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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica kamikaze

O Brasil escolheu seu lado no xadrez internacional – e isso tem um custo

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, também criticou sugestão de Lula de que a Ucrânia poderia ceder a Crimeia (Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS)

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Somos o país da ginga, do rebolado, do futebol, do drible, da alegria e da amizade. Pelo menos, éramos até ontem. Hoje eu já não sei mais se conseguiremos manter uma “política da boa vizinhança” com a cambaleante – mas ainda superpoderosa – potência norte-americana e com seus aliados ocidentais. Declarações recentes em visita oficial à China acenderam um sinal vermelho na diplomacia internacional.

Falas contrárias ao dólar e críticas à postura de Washington quanto ao conflito na Ucrânia levaram o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca a responder com dureza à postura brasileira. John Kirby chegou a utilizar termos quase pesados, por exemplo, ao defender que a diplomacia brasileira estava “papagaiando Rússia e China”. Tudo muito estranho, principalmente para quem afirmava que a gestão anterior havia levado o Brasil à condição de “pária internacional”.

Já não sei mais se conseguiremos manter uma “política da boa vizinhança” com a cambaleante – mas ainda superpoderosa – potência norte-americana e com seus aliados ocidentais.

Vejam um trecho da fala de John Kirby: “Acreditamos que é profundamente problemática a maneira como o Brasil tem abordado essa questão, tanto de forma substancial quanto retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa não estão interessados na paz ou que somos responsáveis pela guerra. Honestamente, neste caso, o Brasil está reproduzindo a propaganda russa e chinesa sem dar atenção aos fatos”.

As críticas da Casa Branca são pesadas. Trazem um tom e palavras que não estamos acostumados a ouvir em relação ao Brasil. Tudo isso no momento em que a tensão entre Washington e Pequim atinge níveis alarmantes. Ouve-se falar sobre receios de eventuais embargos contra o Brasil. Pode parecer algo improvável, mas não podemos esquecer que o senador americano Ted Cruz defendeu a imposição de sanções ao Brasil quando navios de guerra iranianos foram autorizados a atracar no Rio de Janeiro no início deste ano.

Recentemente, foi apontado, inclusive, que o acordo entre Brasil e Suécia para a aquisição dos caças Gripen pode ser impactado em virtude de nosso alinhamento com a Rússia. Autoridades suecas teriam receio de que itens sigilosos do acordo pudessem acabar caindo nas mãos dos russos. Neste contexto, não podemos esquecer de alguns fatores. Primeiro, Suécia e Rússia já se enfrentaram, na Grande Guerra do Norte (1700-1721), que trouxe fim ao Império Sueco, tendo perdido boa tarde de seu território e nunca mais conseguindo retomar o posto de potência europeia. Depois, aconteceu a Guerra Russo-Sueca (1788-1790), que terminou em empate, sem mudanças territoriais ou políticas significativas. Para completar, hoje a Suécia está prestes a ingressar na OTAN, abdicando de sua tradicional postura neutra. Este é outro elemento de tensão que pode atrapalhar as relações do Brasil com Estocolmo.

Refletindo sobre tudo isso, acabei chegando a uma conclusão insólita (e recheada de ironia): pelo menos sofreremos sanções de apenas um dos lados, e não de ambos simultaneamente. Deus queira.

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