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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica profética

Correspondente da CBS afirma que 2024 será o ano de um “cisne-negro” sem precedentes

Catherine Herridge, correspondente da CBS. (Foto: Governo dos EUA/Domínio público)

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Nesta última segunda-feira (25), Catherine Herridge, correspondente veterana na aérea de inteligência e segurança nacional, fez um comentário que deu o que falar nas redes sociais. A fala aconteceu durante o programa “Face the Nation”, da rede americana CBS, que foi ao ar no dia 25/12/23. O vídeo pode ser acessado neste link. A fala acontece aos 17 minutos e 25 segundos. Quando a apresentadora Margaret Brennan perguntou o que ela esperava para 2024, ela respondeu o seguinte:

“Bem, minha previsão é um pouco sombria. Sinto muita preocupação de que 2024 possa ser o ano de um 'evento cisne-negro'. Ou seja, um evento de segurança nacional com alto impacto, e que é muito difícil de prever. Há uma série de preocupações que me levam a isso. Temos esse nível de ameaça elevado e duradouro que estamos enfrentando nas guerras em Israel, também na Ucrânia, e estamos tão divididos neste país de maneiras que nunca vimos antes. E acho que isso cria um terreno fértil para nossos adversários, como a Coreia do Norte, a China e o Irã. É isso que mais me preocupa”.

Antes de analisarmos os pontos da afirmação, creio ser pertinente verificar as credenciais da jornalista em questão. Catherine Herridge (nascida em 1964) é correspondente investigativa sênior da CBS News, atualmente baseada em Washington D.C. Ela foi contratada pela CBS em novembro de 2019, após deixar seu cargo como correspondente chefe de inteligência do canal Fox News, onde apresentava a edição de sábado do programa Weekend Live. Ela tem uma robusta formação acadêmica, com graduação em jornalismo por Harvard e mestrado em jornalismo pela Universidade de Columbia.

Além de sua longa experiência nas áreas de inteligência e segurança nacional, um detalhe importante é que Catherine é casada com o tenente-coronel aposentado da força aérea norte-americana John W. Hayes. Isso talvez conceda a ela, além de sua jornada acadêmica e profissional, alguns insights privilegiados sobre o aspecto bélico e geopolítico.

Além de sua formação acadêmica e longa carreira nas áreas de inteligência e segurança nacional, a convivência com o marido, com sua robusta experiência, concedem a Catherine Herridge uma ainda maior autoridade nas questões geopolíticas

Seu esposo é graduando no treinamento da escola de voo na Base Aérea de Greenville, Mississippi, em 1955. Inicialmente estacionado na Base Aérea Principal do Reno, na Alemanha, ele foi designado para uma unidade de transporte de tropas. A unidade foi transferida para a antiga Base Aérea de Dreux, na França, de onde ele realizou missões em toda a Europa. Em seguida, ele se reportou à Base Aérea McGuire, em Nova Jersey, em setembro de 1958. Depois, serviu na Espanha e posteriormente na Carolina do Sul. Serviu também como piloto na Guerra do Vietnã. Ele deixou o serviço ativo da Força Aérea em 1968. Depois, passou mais 10 anos servindo na Guarda Aérea Nacional da Pensilvânia, onde atuou em missões de guerra eletrônica, que incluíam Oficial de Posto de Comando em exercícios Red Flag, até sua aposentadoria formal do serviço militar em 1980, com 25 anos de serviço. Após sua aposentadoria do serviço militar, ele iniciou uma carreira de piloto corporativo, e foi contratado pela Universidade Estadual da Pensilvânia como piloto-chefe até março de 1997, quando se aposentou oficialmente.

Portanto, além de sua formação acadêmica e longa carreira nas áreas de inteligência e segurança nacional, a convivência com o marido, com sua robusta experiência, concedem a Catherine Herridge uma ainda maior autoridade nas questões geopolíticas.

Analisemos, agora, suas afirmações. Quando ela fala sobre um “evento Cisne Negro”, e quando o define como “um evento de segurança nacional com alto impacto, e que é muito difícil de prever”, ela está se referindo, na verdade, a um ataque terrorista nos moldes do que aconteceu no dia 11 de setembro de 2001 em Nova York. Por isso, desde o início, percebemos um eufemismo em sua fala, sempre tentando suavizar a severidade de suas afirmações. Mas não podemos esquecer que ela alertou a audiência quando iniciou sua resposta dizendo que sua previsão para 2024 era “um pouco sombria”.

Fica de certa forma evidente que o que está por trás de sua afirmação é o fato de 2024 ser ano de disputas pela Casa Branca. Mas, além disso, o fator mais preocupante é a chamada “border crisis”, ou seja, a entrada em larga escala de pessoas nos EUA sem qualquer avaliação. Os números mais recentes estimam a passagem de 10 mil pessoas por dia. Entre outubro de 2022 e setembro de 2023, mais de 2,4 milhões de pessoas foram identificadas acessando os EUA por via terrestre.

No final de outubro, o diretor do FBI, Christopher Wray, participando de um evento no Congresso norte-americano, alertou que, nas últimas semanas, várias organizações terroristas estrangeiras pediram ataques contra os americanos e contra o Ocidente. Isso o fez defender a ideia de que hoje uma ameaça terrorista nos EUA é considerada alta. Segundo ele, a Guerra em Israel aumentou o potencial para um ataque contra os americanos. O diretor também lembrou que houve várias prisões de indivíduos que estavam planejando ações violentas, seja contra judeus como também contra pessoas de origem árabe.

No dia 15 de novembro, a Comissão de Segurança Interna da Câmara realizou uma audiência para examinar as ameaças globais aos EUA e aos interesses da América no estrangeiro. A audiência contou com depoimentos do secretário do Departamento de Segurança Interna (DHS), Alejandro Mayorkas, do diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI), Christopher Wray, e da diretora do Centro Nacional de Contraterrorismo (NCTC), Christine Abizaid. Na audiência, foi confirmado pelos convidados que os EUA enfrentam uma enorme ameaça à sua segurança nacional, devido ao número crescente de indivíduos na lista de observação terrorista detidos ao cruzar a fronteira sudoeste dos EUA. A incidência aumentou após o Hamas e o Hezbollah, apoiados pelo Irã, terem encorajado ataques ao Ocidente após os inomináveis eventos do dia 7 de Outubro. Wray mostrou a gravidade do problema ao dizer que o descontrole nas fronteiras transformaram todos os estados norteamericanos num “estado fronteiriço”. Além disso, o diretor do FBI confirmou que todas as 56 forças-tarefa conjuntas de terrorismo da instituição estão ocupadas com ameaças em todo o país. O pior de tudo foi que tanto o secretário do Departamento de Segurança Interna (DHS) quanto o diretor do FBI afirmaram que suas instituições ainda estão tentando localizar indivíduos na lista de observação de terroristas que conseguiram entrar nos Estados Unidos.

No dia 14 de setembro, a NBC News já havia trazido uma matéria com o seguinte título: “O número de pessoas na lista de vigilância terrorista detidas na fronteira sul dos EUA aumentou”. O texto continuou informando que, até então, no ano fiscal de 2023, 160 indivíduos cujas identidades correspondem às da lista foram impedidos de cruzar a fronteira entre os EUA e o México, em comparação com 100 em 2022. O problema é que, como foi dito anteriormente, alguns desses indivíduos conseguiram entrar nos EUA, e ainda não foram encontrados.

Por outro lado, uma matéria da CBS do dia 11 de outubro mostrou que os dados oficiais sobre entrada nos EUA não refletem a realidade, uma vez que apenas uma pequena porção dos indivíduos que ingressam no país são identificado e detidos. Além disso, a reportagem em questão também trouxe a surpreendente informação de que, ainda que o número total de pessoas entrando pela fronteira norte (com o Canadá) seja infinitamente menor, ali está a maior incidência de indivíduos vinculados a ações terroristas.

Continuando a análise da fala de Catherine Herridge, quando ela disse “estamos tão divididos neste país de maneiras que nunca vimos antes”, lembrei-me do livro Princípios para a ordem mundial em transformação: Por que as nações prosperam e fracassam, do investidor Ray Dalio. Ao estudar os pontos que provocaram a ascensão e a queda dos grandes impérios nos séculos recentes, o autor identificou, entre outros fatores, a divisão interna como um dos grandes elementos que levam impérios à ruína. Num trecho do livro, ele escreve: “Estamos (nos EUA) em um momento crítico… Ou superamos nossas diferenças e trabalhamos juntos, ou teremos alguma forma de guerra civil interna e/ou guerra externa”. Curiosamente, Hollywood está produzindo alguns filmes com a temática de uma guerra civil nos EUA para o ano que vem. Primeiro, temos o filme “O Mundo depois de Nós” (que analisei aqui em minha coluna na semana passada), e também o filme “Civil War”, cujo lançamento está previsto para abril de 2024. Seria uma programação preditiva? Já comentei sobre este tema aqui.

Por fim, Catherine Herridge afirmou que esse cenário de divisão interna “cria um terreno fértil para nossos adversários, como a Coreia do Norte, a China e o Irã. É isso que mais me preocupa”. Curiosamente, no filme “O Mundo Depois de Nós”, iranianos e norte-coreanos são apontados inicialmente como os responsáveis pelo ataque cibernético e posterior ofensiva bélica sofrida pelos EUA. Entretanto, conforme a história vai se desenrolando (alerta de spoiler aqui), o espetador fica sabendo que provavelmente tudo não passa de uma espécie de golpe interno, em que um grupo de dentro realizou uma operação de bandeira falsa, culpando iranianos e norte-coreanos por um ataque realizado internamente, com o fim de gerar, primeiro, a interrupção das comunicações e dos transportes, depois criar confusão e desorientação (com os panfletos de operação psicológica escritos em árabe e coreano) e, por fim, instaurando uma guerra civil que, derrubando o regime, abre caminho para que um novo grupo assuma o poder, exatamente aquele que estava por trás da ofensiva cibernética inicial.

Ainda bem que é tudo ficção. Concorda?

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Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise

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