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Nesta semana, o coronel da reserva Douglas Macgregor, especialista em Oriente Médio, fez uma publicação muito estranha em sua conta no X (antigo Twitter). Ele afirmou que, aparentemente, a influência de Washington no conflito Israel/Hamas tornou-se tão evidente que leva a parecer que o secretário de Estado dos norte-americano, Antony Blinken, teria se tornado, agora, membro titular do gabinete de Israel e do Conselho de Defesa Nacional. “Isso é no mínimo incomum”, defendeu ele. Em seguida, escreveu que muitas pessoas dizem que Washington seria o verdadeiro responsável por tudo o que está acontecendo em Israel. Neste momento, surge a pergunta: até que ponto vai a influência (ou até mesmo interferência) dos EUA na estratégia das Forças de Defesa de Israel? Qual seria o objetivo dessa intromissão? Analisemos.
Alguns especialistas têm dito que os EUA seriam contra uma invasão por terra à Faixa de Gaza. Esta é apontada como sendo a opinião do atual diretor da CIA nos contatos regulares que mantém com o líder da Mossad, Dedi Barnea. A alternativa apontada como mais aconselhável seria combinar ataques aéreos com incursões pontuais dentro de Gaza.
O discurso de adiar uma invasão por terra na Faixa de Gaza pode ser apenas aquela famosa calmaria que antecede uma grande tempestade.
Porém, o cenário pode ser diverso. Segundo outro grupo de especialistas, o objetivo de Washington seria não excluir uma invasão por terra, mas fazer com que Israel possa adiar a incursão por alguns dias, para que a operação seja mais eficiente, principalmente em termos de propaganda e de controle sobre a opinião pública. Diplomatas americanos estariam ganhando tempo para dialogar com autoridades de segurança no mundo árabe com o objetivo de garantir o apoio de parceiros históricos dos EUA (como Arábia Saudita e Kwait), para tentar evitar uma nova escalada no Oriente Médio.
De acordo com o New York Times, as forças de Israel já estariam de prontidão na fronteira com Gaza. Mas a Casa Branca estaria pressionando Benjamin Netanyahu a atrasar por alguns dias a operação por terra para dar tempo de uma negociação para libertação de reféns e para que mais unidades militares dos EUA cheguem à região. O general israelense Herzi Halevi afirmou que o tempo extra será fundamental para que a operação tenha o máximo de eficiência quando for autorizada.
Até que ponto vai a influência (ou até mesmo interferência) dos EUA na estratégia das Forças de Defesa de Israel?
Nesta terça-feira, o jornal Israelense Haaretz chegou a publicar uma matéria dizendo que é certo que Israel invadirá Gaza por terra. Mas o momento certo de fazer isso cabe a uma decisão de Biden. Parece que os Estados Unidos estão esperando a retirada dos reféns, a evacuação da população civil, a confirmação do apoio de outros aliados na região e a chegada de mais homens e equipamentos bélicos norte-americanos à região. Tudo indica que os EUA estão se preparando para aproveitar o conflito de Israel contra o Hamas para encontrar um caminho para culpar o Irã e derrubar o regime islâmico instaurado em Teerã em 1979.
Mas, para isso, precisariam provar uma conexão muito clara entre os fatos inomináveis praticados no último dia 7 a um apoio direto do Irã. Somente assim seria possível convencer a opinião pública norte-americana e o Congresso Nacional a apoiarem uma empreitada tão ousada.
Outro caminho, semelhante ao que ocorreu em Nova York no dia 11 de setembro de 2001, seria a eventualidade um atentado no próprio solo americano realizado por alguém apoiado pelo Hamas, pelo Hezbollah ou diretamente por Teerã. Isso seria capaz de gerar uma comoção nacional tão grande que poderia criar uma pressão interna para uma incursão direta contra o Irã.
O problema é que nesta quarta (25) foi noticiado que um atirador matou 22 pessoas no estado americano do Maine. Até as últimas informações, parece que os criminosos conseguiram fugir. Espero estar errado, mas tenho a sensação de que, caso sejam encontrados, surgirá uma conexão destes atos com algum tipo de apoio iraniano.
Tudo continua muito estranho. E parece que o discurso de adiar uma invasão por terra na Faixa de Gaza pode ser apenas aquela famosa calmaria que antecede uma grande tempestade. Deus queira que não. Aguardemos.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos