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Reportagem especial – Picassos Falsos, a história de uma lenda do rock brasileiro – Parte final
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Rui Mendes
Picassos Falsos, a volta da boa música brasileira

Os novos tempos

O cenário brasileiro mudou muito em relação aos anos 1980, 1990. Hoje, a internet é uma ferramenta poderosíssima para a divulgação de novas bandas por meio do Myspace, Youtube, Facebook, Twitter e outros canais. “O CD, já há alguns anos, principalmente para os novos artistas, é apenas um cartão de visita. Sua força como mídia de mercado acabou. A internet foi, e é, muito importante para música. Democratizou o acesso e a divulgação, ajudou a tirar o poder das grandes gravadoras, que monopolizavam o mercado e faziam uma grande farra com o nosso dinheiro enfim, tudo bem, todos concordam com isso. Mas o chato é que hoje o cara manda dez e-mails antes de pegar no telefone e falar com alguém”, comenta Humberto. Essa dependência que o ser humano desenvolveu acaba quebrando uma relação mais direta entre as pessoas, segundo Humberto.”Está tudo muito web. Acho que a internet tem que ser repensada na nossa vida. Assim como ainda é um grande problema para quem vive de direitos autorais”, critica.

Para o guitarrista Gustavo Corsi, a rede mundial de computadores ainda não possui uma forma definida. “Eu sou fã da internet e de todas as transformações que ela não para de trazer. Hoje consome-se música de uma forma diferente. Faz-se música de uma forma diferente e não consigo ter um julgamento preciso. Não acho melhor nem pior do que foi quando eu era moleque. Vejo um número enorme de vantagens e desvantagens na quebra da indústria da música. Estou sempre esperando o que vai acontecer depois de amanhã”, comenta.

O mito

Tudo que vira excessivamente “popular” acaba saturando os ouvidos do público. O Picassos Falsos sempre foi um banda “cult” pois só os que buscavam a música fora da grande mídia, que pesquisavam em “sebos”, que ouviam rádios que fugiam do padrão “paradas de sucesso”, como a lendária Estação Primeira, 90.1 FM, em Curitiba, conheciam o grupo. Ironicamente, esse distanciamento do mainstream alimentou, ainda mais, a reputação da banda como uma das melhores do rock nacional. “O fato de não sermos muito conhecidos do grande público favorece este culto de quem é mais interessado em música e coisas mais ‘alternativas’, ‘autênticas’, e uma série enorme de sinônimos. Mantivemos, até por que não fizemos sucesso, um certo prestígio. Entre meus colegas, no meio musical, há bastante respeito até hoje”, explica Gustavo.

Alguns fatos, na história da banda, se tornaram históricos para os músicos, como a gravação da música “Bam ba la lão”. Em 1986, após gravar um fita demo que não satisfez a banda, eles resolveram entrar novamente em estúdio, desta vez no Casablanca do baterista Charles Chalegre. Alvin L, que era amigo do grupo, se ofereceu para fazer a produção. As músicas escolhidas foram “Quadrinhos” e “Idade Média”. O que aconteceria, a partir daí, fica no hall daquelas “coincidências”, ou não, que acontecem na vida das grandes bandas. “Gravamos as duas canções, estávamos satisfeitos e, em cima da hora para acabar a sessão, o Alvin, que havia assistido um ensaio dias antes, pediu: ‘Toca aquele que fala alguma coisa de bam ba la lão, meu coração, sei lá. Uma lenta e meio etérea que eu ouvi no ensaio’. Nós identificamos que era ‘Carne e osso’, uma das nossas primeiras composições coletivas e, quando começamos a tocar, ele sentenciou: Grava!”, relembra Gustavo.

A música foi gravada quase de primeira, coisa rara em um estúdio pois, cada instrumento, cada passagem é feita separadamente, sempre corrigindo os erros até ficar o mais próximo possível da perfeição. “Fizemos em um ou dois takes. O próprio Alvin sugeriu e dobrou, com o Humberto, um corinho no final que ficava repetindo ‘o meu coração, o meu coração’ e assim ficou”, conta Gustavo. Poucos dias depois de finalizada, a banda levou a fita demo para a rádio Fluminense FM, em Niterói. “Entregamos a fita lá e pegamos a barca de volta para o Rio. Quando chegamos em casa, na Tijuca, cerca de duas horas depois, já havia uma ligação da rádio. Queriam gravar um programa com a gente no dia seguinte”, diz Gustavo. A Fluminense apresentava essas fitas demo em um programa especial e, só depois de passarem por essa “aprovação”, elas entravam na programação diária. “Nós fomos a primeira banda na história da rádio que teve uma demo entrando direto na programação oficial com três canções. Foi muito bacana”, lembra Gustavo.

Um ano e meio depois, já com o seu primeiro disco lançado, “Carne e osso” era escolhida como a canção de trabalho pela gravadora RCA, para espanto de todos na banda. “Sempre achei muito interessante o fato de que eu, todos nós, na verdade, achavávamos aquela canção muito torta, muito erradinha, sem uma harmonia formal, sem guitarra base, muito ruído. Ela tinha um formato que eu achava muito transgressor e, por iniciativa do Alvin, parou na demo aos 47 do segundo tempo, fez um relativo sucesso na Fluminense FM e acabou sendo música de trabalho”, relembra Gustavo.

A canção talvez tenha sido a mais conhecida do Picassos Falsos. “Tocou no país inteiro. Sempre achei uma loucura. Alguns anos antes, na faculdade, quando sabiam que eu era guitarrista e pediam para ouvir alguma coisa, eu botava ‘Carne e osso’ logo de primeira e me divertia vendo a cara contrariada das pessoas. Olha no que deu”, brinca Gustavo.

A notícia que todos esperavam: O retorno do Picassos Falsos

Já no fechamento desta matéria, o guitarrista Gustavo Corsi deu a notícia que todos queriam ouvir, com absoluta exclusividade para o Cwb Live. A banda está ensaiando um novo retorno, em breve. “Já voltamos a tocar juntos. Estamos reunindo fragmentos e ideias de repertório e colocamos na cabeça que, mais cedo ou mais tarde, não há como prever, o Picassos lançará um novo trabalho que, hoje em dia, não dá nem para afirmar que será um disco. Podem ser alguns registros, um EP, um single enfim, não temos nada formatado a não ser a ideia de que a banda vai ‘acordar’ de novo”, revela.

O trabalho, no momento, é reunir tudo que foi feito nesses quase 30 anos de banda e planejar, com calma e segurança, essa nova volta. “Estamos fazendo, já há algum tempo, um levantamento de um enorme material que temos registrado. Uma infinidade de gravações de shows, de demos, de jams, ensaios, algumas muito raras. Acho pouco provável que exista interesse neste material mas, quem sabe. Pode ser que um ou outro, dos quase vinte e um fãs que temos espalhados pelo Brasil, queira ouvir isso. Já há algumas possibilidades de shows por aí. Estamos indo com muita calma. Vamos ver o que acontece. 2013 é um ano importante para nós. O ‘Supercarioca’ fará 25 anos. Adoraríamos celebrar isso ao vivo”, conta Gustavo.

“A banda foi sempre muito bem recebida, seja no Rio ou em outros estados. Ouvindo o que se faz hoje, acho que ainda temos um lugar para ocupar, vamos ver”, diz Humberto. O Picassos Falsos é um gigante adormecido que possui um lugar cativo, tranquilamente, em qualquer cenário musical que o Brasil apresente.

Confira dois clássicos da banda, “Retinas” e “Rio de janeiro”, postados pelo guitarrista Gustavo Corsi em seu canal no Youtube.

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