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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica bisbilhoteira

Eles admitiram: somos espionados por nossos celulares

Imagem ilustrativa. (Foto: Rodion Kutsaiev/Unsplash )

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Aquela conspiração antiga segundo a qual os celulares estariam escutando as conversas dos usuários para criar publicidades direcionadas pode ter sido confirmada agora. O site 404 Media, dedicado aos tópicos de tecnologia e internet, divulgou esta semana uma matéria afirmando que receberam documentos que teriam confirmado que a empresa de marketing digital Cox Media Group (CMG) estaria usando um sistema de inteligência artificial – associado a um software de “escuta ativa” chamado Active Listening – para acessar dados de áudio dos usuários por meio do microfone dos aparelhos.

O objetivo seria desenvolver anúncios mais precisos dentro do perfil de cada um. O documento ao qual o site teve acesso era parte de uma apresentação que eles fariam para clientes que buscavam seus serviços de marketing. A estratégia seria associar as informações de áudio capturadas pelos celulares com conteúdos comportamentais para montar um perfil mais refinado de cada consumidor.

Um considerável número de pessoas (eu inclusive) já tiveram a experiência de falar algo próximo ao telefone e receber, logo em seguida, uma sugestão de conteúdo

No conteúdo da apresentação, a empresa CMG apontou Amazon, Meta e Google como clientes, mas não explicou exatamente como eles coletam esses dados de voz e não confirmou se realmente forneciam esses serviços para as grandes plataformas tecnológicas. A CMG oferecia ao cliente a possibilidade de selecionar potenciais clientes num raio de 16km (pelo valor de US$ 100), ou de até 32 km, pela quantia de US$ 200.

Respondendo ao site 404, o Google afirmou que excluiu a empresa CMG de seu rol de parceiros. A Meta disse que não usava esses produtos em suas publicidades e a Amazon declarou que nunca trabalhou com a CMG nesse programa.

Apesar das negativas das gigantes da tecnologia, um considerável número de pessoas (eu inclusive) já tiveram a experiência de falar algo próximo ao telefone e receber, logo em seguida, uma sugestão de conteúdo relacionado à conversa realizada. Você já teve essa experiência? Me conte nos comentários.

A primeira vez que tive essa experiência foi em 2018, quando, num jantar, conversava com um amigo sobre brigas entre surfistas brasileiros e havaianos. Após a conversa, quando peguei o celular para ver mensagens, recebi uma sugestão de um vídeo exatamente sobre o tema conversado.

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O problema é quando, além do que falamos, aquilo que meramente pensamos aparece logo em seguida como sugestão de conteúdo nos celulares. Essa experiência eu tive pela primeira vez em 2022. Eu estava sozinho em casa, prestes a entrar numa reunião online, quando me olhei no espelho e percebi que estava precisando fazer a barba. Eu não disse nada. Apenas pensei. Eu corri para o banheiro e fiz a barba com pressa, percebendo, no final, que havia ficado tudo torto, desalinhado. Eu pensei: “Eu poderia ter usado uma régua que eu tinha no escritório para usar como referência para fazer a linha da barba no rosto”. Mas concluí: “Agora não dá mais tempo, vou para a reunião assim mesmo”.

Quando eu abri meu computador para iniciar a reunião, ali estava a propaganda de um instrumento plástico que era uma espécie de molde de barba, para ser segurado no momento de barbear-se, para fazer a linha. Eu fiquei impressionado, pois eu havia apenas pensado aquilo, e não verbalizei.

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Conversando com alguns amigos, eles me disseram que o computador pode ter escutado o barulho de minha máquina de barbear funcionando no banheiro (que fixa próximo ao escritório) e, por isso, me sugeriu aquele produto. Mas eu creio que essa hipótese não faz sentido, uma vez que, neste caso, o computador deveria ter sugerido uma máquina de barbear nova ou um creme de barbear. Como ele poderia saber que eu estava preocupado com a barba ter ficado torta e ter me sugerido um “alinhador de barba”, exatamente naquela modelo da régua que eu havia imaginado? Era um produto que eu nem sabia de sua existência. Eu nunca havia visto aquilo. Vou colocar abaixo uma imagem do produto que me foi sugerido.

Como explicar isso? O computador teria sido capaz de ler meu pensamento? Se fosse numa era em que todos já estivessem usando um implante cerebral neuralink eu não ficaria tão surpreso. Mas como seria aquilo possível? Bem, eu não sei exatamente. Mas lembrei que a Apple registrou uma patente para AirPods chamada “Dispositivo de Detecção de Biosinal Usando Seleção Dinâmica de Eletrodos”. Ele seria capaz de medir eletroencefalografia (EEG), eletromiografia (EMG) e eletrooculografia (EOG). O sistema teria a função de, entre outras coisas, medir a atividade cerebral e o movimento ocular.

Seria isso uma explicação possível? Deixe sua opinião nos comentários.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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