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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica centralizada

2022: O Ano de Início da Nova Ordem Internacional

A crise na Ucrânia está gerando uma total mudança da ordem internacional (Foto: The Quint)

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Hoje foram retiradas todas as dúvidas restantes sobre o que realmente está em jogo no mundo agora. A decisão do governo norte-americano de interromper a compra do petróleo russo trouxe respostas definitivas. Por mais estarrecedor que possa parecer, o governo de Washington decidiu compensar a nova carência com solução mirabolante de importar o produto de seus maiores desafetos, Venezuela e Irã, numa mudança completa do cenário geopolítico internacional.

Ficou claro que o governo americano não tem interesse nenhum em ver o preço internacional do petróleo recuar. Muito pelo contrário. O presidente Joe Biden poderia ter resolvido o problema por meio da simplesmente revogando a suspensão de novas concessões federais para petróleo e gás. Entretanto, preferiu recorrer aos inimigos (na verdade, o mundo começa duvidar se essa “inimizade” não seria apenas uma fachada). Num momento em que a gasolina atinge patamares históricos, Biden escolheu deixar a crise energética internacional ainda mais severa. Seria isso incompetência ou um movimento proposital? Talvez a decisão represente uma espécie de “incompetência dolosa”, proposital, cínica.

O país mais poderoso do mundo decidiu fazer o sistema global passar a uma nova fase, em direção e uma conjuntura completamente nova. Sabemos que a Rússia é grande exportadora mundial de commodities (petróleo, gás natural, trigo e milho, entre outros). Retirar de Moscou esse status é colocar o planeta diante do risco de uma severa crise energética e alimentícia. E parece que Washington preferiu, com o argumento de “derrotar Putin”, derrubar toda a economia global, que ainda tentava recuperar-se das consequências da crise sanitária global iniciada em 2020. Teria Biden escolhido uma estratégia de “terra arrasada”? Talvez sim. Contudo, pode haver um interesse mais profundo na instauração proposital do caos.

Ao mesmo tempo em que os EUA decidiram esquecer subitamente todas as sanções impostas à Venezuela e ao Irã, parece que a implementação de uma nova crise serve ao que Klaus Schwab chamou de “Grande Reset”, a saber, a ideia de criar um mundo, mais “saudável, justo e próspero”. Ou seja, uma reforma do capitalismo, tornando-o mais justo e igualitário. Se para Schwab a crise sanitária representou uma “rara mas estreita janela de oportunidade” para redefinir o mundo, as últimas decisões parecem indicar que a crise na Ucrânia chegou como a ocasião para consolidar tais mudanças.

Enquanto os países exportadores de petróleo lucram com o preço cada vez mais robusto, a humanidade terá que lidar com alimentos e combustíveis ainda mais caros. Isso cria o cenário perfeito para implementar uma última transformação restante: a mudança da reserva de valor global. Enquanto o mundo ainda tenta entender como Biden impedirá um combustível ainda mais caro para sua população, ele anunciou que, em breve, fará uma declaração relacionada à regulamentação de moedas digitais.

Enquanto alguns analistas acreditam que o novo plano terá como alvo o bitcoin, outros arriscam dizer que, na verdade, será feita a inauguração do Fedcoin, ou seja, o dólar digital. Diferente das criptomoedas descentralizadas, o Fedcoin é um exemplo de CBDC, ou seja, as moedas digitais dos bancos centrais. Anunciadas como uma maneira de monitorar tudo que é comprado e vendido, como instrumento para extinguir os crimes financeiros, outros entendem que este seria o maior pesadelo em termos de liberdades individuais, uma vez que daria ao governo não apenas a capacidade de saber tudo que todos estão fazendo com seu dinheiro, mas também de interromper transações por alguma razão. Viabilizaria o sonho de todo tirano: o controle total, o crédito social e o adestramento de toda a sociedade. Quem não agir segundo os preceitos do sistema, poderia ser automaticamente “cancelado”. Seria a universalização de um modelo semelhante ao já praticado em território chinês.

Imagino que nenhum ocidental aceitaria conceder voluntariamente um poder tão grande ao Estado. Por isso, a ferramenta necessária para viabilizar uma mudança como essa é o medo, uma vez que, através dele, as pessoas são impelidas e renunciar a suas liberdades em troca de segurança. Quanto maior o medo, maior a disposição de acolher propostas que seriam completamente inaceitáveis em condições normais.

É um cenário bem sinistro. Mas o mundo se transformou em algo sinistro. Caso duvide, pergunte a um ucraniano.

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