A possibilidade de nomeação de Marco Rubio para o cargo mais importante da diplomacia do novo governo Donald Trump está deixando seus apoiadores mais aguerridos em pânico. Isso se deve ao histórico de Rubio e à possibilidade de ele acabar sendo um infiltrado dentro do governo. Alguns até mesmo defendem que ele é uma figura “chantageada”, ou seja, haveria documentos comprometedores sobre ele nas mãos de inimigos que o estão obrigando a seguir uma agenda oculta. Analisemos o caso.
Há um intenso rumor circulando em Washington de que Trump irá nomear Marco Rubio para o importante cargo de secretário de Estado. Nos Estados Unidos, este é o funcionário encarregado da política externa. Ele é quem chefia o Departamento de Estado, por isso, é visto como o topo da cadeia de comando do gabinete presidencial. Devido a esse enorme poder e prestígio, muitos apoiadores de Trump estão descontentes e preocupados com a possível escolha de Rubio para esta função.
Marco Rubio é um “neocon”, ou “neoconservador”, e os os neocons são geralmente comparados ao movimento “Never Trump”
Mas por que tanta resistência a Marco Rubio? Muitos acreditam que seria uma ótima oportunidade de ter, pela primeira vez na história dos EUA, um filho de cubanos chefiando o Departamento de Estado. Passaria uma imagem positiva para os americanos de origem latina. Porém, o histórico de Rubio desagrada boa parte dos apoiadores do presidente eleito. Para entendemos um pouco dessa resistência a Marco Rubio, basta recuperarmos uma opinião de Tulsi Gabbard sobre ele. Gabbard é uma democrata que abandonou o partido e passou a apoiar Trump. Ela foi a primeira pessoa descendente de indianos e originária da Samoa Americana a fazer parte do Congresso norte-americano, tendo servido na Câmara dos Representantes entre 2013 e 2021. Ela também é oficial da reserva dos Estados Unidos, e integra a equipe de transição montada por Trump. No dia 10 de julho, a jornalista Megyn Kelly publicou um trecho de uma entrevista com Gabbard em que perguntou sua opinião sobre a hipótese, ventilada à época, de que Donald Trump cogitava escolher Marco Rubio como candidato a vice-presidente. A resposta foi muito reveladora:
“Eu penso que seria um grande erro o presidente Trump escolhê-lo porque ele representa o establishment belicista neocon de Washington DC, que se posiciona diametralmente oposto às mesmas políticas que o presidente Trump sempre defendeu. Enviaria uma mensagem errada a muitas pessoas que estão muito preocupadas com o fato de estarmos à beira de uma guerra com a Rússia, a China, o Irã e a Coreia do Norte. Se Marco Rubio for seu vice-presidente, muita gente questionará que tipo de política externa será realmente executada. Será aquela política externa que Trump deseja e defende? Ou será aquele que dará continuidade aos belicistas neocon do ‘Estado Profundo’ que nos colocaram na confusão em que nos encontramos agora?”
Ou seja, Rubio é um “neocon”, ou “neoconservador”. Para os críticos dessa filosofia política, ela se refere a uma postura que acabou sendo identificada pelos “falcões da guerra” que apoiam o militarismo agressivo e o neoimperialismo. O termo ganhou maior popularidade na época da postura belicista do governo George W. Bush. Entre os representantes mais notáveis, estão Dick Cheney (ex-vice-presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009), Liz Cheney (ex-deputada por Wyoming), John Bolton (ex-embaixador nas Nações Unidas e ex-conselheiro de Segurança Nacional), Colin Powell (general e político americano), Donald Rumsfeld (secretário de Defesa de George W. Bush), Paul Wolfowitz (vice-secretário de Defesa entre 2001 e 2005 e diretor do Banco Mundial de 2005 a 2007) e Mike Pompeo (ex-deputado pelo Kansas, ex-secretário de Estado dos EUA e ex-diretor da CIA).
Cabe lembrar que os neocons são geralmente comparados ao movimento “Never Trump”, quando um grupo de republicanos se uniu para tentar impedir que Trump obtivesse a nomeação presidencial do Partido Republicano em 2016. Rubio foi um dos que encabeçaram esses esforços, ao lado de senadores como Mitt Romney e Lindsey Graham. Na época, Rubio se disse esperançoso de que a nomeação de Trump como candidato republicano fosse impedida, argumentando que isso “fraturaria o partido e seria prejudicial ao movimento conservador”. Lembrando que os neocons e os “never trumpers” também são geralmente comparados aos “RINOs” – “Republicans in name only”, ou “Republicanos só de nome”. Este era um termo dos anos 20 que foi retomado por Trump para se referir aos seus opoentes, como Colin Powell e Dick Cheney, quando este apoiou a democrata Kamala Harris na disputa presidencial de 2024.
A fala de Tulsi Gabbard em julho representou, portanto, uma espécie de “alerta antecipado” sobre os riscos de nomear Marco Rubio para qualquer cargo de gabinete. Outra análise mais recente contra Rubio foi trazida pela jornalista Candance Owens. Ela argumentou que Rubio fez muitas coisas contra Trump no passado, e que agora o estão bajulando para tentar conquistar algum destaque na nova administração. Ela disse que Trump não pode esquecer o que fizeram contra ele, pois seus antigos oponentes estão, na verdade, usando uma estratégia de bajulação para fins de infiltração. Ele defendeu que esse grupo representado por Rubio chegou ao ponto de tentar ajudar Hillary Clinton a se eleger quando ela concorreu com Trump, lembrando que foram eles mesmos que começaram o movimento “Never Trump”.
Owens defendeu que esses “republicanos apenas no nome” preferiram apoiar a democrata Hillary porque ela é um “falcão de guerra” como eles, faz parte do establishment e integra o “Estado Profundo”. Ela fez um alerta, dizendo a Trump para não se enganar, porque os neocons o odeiam, e acham que ele é fraco, por buscar aprovação, e por isso poderia ser manipulado por meio da bajulação. Neste ponto da conversa, ela começou a defender que muitos dos neocons estão sob chantagem, como seria o caso de Lindsay Graham e de Rubio. Ela diz que este é o motivo pelo qual eles votam a favor de propostas que são claramente prejudiciais ao povo americano, como é o caso dos bilhões de dólares dos pagadores de impostos entregues à Ucrânia.
Diante dos muitos “inimigos íntimos” e traidores que Trump colecionou em sua primeira gestão, espero que ele tenha aprendido com os erros do passado.
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