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O presidente da Bolívia, Luis Arce, cumprimenta apoiadores com o vice-presidente, David Choquehuanca, na Plaza Murillo
O presidente da Bolívia, Luis Arce, cumprimenta apoiadores com o vice-presidente, David Choquehuanca, na Plaza Murillo| Foto: EFE/ Luis Gandarillas

Nesta quarta-feira (26), o noticiário ficou impregnado com a informação sobre uma tentativa frustrada de golpe na Bolívia. O evento, porém, chamou a atenção do observador mais atento por aspectos exóticos que envolveram o ocorrido. Em primeiro lugar, o líder da rebelião, o general Juan José Zúñiga, seguiu até a sede do governo e, para a surpresa de todos, parou para conversar com o presidente do país, que ordenou a retirada das tropas, mas não foi atendido.

Todos imaginavam que, neste momento, o general prenderia o chefe do Executivo da Bolívia e tomaria o poder por meio de um golpe de Estado. Mas não foi isso que aconteceu. O presidente foi tranquilamente para a internet gravar um vídeo conclamando o povo a sair às ruas em sua defesa. E assim aconteceu. Então, o presidente anunciou uma nova equipe do exército, que ordenou que as tropas voltassem para casa.

Resta saber se um eventual retorno de Donald Trump levaria os EUA a brigar para impedir que China e Rússia consolidem seu controle sobre o lítio boliviano

Muitos analistas estranharam o evento, afirmando que parecia se tratar de uma espécie de “jogada ensaiada”, com o objetivo de aumentar a popularidade do presidente e angariar poderes excepcionais para fortalecer-se no poder contra os “rebeldes”. No final do dia, este cenário foi ficando mais estranho. As tropas rebeldes foram se desmobilizando e o general que liderou o movimento foi preso. Mas, antes de ser detido, o militar deu uma declaração estranhíssima, na presença do presidente. Utilizando, inclusive, palavras de baixo calão, o general afirmou que, no último domingo, reuniu-se com o presidente Luís Arce, na escola La Salle, que lhe teria dito: “A situação está f*dida (...) é necessário preparar algo para levantar a minha popularidade”. O general seguiu afirmando que teria recebido autorização do próprio presidente para levar blindados às ruas. Tudo muito estranho. O vídeo dessa declaração pode ser assistido aqui.

Não sabemos se o que o general disse realmente aconteceu. O estranho é que o presidente não contestou as declarações, que foram ditas em sua presença. O jornalista Leonardo Coutinho fez uma análise muito interessante em sua conta no X sobre essas estranhezas. Ele escreveu: “Minha leitura é que muito possivelmente se trata de uma jogada ensaiada de Luís Alberto Arce. A Bolívia está quebrada e à beira de uma crise de grande magnitude. Um golpezinho de fachada dará a Arce pretexto para sobreviver, radicalizar e muitas coisas mais”. Em seguida, quando o movimento se mostrou fracassado, Coutinho complementou: “Pronto. O golpe de fachada acabou. O que verdadeiramente importa está por vir. Luís Alberto Arce conseguiu um bom argumento para suas medidas em um país que está falido e prestes a explodir. Minha próxima aposta. Ele vai criar mecanismos ‘antigolpe’ para proteger seu ‘governo’ de uma rebelião popular iminente”.

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Outro pano de fundo que torna o evento ainda mais estranho é o enorme interesse que China e Rússia têm mostrado recentemente nas reservas bolivianas de lítio. Desde o início do ano passado, temos lido matérias como: “Plano de industrialização do lítio boliviano é retomado em parceria com China. Bolívia faz acordo com consórcio chinês para aumentar produção de lítio e fabricar baterias elétricas”; “China se une à Rússia e amplia acesso à matéria-prima de baterias na Bolívia. Em um golpe para os EUA, país andino aprofunda parceria na exploração de lítio com Pequim”; “Bolívia assina acordo com consórcio chinês para extração direta de lítio no Salar de Uyuni. O acordo prevê a exploração de até 2.500 toneladas de carbonato de lítio por ano, em um processo de duas fases que terá início com uma planta piloto”; “De olho no principal mineral para baterias, China e Rússia se aproximam da Bolívia. China afirma que está disposta a elevar parceria estratégica com Bolívia a um novo patamar”.

Parece que há interesses poderosos em jogo na Bolívia. Resta saber se um eventual retorno de Donald Trump levaria os EUA a brigar para impedir que China e Rússia consolidem seu controle sobre o lítio boliviano. O tempo dirá.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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