É impressionante constatarmos que boa parte daquilo que vemos no mundo hoje envolve alguma espécie de engano. E o exemplo mais recente está diretamente relacionado ao evento que trouxe o fim da antiga Ordem Mundial e anunciou uma Nova Ordem: a Guerra na Ucrânia (que, ao contrário do que a maioria pensa, não começou no dia 24 de fevereiro de 2022, mas em 2013). O evento mais recente (e estarrecedor) que desnudou esse grande teatro foi descobrir que o Reino Unido, ao contrário das sanções impostas à Rússia, importou secretamente mais de 94 milhões de dólares em petróleo russo, entre junho e julho deste ano. Será que eles mesmos serão sancionados por isso? Duvido muito.
Para ocultar a procedência da mercadoria, uma grande “gambiarra” foi construída. Aproveitando brechas nas regulamentações, o óleo russo era registrado como procedente da Alemanha, Bélgica e Holanda. Isso foi possível porque o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico leva em consideração o país que envia o material, e não aquele que produziu. A maracutaia acontece porque, segundo análise recente divulgada no jornal britânico The Times, os navios petroleiros russos conseguem contornar as sanções bombeando o óleo para embarcações de outras nacionalidades, e desligando o GPS para que a ação não seja identificada.
No teatro internacional, conduzido pelo grande espetáculo dramatúrgico midiático, nada é o que parece. Realidade e encenação se confundem.
O jornal britânico noticiou, por exemplo, que, em maio deste ano, um navio deixou o porto russo de Tuapse levando 200 mil barris de petróleo. Depois de cinco dias no mar, a embarcação ancorou ao lado de um petroleiro de origem grega. Durante 36 horas, as embarcações foram conectadas por enormes tubos. Em seguida, o navio grego seguiu para o Reino Unido e desembarcou 250 mil barris de petróleo no dia 6 de junho. E é assim que as sanções foram sendo contornadas.
Diante disso, você conclui: “então as sanções não estão funcionando”. Depende daquilo que você entende por “funcionar”, e do tamanho do seu grau de malícia. Eu já escrevi artigos aqui mostrando que a atual encrenca na Ucrânia trouxe certos benefícios para ambos os lados. E não poderia ser diferente, uma vez que os abutres do mundo sempre irão aproveitar (ou mesmo criar) uma crise para dela extrair grandes benefícios, mesmo que à custa do sofrimento alheio. E desta vez não foi diferente.
Existe uma teoria de que Putin já estava estudando desligar-se do sistema financeiro internacional (o swift) há um bom tempo. Isso daria a ele uma blindagem contra as ofensivas comerciais norte-americanas. Pelo menos, a ideia de um desligamento ficou evidente com o seu projeto da “internet soberana”, desvinculada da rede global, por isso, imune a uma ofensiva cibernética vinda do Ocidente. Mas ele sabia que desligar-se do sistema financeiro ocidental traria algumas dificuldades para a população local, o que poderia gerar um descontentamento generalizado e colocá-lo numa posição difícil. Por isso, o líder russo precisava de uma boa justificativa. Diante da pressão da entrada da Ucrânia na OTAN, Putin se antecipou, invadindo o país vizinho e deixando que as próprias nações ocidentais desligassem a Rússia do sistema. Assim, ele conseguiu criar um sistema monetário completamente novo, independente do dólar (e do petrodólar), em que o rublo é a base de sustentação, e com lastro em commodities, seu grande trunfo. Ou seja, tronou-se quase que imune às retaliações comerciais do Ocidente.
Do outro lado, as sanções ajudaram muito os Estados Unidos em seu objetivo de se tornar o novo fornecedor de energia para a Europa, em tese, tirando a Rússia da jogada. Uma das primeiras consequências da invasão da Ucrânia foi de grande benefício para os interesses geopolíticos norte-americanos: o cancelamento do projeto Nord Stream 2, que daria quase que um controle total de Putin sobre a energia europeia, o que poderia ser usado como ferramenta de barganha e poder. Agora, este enorme poder de barganha está nas mãos de Washington, que, inclusive, está aproveitando a desindustrialização europeia para forçar as empresas a migrares suas operações para os EUA.
Conclusão: no teatro internacional, conduzido pelo grande espetáculo dramatúrgico midiático, nada é o que parece. Realidade e encenação se confundem, criando, assim, um mosaico tão complexo que apenas o leitor atento e bem informado consegue decifrar.
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