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Joe Biden defendeu o aborto, criticou o porte de armas e falou sobre as guerras
O presidente dos EUA Joe Biden.| Foto: EFE/EPA/SHAWN THEW / POOL

Quando Joe Biden pediu à Ucrânia para que parasse de atacar refinarias de petróleo na Rússia, o leitor desavisado poderia ser levado a acreditar que este seria um ato nobre, uma tentativa de evitar a guerra e lutar pela paz. Mas, infelizmente, não se trata nada disso. É uma postura, na verdade, egoísta. E a atitude está no centro de uma sinuca em que se encontra o chefe do país mais poderoso do mundo. Explico.

Uma matéria recente do Yahoo Finance trouxe um título bem elucidativo: “Biden is getting antsy about rising gas prices” (ou seja, “Biden está ficando ansioso com o aumento dos preços da gasolina”). A matéria ressalta que o preço da gasolina tem subido muito nos últimos meses, o que levou a popularidade do presidente americano a atingir um recorde de baixa, inferior aos 40%. Embora os preços do combustível tenham permanecido moderados em 2023, após o início do conflito em Israel os valores voltaram a subir, prejudicando o objetivo de Biden de conseguir um segundo mandato.

A situação de Biden está ficando ridícula, uma vez que ele está precisando recorrer, inclusive, a uma ajuda da própria Venezuela para aumentar a quantidade de petróleo disponível.

A ansiedade de Biden começou a aumentar quando a Ucrânia passou a atacar refinarias de petróleo e infraestruturas energéticas na Rússia. Isso porque a atitude pode gerar uma redução do volume de petróleo no mercado global e aumentar ainda mais o preço da gasolina nos EUA, afundando, assim, ainda mais a popularidade do presidente americano. Ao mesmo tempo, Biden tem sido incapaz de conseguir a liberação de 60 bilhões de dólares adicionais em ajuda para Kiev, o que não apenas colocou Zelensky numa situação muito frágil, mas o mundo inteiro. Com a negativa da ajuda americana, a França está comandando uma espécie de esforço para que a OTAN passe a ajudar diretamente a Ucrânia, enviando homens para o campo de batalha. Putin já disse que, caso isso aconteça, os países envolvidos podem virar alvo dos ataques de Moscou. Aqui mora o perigo, uma vez que, segundo o artigo 5º do estatuto da OTAN, se um dos países for atacado, os demais precisam entrar na briga para ajudá-lo. Esse cenário significaria, na prática, uma 3ª Guerra Mundial.

No meio dessa confusão toda é como se os EUA dissessem para a Ucrânia: “Nós não poderemos ajudá-los, enviando os 60 bilhões, e vocês também não podem ajudar a si mesmos, atacando refinarias e infraestruturas energética russas”. É óbvio que Zelensky não ficou nada feliz com essa situação. Isso o levou a usar seu chanceler a fazer uma espécie de “chantagem” a Biden, dizendo: “Se vocês não encontrarem uma maneira de liberar os 60 bilhões de dólares para nós, iremos continuar bombardeando refinarias russas, elevando o preço do petróleo e atrapalhando o projeto de Biden de ter um segundo mandato”. É uma situação complicada.

Parece que o dilema de Biden começa a ganhar hoje uma luz no fim do túnel. Isso porque que Mike Johnson – o presidente da câmara dos EUA que estava segurando a liberação dos 60 bilhões de dólares para a Ucrânia – está cedendo à pressão para conceder os valores. Ontem (16), Johnson apresentou um projeto para liberar projetos de lei que liberem os recursos não apenas para a Ucrânia, mas também para Israel e Taiwan. O problema é que isso gerou uma reação ferrenha de um setor mais trumpista da Câmara. Os deputados Marjorie Taylor Greene e Thomas Massie estão defendendo uma moção para que Johnson renuncie a sua posição de presidente da Câmara. Outra atitude de Johnson que irritou os republicanos foi ter colaborado com os democratas para renovar a Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira, que permite ao governo dos EUA “espionar” as pessoas em busca de indícios de atos terroristas.

A situação de Biden está ficando ridícula, uma vez que ele está precisando recorrer, inclusive, a uma ajuda da própria Venezuela para aumentar a quantidade de petróleo disponível no mercado global, numa tentativa de reduzir o preço da gasolina nos EUA. Em outubro do ano passado, Maduro recebeu de Biden um alívio de sanções que limitavam a venda de petróleo venezuelano. Mas o benefício estava vinculado a algumas condições que o governo de Caracas precisaria cumprir. Porém, mesmo não cumprindo com o combinado, Biden está mantendo a regalia a Maduro, o que revela a situação de fraqueza e desespero do chefe da Casa Branca.

O desespero de Biden é aumentado também pela decisão da OPEP (a Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de cortar a produção para aumentar o preço do petróleo, consequentemente prejudicando Biden. Alguns analistas entendem que a decisão – capitaneada por Putin e por Bin Salman (o príncipe saudita) – seria um esforço não apenas para lucrar mais com o aumento do petróleo mas também para atrapalhar o desejo de Biden de conseguir um segundo mandato. Putin sabe que, com o retorno de Trump, as chances de ele vencer a guerra contra a Ucrânia são enormes, uma vez que o ex-presidente já afirmou que, caso retorne ao poder, irá terminar com a guerra “em 24 horas”, por meio da interrupção do envio de ajuda a Kiev. Obviamente, isso traria uma vitória imediata para Putin.

Será que Biden conseguirá controlar o preço do petróleo? Isso vai depender de como irá evoluir o conflito no Oriente Médio, e se Mike Johnson conseguirá aprovar a liberação dos 60 bilhões para a Ucrânia.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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