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Biden e Netanyahu em encontro em Tel Aviv, em outubro do ano passado, após os ataques do Hamas
Biden e Netanyahu em encontro em Tel Aviv, em outubro do ano passado, após os ataques do Hamas| Foto: EFE/Miriam Alster

O dia 13 de abril entrou para a história. Tudo mudou ali. Até aquele momento, Irã e Israel vivam uma espécie de “guerra fria”, ou um “conflito por procuração”. Antes, Teerã usava seus proxies (Hezbollah, Hamas e Houthis) para “terceirizar” suas ofensivas contra Tel Aviv. Porém, o décimo terceiro dia de abril marcou o início de um conflito direto. Tanto para o analista consciente quanto para o cidadão atento, a mudança representou uma escalada sem precedentes. É como se o conflito indireto entre Moscou e EUA (tendo a Ucrânia como proxy) evoluísse para um ataque direto de Putin a Washington. Ou seja, algo realmente preocupante.

O mundo ficou com receio de que a novidade pudesse trazer o que todos temiam: uma all-out war, ou seja, uma “guerra total” entre as duas potências regionais, o que poderia escalar facilmente para uma guerra mundial. No entanto, alguns analistas perceberam que um dos desdobramentos da ofensiva inédita contra Israel acabou ajudando não apenas Benjamin Netanyahu, mas também o presidente Biden.

Netanyahu foi capaz de praticamente salvar seu governo e sua carreira política. Após o ataque iraniano, os EUA e alguns países europeus decidiriam enviar para Israel enorme ajuda financeira e militar.

Comecemos por Netanyahu. Eu não sei se você sabia, mas o primeiro-ministro israelense estava enfrentando alguns problemas bem complicados. Primeiro: uma ferrenha oposição interna contra sua gestão, com multidões nas ruas exigindo sua renúncia. Segundo: uma pesada crítica da opinião pública internacional quanto a seu plano de lançar uma ofensiva contra o sul de Gaza, consumando a missão de eliminar completamente o Hamas. Terceiro: a dificuldade de receber novas ajudas financeiras e bélicas dos EUA, uma vez que o presidente da Câmara, Mike Johnson, estava travando esse auxílio.

Agora, você acredita que tudo isso ele conseguiu resolver após a ofensiva iraniana? Netanyahu foi capaz de praticamente salvar seu governo e sua carreira política. Após o ataque iraniano, os EUA e alguns países europeus decidiriam enviar para Israel enorme ajuda financeira e militar. Bibi também ganhou uma justificativa para iniciar sua nova ofensiva contra Rafah, no sul de Gaza, e também uma maior aceitação para ataques contra alvos na Síria e no Líbano.

Alguns poderiam imaginar que, no final das contas, estaríamos diante de um “erro de cálculo” por parte dos estrategistas iranianos. Eu já suspeito que eles sabiam muito bem que esse seria o resultado. Porém, o mais curioso é que o Irã também acabou dando a Biden dois grandes presentes. Primeiro, o presidente americano conseguiu a tão buscada aprovação do Congresso americano para fornecer ajuda e armas não apenas a Israel, mas também para a Ucrânia e Taiwan. Além disso, com a volatilidade advinda do ataque, Biden agora ganhou mais aceitação para retirar petróleo da reserva estratégica, que é um armazenamento de combustível para uso emergencial mantido pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos. Com isso, ele terá uma poderosa ferramenta contra um dos maiores obstáculos à sua reeleição: o aumento do preço dos combustíveis.

Conclusão: é muito estranho pensar que o Irã não teria antecipado esse resultado. Não sabiam eles que o ataque acabaria, na verdade, ajudando seus inimigos? Se bem que, quando lembramos que Biden ofereceu 6 bilhões de dólares aos iranianos em troca da libertação de cinco norte-americanos que estavam presos no país, vemos que os supostos inimigos acabam, por vezes, ajudando-se mutuamente.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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