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Numa entrevista recente no canal Stansberry Research, o economista Dave Morgan, especialista em metais preciosos, traçou uma linha entre as mais diversas estranhezas que estão sendo anunciadas como características do novo mundo prometido pelo Fórum Econômico Mundial e os proponentes do Grande Reset.
Para Morgan, o conflito atual é, no final das contas, uma disputa eminentemente comercial. Um duelo sobre quem será o líder do novo sistema monetário internacional que está imposto sobre toda a humanidade. E a tendência é que esse modelo internacional tenha ativos reais como lastro para sua nova moeda, como metais preciosos e demais commodities produzidas pelos países. Este, pelo visto, é exatamente o objetivo de Putin, que busca vincular o rublo ao petróleo e gás russos, exigindo que a compra desses importantes produtos seja paga em sua moeda local. Seria uma espécie de substituição do Petrodólar pelo Petrorublo.
Mas não apenas isso. Vai muito além de uma estratégia para contornar as sanções ocidentais e fortalecer a moeda russa. Moscou descobriu o ponto fraco do inimigo. Identificou uma maneira de abalar as estruturas da atual conjuntura econômica global comandada pelos Estados Unidos, que impõe um sistema monetário baseado no crédito, ou seja, no endividamento de seus parceiros comerciais e na posterior cobrança de elevadas taxas de juros.
A tática de Putin é usar a cadeia de valor como instrumento de defesa. Isso porque, ao contrário do que muitos imaginavam, a Rússia não está vendendo suas reservas de ouro para contornar os prejuízos com as sanções e financiar o conflito na Ucrânia. Moscou está, na verdade, fazendo exatamente o contrário, comprando ouro intensamente e vinculando sua moeda ao metal precioso, o que não apenas salvou o rublo da total ruína planejada pelas sanções ocidentais, mas criou um sistema que pode arruinar as bases do modelo norte-americano.
Antes guerra na Ucrânia, 80 rublos equivaliam a um dólar. Com as sanções, a proporção passou de 160 para 1, uma desvalorização sem precedentes para a moeda russa. Entretanto, com a exigência de pagamento em rublo para o petróleo e gás comprado pelos europeus, a disparidade caiu rapidamente para 140 e, logo em seguida, passou abaixo dos 100 por 1. Contudo, com a compra intensa de ouro e a decisão de vincular o rublo ao metal, hoje temos a impressionante informação de que, mesmo com as sanções, a moeda de Moscou já está sendo cotada abaixo de seu patamar anterior ao conflito em Kiev.
Hoje, a população russa não precisa mais se desfazer de sua moeda e correr atrás de outra mais forte por receio de perda de valor. Esse cenário enfraquece o dólar e abre uma vantagem para o rublo. Além disso, com o anúncio de que a Arábia Saudita começaria a aceitar a moeda chinesa para a venda do petróleo, termina um dos últimos elementos da força da moeda norte-americana, o petrodólar. Por outro lado, Moscou já ofereceu à China a opção de pagar por suas matérias-primas em yuan, assim como deu à Turquia a opção de saldar suas compras em liras. Num mundo em que cada país pode fazer compras internacionais em sua moeda local, inclusive petróleo, para que precisariam do dólar? Seria este o fim da moeda americana como reserva de valor global? Muitos especialistas acreditam que sim.
Diante deste cenário, causa estranheza o fato de os EUA não conseguirem perceber que as sanções estão, ao contrário do previsto, ajudando Moscou e prejudicando os próprios norte-americanos. Parece que Washington está propositalmente contribuindo para a diminuição do poder do dólar. Mas não é isso. O topo do comando americano sabe que o dólar já estava com os dias contados. Eles sabem que o atual sistema monetário baseado em crédito, dívida e juros não poderia funcionar eternamente. Isso porque não é possível imprimir moeda eternamente. Uma hora a conta chega, e eles já sabiam disso. As pandemia, a guerra e as sanções apenas aceleraram um processo que já estava em curso.
Neste cenário, Washington tem algumas opções. Poderia, assim como Moscou, tentar lastrear novamente o dólar ao ouro, o que seria muito difícil tendo em vista o volume sem precedentes de moeda impressa. Entretanto, e se fosse um novo tipo de dólar, numa versão digital? Infelizmente, parece que esta é a opção que eles estão preferindo. Hoje, já existem mais de 100 países no mundo que estão planejando substituir suas moedas nacionais pelos CBDCs (Central Bank Digital Currencies), as moedas digitais dos bancos centrais.
Nove desses países já implementaram suas CDBCs. A China está liderando este processo, com mais de 100 milhões de pessoas já utilizando sua moeda digital. Isso é um pesadelo para os amantes da liberdade. Literalmente o fim da privacidade, uma vez que permite o total monitoramento das atividades individuais e abre caminho para a implementação do funesto sistema de crédito social. O dinheiro sempre foi controlado, mas havia uma margem de manobra, como o dinheiro físico. Entretanto, eles agora estão retirando essa opção também.
O governo Biden já ordenou o início dos estudos para a implementação do Fedcoin, a moeda digital do Banco Central americano. Porém, para Dave Morgan, antes dos bancos centrais implementarem suas CDBCs, será necessário criar um sistema digital de identificação único nacional. Nele, a confirmação será feita por meio do DNA individual. Para fazer todas as transações online, será necessário realizar essa validação da identidade. E para justificar um sistema tão rígido de reconhecimento online, Morgan acredita que isso acontecerá após uma ofensiva cibernética massiva, que será usada como sesculpa para acabar com o anonimato online. Isso tudo, exatamente nos moldes do que o Fórum Econômico Mundial tem chamado de “Cyber Polygon”, ou “Polígono Cibernético”, tema que tenho abordado aqui em minhas colunas desde o ano passado.
Provavelmente, segundo Morgan, a culpa da ofensiva cibernética será colocada em Moscou, o novo bode expiatório global. Tudo um grande teatro, para a implementação de um poderoso sistema de controle vertical, comandado de cima pra baixo.
Concluímos, portanto, que ambos os lados estão lucrando com a miséria alheia. Moscou tendo o contexto necessário para se desvincular completamente do sistema ocidental, e o EUA aproveitando a queda do dólar para substituí-lo pelo onipresente Fedcoin. Por isso, tenha minhas dúvidas se estamos diante de uma jogada de mestre de Putin ou de uma jogada ensaiada com o “deep state” atlântico.