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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica econômica

Capital catalítico, Ucrânia e um plano bilionário

Vista de edifícios residenciais danificados por bombardeios em Orikhiv, perto da linha de frente na região de Zaporizhzhia, sudeste da Ucrânia (Foto: EFE/EPA/KATERYNA KLOCHKO)

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Como de costume, lendo as notícias do dia, me deparei com a seguinte publicação na plataforma X: “Alguém se lembra de quando o governo dos EUA invadiu Bagdad, matou meio milhão de pessoas e depois ‘premiou’ a Halliburton com 39,5 mil milhões de dólares para a ‘reconstrução’ do Iraque? Em notícias não relacionadas, a BlackRock e o JP Morgan acabaram de lançar um banco de ‘reconstrução’ para a Ucrânia”.

O autor da mensagem é Jason Bassler, cofundador do “The Free Thought Project”, que, segundo descrição em seu site pessoal, “expôs numerosos incidentes de corrupção por parte de autoridades governamentais nacionais e globais”. A comparação entre a Invasão do Iraque e a Guerra na Ucrânia é um tanto exagerada, mas não deixa de ser interessante, uma vez que traz à tona os interesses econômicos por trás dos conflitos. Geralmente pensamos apenas em lucros por parte da indústria bélica. Mas o setor de infraestrutura e de investimentos em geral sempre são convocados para atuar no desfecho de conflitos. Analisemos o caso.

Essa perspectiva de encerramento da guerra se deve ao fato de Trump – que prometeu encerrar rapidamente o conflito, caso eleito – ter cada vez mais chances de retornar à Casa Branca?

Uma matéria de 2017, publicada no site da NPR, perguntava: “O que deu errado com a reconstrução do Iraque?”. O texto mostrou como uma montanha de dinheiro foi investida no país, mas sem uma contabilidade organizada. A publicação cita o caso (difícil de acreditar) do envio de 12 bilhões de dólares em espécie, dos quais 8,8 bilhões não foram contabilizados. “Não temos ideia para onde foi esse dinheiro”, disse o deputado norte-americano Henry Waxman (D-CA), que presidia, à época, o Comitê de Supervisão e Reforma do Governo da Câmara. Segundo a matéria, o congressista afirmou que ficou surpreso quando soube disso. Ele declarou: "Até hoje é difícil imaginar 12 bilhões em notas de cem dólares, embrulhados em pacotes semelhantes a tijolos, depois colocados em enormes caixas e levados por aviões para serem dispersos numa zona de conflito". Você consegue imaginar isso?

Obviamente, o caso da reconstrução da Ucrânia seria bem diferente, assim eu imagino. Isso porque a BlackRock não pode investir seus recursos em projetos de elevado risco. Segundo matéria recente da agência Reuters, o vice-presidente da BlackRock, Philipp Hildebrand, estava auxiliando Kiev na busca pelo apoio de bancos de desenvolvimento, com a finalidade de reduzir os riscos envolvidos num projeto dessa natureza. “O risco teria de ser reduzido aos níveis da OCDE para que os ativos da BlackRock – que consistem em fundos de pensões – fossem mobilizados. Esse dinheiro não pode ser investido em empresas de risco muito alto”, afirmou Hildebrand à Reuters.

Porém, apesar das dificuldades, o vice-chefe do gabinete do presidente ucraniano está muito empolgado. Rostyslav Shurma, citado na matéria da Reuters acima referida, disse o seguinte: “Temos pelo menos 500 milhões em compromissos – penso que serão perto de mil milhões de compromissos em capital catalítico”. Você já ouviu falar em “capital catalítico”? Segundo definição da própria agência de notícias, “o capital catalítico refere-se a investimentos, dívidas e garantias semelhantes a capital, nos quais o investidor aceita riscos mais elevados para obter maior impacto social”.

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É com este conceito que está sendo criado um banco de reconstrução da Ucrânia, com a ajuda da BlackRock e do JPMorgan Chase. A expectativa é que o projeto seja inaugurado em breve, com a previsão de um capital inicial de US$ 1 bilhão. Isso levou alguns críticos a dizer que Volodymyr Zelensky estaria “vendendo a Ucrânia para corporações norte-americanas”. Outros enxergam com bons olhos a novidade, acreditando que o auxílio será fundamental para que o país possa reconstruir sua infraestrutura básica, principalmente hospitalar e educacional.

No meu caso, eu me pergunto: eles estariam já programando tudo isso porque estão contando com um fim próximo para o conflito? Essa perspectiva de encerramento da guerra se deve ao fato de Trump – que prometeu encerrar rapidamente o conflito, caso eleito – ter cada vez mais chances de retornar à Casa Branca? Será que eles estão sabendo de alguma coisa? Fica a pergunta.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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