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Manter um trabalho com qualidade, após mais de 25 anos de estrada, é uma proeza que poucos artistas conseguem. A banda gaúcha Nenhum de Nós mostrou, na última sexta-feira 25/5, no Master Hall, em Curitiba, que o tempo serviu para “maturar”, ainda mais, o som do grupo.

O NDN teve início em 1986, na cidade de Porto Alegre, formado por Thedy Corrêa no baixo e voz, Sady Homrich na bateria e Carlos Stein na guitarra. O disco de estreia foi lançado um ano depois. Batizado, apenas, com o nome da banda, o debut logo despertou o interesse do público, devido ao estrondoso sucesso da música “Camila, Camila”. O álbum seguinte, “Cardume”, de 1989, trazia outra música que foi muito executada pelas rádios, “O astronauta de mármore”, versão de “Starman” do camaleão David Bowie.

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A partir destes dois discos, o grupo passou a fazer parte do cenário do rock nacional, que começava a tomar conta, de forma definitiva, das rádios e TVs no país.

Na apresentação da última sexta-feira, a banda entrou no palco ao som de “Corrente”, do disco “Contos de água e fogo”, o 14º de sua carreira, lançado no ano passado. Na sequência, entre outras canções, vieram “Primavera no coração” e a versão do grupo para “Segredos”, do cantor Frejat. Em um presente para os fãs curitibanos a banda tocou a música “Extraño”, do disco homônimo lançado em 1990, raramente executada nos shows do NDN.

Um dos mais belos momentos do show foi a canção “Um girassol da cor de seu cabelo”, clássica e essencial música do Clube da Esquina, (conjunto, na verdade uma reunião de amigos, formado nos anos 1960, em Minas Gerais, que contava com Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges entre outros grandes músicos e letristas que depois se consagrariam na MPB). Gravada como uma homenagem ao grupo mineiro, ela fez tanto sucesso que passou a frequentar o repertório dos shows do Nenhum de Nós. “Aconteceu com ela o que é o nosso sonho maior, como banda: essa música começou a fazer parte da trilha sonora da vida de muitos de vocês”, comentou Thedy ao anunciar a canção.

A iluminação do show é um caso à parte. Normalmente, os artistas não se preocupam muito com a luz em seus espetáculos. Talvez a primeira banda a realmente dar importância para esse item tenha sido o RPM, nos anos 1980, como o show “Rádio pirata ao vivo”, dirigido pelo cantor Ney Matogrosso. “A luz do show do RPM foi uma das melhores que já fiz. Tinha fumaça de gelo seco, fumaça de máquina, fumaça com água fria, fumaça com água quente, laser e o neon na borda do cenário parecia fazer o palco decolar de cena”, relembra Ney em seu site oficial. No show do NDN, a iluminação cresce de acordo com o clima das músicas, acrescentando uma boa dose de dramaticidade às canções.

Curitiba tem um lugar cativo nas turnês do grupo. A relação da banda e, principalmente, a do vocalista Thedy Corrêa com a capital paranaense, é antiga. A primeira apresentação do Nenhum de Nós na cidade foi em 1987, no antigo bar Berlim. “Era um lugar ‘mega alternativo’. A gente tocava em um subsolo”, relembrou Thedy em uma entrevista exclusiva para o Cwb Live, após o show no Master Hall. Em 1988 o grupo tocou no ginásio do Círculo Militar, ao lado dos grupos Ira!, Replicantes, Defalla e Mulheres Negras, no aniversário de 2 anos da mítica e saudosa rádio Estação Primeira. “Eu tenho família aqui, então eu venho para cá fora do período de trabalho, o que é uma coisa legal porque eu gosto muito da cidade”, explicou.

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Duas pérolas do repertório do grupo foram guardadas para o bis. “Camila, Camila” e “O astronauta de mármore” foram levadas pelo público como hinos da geração 80.

“A revolução está nas palavras”

A frase de Thedy Corrêa, fechando a entrevista para o Cwb Live, resume bem o pensamento da banda. O que mais chama a atenção na música do Nenhum de Nós são os temas das letras. Elas abordam muito a relação entre pessoas, mas também alguns assuntos difíceis de falar. Segundo o vocalista, o texto das músicas é uma parte importantíssima no som do grupo. “Isso é fundamental! A gente surgiu com essa ideia, tanto que o nosso primeiro sucesso é ‘Camila, Camila’, que é uma música que fala de violência contra a mulher, sobre abuso”, relembrou.

Poucas pessoas sabem que a canção foi escrita com essa intenção. “Na semana passada ela foi tema de uma campanha contra o abuso, passados 25 anos. Ela é um emblema do que é a preocupação do Nenhum de Nós com o conteúdo”, afirmou Thedy.

Ao contrário do que muitos pensam, letra e música se fundem para fazer uma boa composição. Em tempos de “Ai se eu te pego”, na música brasileira, é muito bom saber que ainda existem grupos que se preocupam com o que vão passar para o seu público.

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Confira a entrevista exclusiva com o Nenhum de Nós e 3 músicas do show.

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