Boa parte dos acontecimentos que são percebidos como locais acabam fazendo parte de uma estranha tendência global. Por exemplo, muitas das pautas que são abordadas pela mídia e discutidas por governos ganham a atenção do público simultaneamente em todo o planeta. Seria apenas uma coincidência?
O acontecimento mais recente desta natureza são os ataques às redes elétricas, ocorridos em 4 diferentes estados brasileiros: Paraná, Rondônia, São Paulo e Mato Grosso. Em janeiro deste ano, foram 16 torres elétricas danificadas. Destas, 4 foram derrubadas, num mistério ainda sem solução. As informações mais recentes apenas dão conta que o gabinete de monitoramento criado especialmente para investigar os ocorridos encerrou suas atividades, uma vez que os casos cessaram. Graças a Deus. Mas a curiosidade continua quanto às causas e motivações por trás disso tudo.
O Ocidente parece estar caminhando rapidamente para um aumento exorbitante do custo da energia.
O que causou estranheza foi uma matéria publicada no último dia 21 no prestigioso Wall Street Journal, considerado o maior jornal nos Estados Unidos por circulação. O texto revelou que os ataques a estruturas de eletricidade nos Estados Unidos aumentaram 71% no ano passado, comparado com 2021. Além disso, revelou também uma perspectiva de aumento para este ano. O conteúdo veio de um documento confidencial produzido pela North American Electric Reliability Corporation, instituição cujo objetivo é garantir o bom funcionamento do sistema elétrico norte-americano.
Um dos incidentes mais marcantes ocorreu no início de dezembro do ano passado, na Carolina do Norte, quando uma série de ataques a tiro contra redes elétricas deixou mais de 45 mil pessoas sem luz. A maioria das análises atribui os incidentes a grupos motivados ideologicamente, com maior intensidade após 2020. Entretanto, alguns casos emblemáticos remontam a uma década atrás. Em 2013, por exemplo, snipers danificaram 17 transformadores em San Jose, na Califórnia, numa região que é a fonte de energia para todo o Vale do Silício. O acontecimento levou as autoridades a aumentar o nível de segurança nas estações de energia, uma tarefa árdua, uma vez que muitas das estruturas ficam em regiões isoladas.
Num cenário em que se fala tanto sobre crise alimentar e crise energética em nível global, o tema fica ainda mais estranho. O Ocidente parece estar caminhando rapidamente para um aumento exorbitante do custo da energia, podendo chegar aos racionamentos e mesmo ao total apagão. Com a destruição (ainda não explicada) dos gasodutos Nord Stream I e II, a Europa Ocidental fica numa situação energética sensível, principalmente com o aumento dos custos.
Numa época em que se fala tanto sobre crise energética e alimentar, a estrutura elétrica é alvo de ataques, e os países produtores de comida sofrem com regulamentações cada vez mais agressivas
O cenário da África do Sul, visto como isolado, começa a se colocar como uma realidade não tão distante. Incapaz de dar conta da demanda enérgica, desde 2007 o país realiza “cortes de carga”, com a interrupção do fornecimento de energia para diferentes regiões de forma rotativa. Algumas regiões chegam a ficar até 12 horas sem eletricidade por dia. Muitos culpam a desindustrialização do país, resultado das políticas de desinvestimento nas empresas estatais durante do governo de Jacob Zuma. Poderia a Europa chegar a esse mesmo cenário? Parece improvável, mas não impossível.
O estranho é que desde 2013 artigos já alertavam para o perigo da desindustrialização da Europa, que poderia igualmente levar a uma crise energética. O próprio Wall Street Journal publicou uma matéria na época sobre esse tema. Na ocasião, apontaram duas causas para o risco de desindustrialização europeia. Em primeiro lugar, estava a concorrência com a indústria norte-americana, que havia conseguido baratear seu custo energético por meio da exploração do xisto. Por outro lado, havia os exportadores chineses, que tinham acesso a crédito barato do governo e insumos de baixo custo. Com a chegada da crise sanitária e da Guerra na Ucrânia, além da destruição do Nord Stream, os riscos de desindustrialização e crise energética se tornaram dramáticos para a Europa Ocidental.
Neste cenário, os EUA pareciam estar numa posição de vantagem. Porém, não podemos esquecer que entre as primeiras medidas de Joe Biden estava a assinatura de um decreto que suspendia novas concessões federais para petróleo e gás, o que interrompeu o fortalecimento da segurança energética norte-americana.
Está tudo muito estranho. Numa época em que se fala tanto sobre crise energética e alimentar, a estrutura elétrica é alvo de ataques, e os países produtores de comida sofrem com regulamentações cada vez mais agressivas, vide o caso holandês.
Que Deus nos livre da escassez, que sempre é mais severa com os menos favorecidos.
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