Marx pensava a educação como um dos passos para implementar o comunismo| Foto: Fernando Vicente
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Nosso sistema perceptivo possui uma série de características que nos conduzem ao engano. Olhamos o sol se movendo, mas ele está parado. O eco faz com que tenhamos a sensação de que o som está vindo do lado inverso ao original. A refração nos leva a acreditar que o peixe está mais perto da superfície do que sua posição real. Há uma série de ilusões que permeiam nosso cotidiano. Entendê-las e superá-las é, em muitos casos, questão de sobrevivência. Imagine o índio pescando com uma vara. Devido ao deslocamento da luz na água, se ele não mirar abaixo da posição onde o peixe parece estar, ele vai passar fome.

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O problema é que há, também, uma infinidade de ilusões cognitivas, que nos levam a entender a realidade de forma completamente deslocada. Aprendemos, por exemplo, que socialismo almeja distribuição de renda e de poder. Porém, Garry Allen nos mostra que é exatamente o contrário. Munido de robusto embasamento histórico, o autor de “Política, Ideologia e Conspirações” evidencia que concentração de renda e de poder são as consequências inevitáveis do comunismo.

Por exemplo: a maioria de nós entende a educação como um processo libertador. Alguns até fazem a correlação entre as palavras “livro” e “livre”, como se leitura e ensino fossem, inevitavelmente, processos emancipadores. Porém, há autores que mostram o enorme poder de controle trazido pela institucionalização da escola. No livro “A Sociedade contra do Estado”, o antropólogo francês Pierre Clastres começa o décimo capítulo com a seguinte reflexão:

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“Supõe-se que ninguém deixe de pensar na dureza da lei. Dura lex sed lex. Diversos foram os meios inventados, segundo as épocas e as sociedades, a fim de conservar sempre fresca a recordação dessa dureza. Entre nós, o mais simples e recente foi a generalização da escola, gratuita e obrigatória”

(CLASTRES, 2017, p. 123)

Ou seja, a educação pública e obrigatória serviu para reforçar a dureza da lei e fazer avançar o controle do Estado sobre as massas. É claro que isso atrairia Marx, sempre ávido pelo controle. Legislação forte, Estado grande e monitoramento total compõem, não por acaso, a materialização de qualquer forma de governo inspirada nos ideais marxistas. E foi exatamente por isso que Marx vislumbrou na escola um dos 10 passos para a implementação do comunismo. No final do segundo capítulo do “Manifesto do Partido Comunista”, depois de elencar os nove primeiros pontos - capitaneados pelos verbos “expropriar”, “abolir”, “confiscar”, “centralizar” e “unificar”- ele escreve: “10- Educação pública e gratuita para todas as crianças” (MARX, 2014, p. 137). Ou seja, o estabelecimento do ensino público gratuito funcionaria como uma das mais importantes ferramentas para o controle social e a implementação do comunismo.

Não foi por outro motivo que o filósofo marxista francês Louis Althusser classificou a escola como o mais importante aparelho ideológico de Estado. Em sua leitura, ele faz uma crítica dos estabelecimentos de ensino enquanto instrumentos de reforço da visão de mundo da classe dominante burguesa. Porém, o que muitos não se dão conta é que um dos objetivos de Marx era tornar o proletariado a classe dominante, e subjugar as demais. Dessa forma, a escola não apenas viabilizaria o caminho para a implementação do comunismo, mas garantiria sua perpetuação. Para quem duvida, reproduzo aqui um trecho do Manifesto:

“Nós já vimos acima que o primeiro passo da revolução dos trabalhadores é a elevação do proletariado à condição de classe dominante, à conquista da democracia. O proletariado usará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, ou seja, do proletariado organizado como classe dominante, e para aumentar o mais rapidamente possível a massa das forças de produção”.

(MARX, 2014, p. 135)

Ou seja, nós e nossos filhos temos sido submetidos, na escola, a um grande experimento de doutrinação, de propaganda. Somos meras cobaias nas mãos de engenheiros sociais que buscam a derrocada de toda a ordem social vigente. Nas palavras de Marx:

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“Os comunistas se recusam a dissimular as suas opiniões e intenções. Eles declaram abertamente que seus objetivos só podem ser atingidos com a derrubada violenta de toda a ordem social vigente”

(MARX, 2014, p. 155).

Educação como instrumento para derrubar a ordem atual. Deve ser por isso que são exatamente os políticos e pensadores marxistas aqueles que se posicionam contrariamente à institucionalização do ensino domiciliar. Claro, como poderia o Estado centralizador e controlador exercer a força do aparelho ideológico de Estado numa criança que está fora do sistema oficial de doutrinação?

Aí você fica imaginando quem poderia nos ajudar. Os grandes capitalistas? Os megainvestidores? O problema é que muitos bilionários – que a maioria pensa que seriam adeptos da liberdade - acham maravilhosa essa visão de mundo centralizadora. No final de junho, por exemplo, o vice-presidente da Berkshire Hathaway, Charlie Munger, afirmou, num especial transmitido pela CNBC, que “a América pode aprender com a China comunista”, elogiando o controle estatal sobre a economia. Dependendo desse pessoal, o processo vai intensificar-se cada vez mais.

Qual seria a solução? Talvez, ela esteja em nossas próprias mãos, ao nosso alcance. Que esta época de vivência mais doméstica, em home office, possa nos ensinar a voltarmos a estar perto de nossos filhos. Pois, se dependermos do Estado para educar nossas crianças, estaremos seguindo uma jornada cada vez mais tenebrosa.

Referências:

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ALLEN, Gary; ABRAHAM, Larry. Política, Ideologia e Conspirações. Barueri: Faro Editorial, 2017.

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. Rio de janeiro: Graal, v. 2, 1985.

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. Ubu Editora LTDA-ME, 2017.

MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Martin Claret, 2014.