Joe Biden está cada vez mais se confirmando como um agente do caos. Marx ficaria muito feliz, uma vez que, conforme explica no último parágrafo de seu “Manifesto”, os objetivos por ele traçados somente poderiam ser atingidos por meio da “derrubada violenta de toda a ordem social vigente”. Mais ou menos o que está acontecendo no Afeganistão neste exato momento. Aparentemente, Biden teria cometido um grande equívoco. Mas, o que muitos não percebem, é que o caos é terrível para o cidadão comum, porém muito lucrativo para os controladores do mundo.
Com o desastre ao realizar uma retirada abrupta das tropas americanas do Afeganistão, Biden conseguiu algo que nem Trump sonhou: ele uniu o país, ou seja, passou a ser criticado unanimemente por todos, tanto pela esquerda quanto pela direita. Provavelmente, o democrata se colocou num buraco difícil de sair. Podemos interpretar tudo isso como um grande erro estratégico de sua parte. Eu prefiro arriscar que tudo foi muito bem planejado, até a parte que aparentemente deu errado. Explico.
Quando os EUA atuavam como “xerifes” do mundo, interferindo diretamente no destino das mais diversas nações, intelectuais e especialistas criticavam a postura de Washington, denunciando o “imperialismo americano”, que se pretendia dono do planeta. Porém, quando Trump assumiu o poder e afirmou que traria de volta as tropas espalhadas pelo mundo, os mesmos intelectuais reclamaram, dizendo que o fim da Pax Americana seria desastroso, pois permitiria a reinstalação do caos nas regiões mais frágeis. Quem olhou esse debate ficou confuso. A presença de soldados norte-americanos trazia o caos, mas sua ausência também produzia o mesmo efeito? A incongruência lembrava o “duplipensar” de Orwell, aquela estratégia para confundir as mentes, fazendo o público aceitar passivamente duas verdades conflitantes sobre um mesmo assunto, como se não houvesse nenhuma discordância entre elas. Talvez seja exatamente isso.
A discussão escondia um componente visceral da história: não apenas o caos no Oriente havia sido, em parte, criado pela própria gestão americana, mas isso era uma constante na história. Os impérios sempre utilizaram a estratégia de proxy wars, ou seja, as “guerras por procuração”. Em vez de invadir um povo inimigo, a ideia era utilizar grupos insurgentes locais para fazer o “serviço sujo”. Dessa maneira, os “contratantes” economizavam recursos e evitavam os desgastes com o boots on the ground (“botas no solo”, ou seja, uma invasão direta). Porém, em geral, sempre que se financia, treina e organiza um exército estrangeiro para trabalhar “terceirizado”, eles acabam se achando fortes demais, e se voltam contra o seu criador. Foi assim com Saddam Hussein (levantado para conter a Revolução Iraniana), com Bin Laden (treinado para expulsar os russos do Afeganistão) e até mesmo Hitler (financiado para frear o avanço do comunismo soviético). Para um exemplo mais recente, veja o caos que se sucedeu à Primavera Árabe, que não teria acontecido sem o encorajamento dos EUA.
Você, então, pode pensar: “por que os americanos sempre cometem o erro de levantar grupos para fazer o ‘serviço sujo’ local já que, logo depois, esses exércitos se voltam contra eles?”. Na verdade, é um erro muito conveniente. Isso porque, num primeiro momento, os insurgentes terceirizados resolvem o problema local. Depois, eles mesmo se transformam num novo problema, que justifica a liberação de mais uma tonelada de dólares para financiar um novo conflito. Infelizmente, a guerra é um dos mercados mais lucrativos do mundo, não apenas com a venda de armas, aviões e navios, mas em virtude da possibilidade de dominar recursos locais preciosíssimos, como o petróleo. Eu não ficaria surpreso se, daqui a algum tempo, o Talibã se tornasse tão forte que justificasse uma nova empreitada americana no Afeganistão, perpetuando o ciclo de conflitos tão importante para alimentar o poderoso Complexo Industrial-Militar, cada vez mais influente nos rumos da política externa norte-americana.
“Ah, mas essa atitude queimou muito a imagem de Biden”. Mas não seria essa sua função? Ser o para-raios de todos os problemas, o bode-expiatório dos desmandos e erros mais grosseiros? Talvez ele esteja desempenhando plenamente seu papel: criar o caos necessário para alimentar o insaciável Complexo Industrial-Militar, faminto após quatro anos de certa abstinência durante a gestão anterior. E, depois disso, afundar o dólar, por meio da impressão desenfreada da moeda. Marx ficaria feliz.
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