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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica automobilística

Os carros do Apocalipse

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Quando, no início da Guerra na Ucrânia, usuários começaram a pressionar Elon Musk para desligar os carros Tesla na Rússia, percebi o tamanho do problema que estava sendo criado. Se todos os carros do mundo passassem a ser conectados à internet, o fabricante poderia promover o caos no país inimigo, travando os veículos comprados pelo oponente. Você percebe e dimensão geopolítica disso?

Musk não atendeu ao pedido de seus apoiadores, mas a Apple deu um exemplo prático de como esse “controle à distância” pode ser realizado. Em novembro do ano passado, em meio a uma série de protestos na China, a empresa fundada por Steve Jobs restringiu o funcionamento do AirDrop, que estava sendo utilizado pelos ativistas para se comunicar e organizar protestos. Entendeu o cenário?

O mundo conectado parece maravilhoso. E poderia ser, não fosse a maldade e ganância dos controladores.

Ou seja, hoje em dia, não são apenas os drones que conseguem fazer o “serviço sujo” a distância. Qualquer aparelho conectado à internet pode ser usado dessa maneira, desde o carro autônomo à casa inteligente. Por isso, quero apresentar a vocês mais uma novidade que caminha neste sentido e que mostra o estranho futuro que nos aguarda.

Os carros elétricos e conectados à internet são apresentados como a grande solução para os problemas da humanidade. Entretanto, a novidade vai resolver mais os problemas das montadoras e do controle social pretendido pelos governos mundo afora. Veja o exemplo. Recentemente, a Ford entrou com o pedido de uma patente de um sistema que poderia realizar a “reintegração de posse” de seus carros, em caso de atraso no pagamento das parcelas do financiamento.

Ciente de que informação é poder, sigo alertando sobre o outro lado das estranhas novidades que surgem a cada dia.

Num primeiro momento, o carro desligaria seus serviços de GPS, som e ar condicionado. Em seguida, com novas parcelas não pagas, o veículo começaria a emitir sons altos e muito incômodos quando em movimento. Caso a inadimplência continuasse, o veículo poderia impedir a entrada do dono ou até mesmo dirigir sozinho para o reboque, para o órgão governamental responsável, para a instituição credora ou, até mesmo, para o ferro-velho.

Talvez agora você tenha percebido que essa ideia de veículos autônomos, apresentada como uma maravilhosa novidade, esconde um lado muito sinistro. E se um veículo como esse fosse hackeado? Ele poderia travar da hora de realizar uma curva ou desligar o freio quando em alta velocidade?

Porém, esse novo mundo está mais para um pesadelo aos olhos de quem valoriza a privacidade e a liberdade.

“Ah, isso aí é coisa de filme”. Claro, mas também coisa do “mundo real”. E não é novidade. Em 2015, a revista Wired publicou uma matéria mostrando que hackers conseguiram assumir o controle de um Chrysler Cherokee. O veículo estava a 110km/h quando os especialistas começaram a alterar a temperatura e velocidade do ar condicionado, ligaram o limpador de para-brisas e inseriam imagens no painel de multimídia do veículo. Em seguida, eles conseguiram desligar o acelerador, o freio e assumir o controle do volante quando a ré estava engatada. Também foram capazes de acessar as coordenadas de GPS e definir um novo destino que o carro seguiria automaticamente.

A Ford afirmou que eles apenas registraram a patente, com a justificativa de proteger a ideia, mas que isso não significa que eles irão utilizar o recurso no futuro. Essa declaração não faz muita diferença, uma vez que hackers podem fazer tudo isso, como já foi comprovado. Carros autônomos e conectados à internet trazem para o veículo os mesmos problemas de segurança e privacidade associados aos computadores e smartphones.

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Agora imagine você conectar seu próprio corpo à internet. E não estou falando sobre o implante cerebral proposto pela empresa Neuralink de Elon Musk. Estou me referindo ao ex-vice-presidente dos Estados Unidos Dick Cheney. Ele exigiu que seu médico desligasse o Wi-Fi de seu marcapasso, ciente de que a função, criada para monitorar continuamente seu coração, poderia viabilizar o acesso de um hacker, que seria capaz de, à distância, provocar um infarto.

O mundo conectado parece maravilhoso. E poderia ser, não fosse a maldade e ganância dos controladores. Porém, esse novo mundo está mais para um pesadelo aos olhos de quem valoriza a privacidade e a liberdade. Ciente de que informação é poder, sigo alertando sobre o outro lado das estranhas novidades que surgem a cada dia. Fique atento, pois, como dizia Marx, “o valor de uso é o suporte material do valor de troca”. Entendeu?

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