Moska e Pedro Luís, os 30 anos de carreira do artista.
Isto é só o começo
O convite para fazer o vídeo veio do produtor Bruno Levinson, do Canal Bis. “Fui vencido pela conspiração das datas. Não são apenas 30 anos de “Baque Solto”, meu disco de estreia ao lado de Lula Queiroga, em 1983, mas também os 20 anos do “Olho de Peixe”, parceria com Marcos Suzano, em 1993. Além disso, são 15 anos, completados no ano passado, de “O dia em que faremos contato”. São indícios de que 2013 seria, realmente, um ano para comemorações”, afirma Lenine.
Um dos pontos centrais do documentário, e da carreira do músico, é a mudança do Recife, sua terra natal, para o Rio de Janeiro, quando ele tinha apenas 20 anos. “Aconteceu por minha necessidade de aprofundar o que fazia e de estar perto da produção feita no país. Naquele momento existiam duas opções: Rio ou São Paulo. Minha ligação com o mar me trouxe para o Rio”, conta.
Álbuns e estilo de tocar
Ao falar da sua discografia, Lenine comenta com ênfase a trilogia “O dia em que faremos contato” de 1997, “Na pressão” de 1999 e “Falange Canibal” lançado em 2001. A importância dos três discos em sua carreira é vital. “Eu falo de trilogia porque na verdade, para mim, apesar de o primeiro ter sido produzido com o Chico Neves e os dois seguintes com o Tom Capone, eles dialogam entre si pelo tipo de relevo, sonoridades e misturas”, explica.
Lenine tem um estilo muito particular de tocar violão usando muito as notas mais graves do instrumento, de forma bastante percussiva. Segundo ele, essa forma de execução surgiu naturalmente. “Comecei a fazer um violão meio sujo que tem a ver com percussão de violão. O violão veio para suprir a minha carência e ausência dos outros instrumentos no momento da composição. Vivo impregnado de ritmo em tudo o que eu faço. Não tem regra. Cada canção tem uma história e não tem uma única mecânica”, diz.
A arte de criar
O processo de composição é uma coisa muito íntima de cada músico. Existem muitas formas de transpor uma ideia em melodias e textos. Lenine, além dos ritmos brasileiros, absorve várias influências. “Eu costumo dizer que, para compor, você precisa se impor um estado de alerta. Orelhada de morcego, tudo pode ser subsídio. É uma questão de atenção, de foco. É difícil por em palavras, mas você se impõe isso e estão intimamente ligados o trabalho e o prazer”, revela.
Alguns artistas consideram que escrever canções é quase um ato mediúnico onde o compositor é apenas um receptor da mensagem. “Existem canções que não precisam de nada, já nascem prontas e você foi só uma antena para isso. Retrato isso em uma música do ‘Chão’ chamada ‘De onde vem a canção’. A viagem está no preparar, no não estar apontado para nada”, explica.
O caldeirão sonoro de Lenine abriga várias vertentes da música. Os ritmos brasileiros, a incorporação de novas tecnologias, tudo isso passa pelo processo de composição do compositor. “Minhas influências musicais foram muitas e de origens diversas! Do Zeppelin ao Zappa, passando pelo Police, o rock foi a matriz. Sempre fui muito curioso e continuo sendo. Ando ouvindo em demasia Posada e o Clã, Toe e Rua do Absurdo, muito bom!”, afirma.
Além de compor e interpretar suas músicas, Lenine também produz os seus trabalhos. “Antes de qualquer outra profissão eu sou compositor e, como tal, adoro os encontros, são eles que alimentam a minha vida! Por decorrência deste exercício, fui ampliando a área de atuação, passei a arranjar, gravar e produzir parte do que eu compunha. A possibilidade de me envolver em todos os processos que produzem música foi o que me levou a estar aqui”, explica.
Atualmente, o cenário musical brasileiro não coloca em evidência os grandes artistas que possuem consistência e qualidade em suas obras. João Bosco, Milton Nascimento, Chico Buarque, todos eles perderam espaço na mídia de massa para os “artistas do momento”. Essa realidade parece não preocupar Lenine. “Não há incômodo. A música brasileira sempre teve uma amplitude muito grande e o fato é que o Brasil é um continente que comporta infinitas formas de expressão. O que posso dizer é que, para mim, 50 por cento do trabalho é música e os 50 restantes são as palavras”, analisa.
O músico embarca para a Europa, em maio, para uma turnê que passará por Holanda, Alemanha, Espanha e Portugal. Curitiba, entretanto, faz parte da carreira do cantor. “São shows sempre muito especiais! Sempre que volto à cidade sou muito bem recebido! Cheiro carinhoso e sonoro!”, finaliza.
Confira duas músicas da apresentação de Lenine no Lupaluna 2012. “Paciência” e “A Ponte”.
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