Soros está determinado a mudar o rumo do governo chinês| Foto: (E) Xi Jinping © AFP / Johannes EISELE; (D) George Soros © Reuters / Lisi Niesner
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Nas últimas semanas, uma tempestade começou a se formar no Oriente. A coisa foi escalando de tal forma que, recentemente, o bilionário investidor George Soros chegou a ser descrito como um "terrorista econômico global" pelo Global Times de Pequim. A severa crítica aconteceu depois de Soros afirmar que a BlackRock cometeu um erro ao investir na China, defendendo que, provavelmente, a gigante americana perderia dinheiro em tal empreitada.

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No último dia 6, Soros escreveu um artigo no The Wall Street Journal argumentando que a BlackRock não apenas perderia seus investimentos na China mas que a medida  poderia colocar em risco a segurança americana e de outras democracias mundo afora. Isso aconteceu porque a BlackRock transformou-se, no último mês, no primeiro grupo global que recebeu autorização para operar um negócio de fundos mútuos de propriedade integral em território chinês. A gestora sediada em Nova York aproveitou o recente cancelamento de limitações antes impostas aos investimentos estrangeiros no país, declarando, em comunicado a seus clientes, que esperava ajudar os chineses a vencerem seus obstáculos quanto às aposentadorias. Como grande parte dos ativos que a BlackRock gerencia estão situados na área de previdência, eles esperam contribuir com seu vasto conhecimento em produtos e serviços nesta área. Soros não gostou nada disso.

Esta não foi a primeira vez nos últimos meses que Soros dedicou severas críticas ao governo de Pequim. Em outro artigo publicado no início de agosto, o investidor denunciou Xi Jiping como "o inimigo mais perigoso das sociedades abertas no mundo". No final do mês passado, em outro artigo, desta vez publicado no Financial Times, o investidor afirmou que o Congresso dos Estados Unidos deveria aprovar leis restringindo os investimentos dos gestores de ativos apenas a "empresas onde as estruturas de governança reais são transparentes e alinhadas com as partes interessadas". Isso poderia se transformar num obstáculo aos investimentos americanos no gigante asiático.

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No texto publicado mais recentemente no The Wall Street Journal, Soros defendeu que a BlackRock estava errando ao não entender a mentalidade de Xi, para quem as empresas chinesas funcionariam meramente como um instrumento de Estado. Como exemplo, o investidor citou a ocasião recente em que o governo obrigou a Ant Group, de Jack Ma, a se tornar uma holding financeira. Além disso, alertou sobre a grande crise que, segundo ele, começa a se formar no mercado imobiliário chinês.

Não é a primeira vez que Soros entra em rota de colisão com gigantes da Ásia. No final da década de 90, quem não se lembra dos chamados “tigres asiáticos”, que surgiam como a maior vanguarda da economia global? O sucesso perdurou até 1997, quando uma série de fatores conduziu a uma enorme crise. Alguns culparam a especulação. Já Mahathir bin Mohamad, primeiro-ministro da Malásia, colocou a culpa diretamente em George Soros, acusando-o de ter derrubado a moeda malaia por meio de uma intensa especulação, e de ser o responsável, no final das contas, pelo colapso que atingiu as bolsas do sudeste asiático. Na ocasião, a Indonésia, por exemplo, viu seu PIB recuar 13,1% e a moeda local perder 83% de valor em relação ao dólar.

A pergunta é: quem sairá vitorioso? É possível um homem se levantar contra um país inteiro e vencer a disputa? Creio que, num primeiro momento, grande parte das pessoas apostaria contra Soros. Porém, o investidor se levanta contra a China num momento em que a nação enfrenta uma série de obstáculos. A crise energética, por exemplo, já impõe apagões programados em Pequim e Xangai, e ameaça o abastecimento global. As produções da Apple, Tesla e Toyota já estão sendo impactadas. A crise da Evergrande, a incorporadora mais endividada do mundo, lança temores sobre uma enorme bolha imobiliária que se forma. Há ainda a questão demográfica, com a natalidade em baixa ao mesmo tempo em que a população envelhece rapidamente. Isso pode conduzir a um caos previdenciário, uma vez que não haverá jovens suficientes para sustentar uma multidão de idosos.

Está difícil prever quem sairá vitorioso, neste mundo que se transforma a cada minuto. As apostas estão mais inclinadas a Pequim, mas o azarão pode capitalizar em cima do fato de que as chamas do dragão estão menos potentes nos dias atuais.