Eu nunca poderia imaginar que as distopias que líamos nos livros e assistíamos nos filmes deixariam de ser mera ficção em tão pouco tempo. Na verdade, cada vez mais se faz real aquela antiga ideia, atribuída ao escritor Mark Twain, segundo a qual “a verdade é mais estranha que a ficção, porque a ficção é obrigada a lidar com possibilidades; já a verdade, não”. Vou mostrar a vocês o motivo de minha surpresa.
Antigamente, ouvíamos falar sobre o problema da fome no mundo, e a necessidade de produzir mais alimentos. Agora, o novo problema é o aquecimento global. E, para resolvê-lo, é necessário diminuir (por incrível que pareça) a produção de comida. Isso porque, segundo se crê hoje, é exatamente a fabricação de alimentos a atividade mais emissora de gases do efeito estufa.
E você? Já está preparado para salvar o mundo em grande estilo, comendo lagartas, gafanhotos, larvas de mariposas, cupins, besouros e percevejos?
Enquanto escrevo este texto, a União Europeia está forçando seus países membros a reduzirem drasticamente a produção de comida. Na França, para cumprir essas obrigações, o governo acabou de divulgar um amplo plano com o objetivo de acelerar a queda de emissões de gases poluentes. Ao mesmo tempo, o tribunal de contas francês emitiu uma recomendação para que seja urgentemente diminuído o número de vacas no país, principalmente as leiteiras. Eles só esquecem-se de avisar que o “salvador da humanidade” (contém ironia) Bill Gates já desvendou a solução para isso: ele está investindo milhões numa empresa australiana que insere uma alga na ração do gado e reduz em até 80% a emissão de gases. Simples, não? Mas a solução predileta dos tomadores de decisão ainda parecer ser eliminação dos bois e vacas.
Ao mesmo tempo, o governo holandês está se preparando para comprar e fechar 3 mil fazendas. A União Europeia, inclusive, já aprovou um orçamento de 1,5 bilhão de euros para fazer essas aquisições. Na Irlanda, o Departamento de Agricultura está avaliando a possibilidade de abater 200 mil vacas: 65 mil por ano nos próximos 3 anos. Mas não se preocupe, o “vice-salvador do mundo” Elon Musk (contém ironia também) já se manifestou contra tudo isso em sua conta no Twitter, dizendo que a medida não mudará em nada a questão climática. Ao mesmo tempo, contrata uma CEO para a sua rede social diretamente conectada aos proponentes das medidas que ele tanto crítica. Escrevi sobre isso em artigo recente.
Mas você poderia perguntar: reduzindo a produção de comida, isso não aumentaria o problema da fome no mundo? Seria aquela velha história de “resolver um problema, mas criar outro”. Os “controladores” e “salvadores” do mundo respondem que não. Pois a solução é simples: comer insetos. Veja, por exemplo, o título de algumas matérias recentes sobre o tema: “Comer insetos pode ser bom para o corpo e para o meio ambiente”; “As razões pelas quais deveríamos comer insetos”; “Insetos: o alimento supernutritivo desprezado pelo mundo ocidental”; “Insetos na alimentação humana são a proteína do futuro” o subtítulo é ainda mais interessante: “Esqueça a fama de nojentos. Além de nutritivos, o futuro do combate à fome pode estar na alimentação com esses bichinhos”. Pronto, problema encerrado.
E você? Já está preparado para salvar o mundo em grande estilo, comendo lagartas, gafanhotos, larvas de mariposas, cupins, besouros e percevejos? Isso, obviamente, enquanto os bilionários salvadores do mundo comerão tudo do bom e do melhor e continuarão voando com seus jatinhos particulares à vontade, usufruindo de seu infinito crédito de carbono, fruto da aquisição de boa parte das terras agricultáveis do planeta.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS