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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica preditiva

Congresso americano já se prepara para o retorno de Trump

O ex-presidente americano Donald Trump (Foto: EFE)

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Nesta altura, creio que todos já tenham percebido que boa parte da mídia tradicional norte-americana não é nada mais do que a voz das elites que controlam o país há séculos. Os meios de comunicação de massa funcionam como porta-vozes dessa classe de tomadores de decisão, mas também como um instrumento não apenas de propaganda, mas de configuração do debate público.

Essa interpretação sobre o sistema midiático tradicional não é nova, remonta aos anos 70, quando Maxwell McCombs e Donald Shaw criaram a “Hipótese do Agendamento” (em inglês, “Agenda-setting theory”). Segundo os autores, a mídia não teria o poder de determinar o que as pessoas pensam, mas seria capaz de estabelecer sobre o que as massas irão falar e pensar. Ou seja: pautar o pensamento e as conversas.

Os democratas e a mídia internacional estão partindo do princípio de que a volta do republicano não é algo tão improvável.

Nessa linha de raciocínio, uma nova pauta parece estar sendo estabelecida na mídia norte-americana: “Precisamos nos proteger contra um eventual retorno de Donald Trump”. Essa ideia ficou evidente numa matéria do Washington Post no último dia 26. Num determinado trecho, após uma citação de Zelensky dizendo que eles não sobreviveriam sem o apoio financeiro e bélico dos EUA, lemos o seguinte: “Não por acaso, disse uma autoridade dos EUA, a esperança é que a promessa de longo prazo – mais uma vez assumindo a adesão do Congresso – também será uma ajuda ‘preparada para o futuro’ para a Ucrânia contra o possibilidade de o ex-presidente Donald Trump vencer sua candidatura à reeleição”.

Ou seja, por trás das letras está um temor de que o retorno de Trump traga uma interrupção do apoio norte-americano à Ucrânia, dando a vitória a Putin. Por isso, o texto conclama o Congresso dos EUA a encontrar um caminho para que o ex-presidente republicano seja incapaz de acabar com a ajuda a Kiev, mesmo vencendo as disputas de 2024. Segundo o senador J.D. Vance, esse plano para “amarrar as mãos” de Trump já existe, e está escondido no texto do novo pacote de ajuda externa aprovado pelo Congresso, que inclui um auxílio de US$ 60 bilhões para a Ucrânia. O documento já foi aprovado no Senado. Porém, Vance está conclamando seus colegas republicanos na Câmara a se posicionarem contra a proposta, por meio de um memorando divulgado nesta última segunda-feira (12).

No texto, o senador afirma que “enterrada no projeto de lei está uma bomba-relógio de impeachment para a próxima presidência de Trump, caso ele tente parar de financiar a guerra na Ucrânia”. Ele inicia seu argumento retomando o primeiro processo de impeachment que foi aberto contra Trump, em dezembro de 2019. Na ocasião, a justificativa apresentada foi que o ex-presidente teria supostamente pausado a ajuda militar a Kiev com o objetivo de forçar o presidente ucraniano Zelensky a visitar a Casa Branca, ocasião em que Trump poderia pressioná-lo a iniciar investigações contra Hunter Biden, filho de Joe Biden, seu rival na corrida de 2020. Por isso, Trump foi acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso. O processo foi concluído pela absolvição em 5 de fevereiro de 2020.

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Porém, conforme argumenta o senador Vance, o objetivo dos democratas hoje é reeditar o pedido de impeachment de 2019 caso o ex-presidente cumpra sua promessa de “encerrar o conflito na Ucrânia em 24 horas”. O caminho para essa suposta cilada seria um dispositivo que está “escondido” no texto do novo pacote de ajuda à Ucrânia, que ainda está pendente de aprovação na Câmara dos EUA. Isso porque, no texto da lei, o financiamento expira no dia 30 de setembro de 2025, quase um ano após o início de um possível segundo mandato de Trump. Isso o impediria de encerrar a ajuda a Kiev antes desse prazo, colocando-o sob um perigo de uma terceira tentativa de impeachment caso optasse por descumprir o que está disposto no documento.

Disso tudo, o que mais me chama a atenção é o esforço que a equipe de Biden e o sistema midiático estão desempenhando na tentativa de amarrar um hipotético segundo governo Trump. Enquanto boa parte das pessoas mundo afora acredita que são escassas as chances de o ex-presidente retornar ao poder (devido aos muitos escândalos e processos judiciais), parece que os democratas e a mídia internacional estão partindo do princípio de que a volta do republicano não é algo tão improvável.

E você, acredita que Trump realmente tem chances de voltar ao poder? Deixe sua opinião nos comentários.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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