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Na última segunda-feira (4), a humanidade percebeu que um homem controla, sozinho, o mundo. Se informação é poder, e a comunicação é o veículo do conhecimento, quem comanda três entre as quatro maiores redes sociais existentes tem o planeta em suas mãos. A derrubada de uma empresa abalou bilhões de indivíduos. É muito poder nas mãos de uma única pessoa. Talvez seja por isso que o fundador do Facebook esteja enfrentando uma oposição tão ferrenha, tanto do governo quanto de concorrentes e de ex-funcionários.
Não é a primeira vez que um grupo se torna tão poderoso a ponto de inspirar o desejo de enfraquecê-lo antes que seja tarde. A mando do rei Filipe IV, na noite de 13 de outubro de 1307, todos os templários em território francês foram presos pela guarda palaciana, incluindo seu líder Jacques Molay. O papa Clemente XIV, no dia 21 de julho de 1773, baniu a Companhia de Jesus, mais conhecida como a ordem dos jesuítas. História semelhante está acontecendo com o cofundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, que vive uma tempestade perfeita.
Além de outras plataformas, na segunda (4) tivemos o infame apagão das três grandes empresas de Zuckerberg: Facebook, Instagram e WhatsApp. Numa interrupção de 7 horas, os prejuízos foram imensos. As ações da maior rede social do mundo caíram mais de 5%, acumulando perdas de quase US$ 50 bilhões. Mas o que muitos desconhecem são os outros eventos estranhos que estavam acontecendo simultaneamente com o magnata da tecnologia.
No domingo (3), uma ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen, concedeu uma entrevista ao tradicional programa 60 Minutes alegando, por exemplo, que a empresa privilegia os lucros em detrimento da segurança dos usuários. Antiga gerente de produto na corporação, Haugen já havia repassado ao jornal americano The Wall Street Journal uma série de informações, publicadas nas últimas semanas por meio de um conjunto de reportagens.
O curioso é que, após a polêmica aparição televisiva de Haugen no último domingo, todos aguardavam seu depoimento no Congresso americano agendado para terça (5). Nesse intervalo de tempo, aconteceu a famigerada queda das redes. Puro azar ou uma coincidência quase inacreditável? Difícil saber. Mas os problemas da empresa não terminam aí. No próprio dia 4, o Facebook solicitou à Justiça que rejeitasse o pedido da Comissão Federal de Comércio dos EUA para que vendesse o Instagram e WhatsApp, numa alegação de que a companhia teria um monopólio sobre as redes sociais. Tudo indica que Zuckerberg será novamente convidado (ou intimado) a prestar depoimento perante o Congresso americano.
Há muitas conclusões que podemos tirar do grande “blackout” de segunda, dia 4. Uma delas é perceber quão dependentes nos tornamos de recursos tecnológicos ofertados por poucas empresas. E a tendência é que isso só aumente. Com a crise sanitária, muitos dos pequenos negócios acabaram falindo, de forma que a concentração do poder nas mãos dos gigantes do mercado aumentou consideravelmente. Os poucos que sobraram tiveram que migrar suas vendas para o universo online, de forma que, hoje, 70% dos pequenos negócios no Brasil dependem dos serviços de mensagem para vender. Uma dependência que o evento dessa semana mostrou ser problemática.
Em segundo lugar, o caso nos lembrou dos recentes alertas de Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, tema que já abordei em artigo recente. Depois de afirmar que a crise sanitária era uma “janela única” para reconstruir a economia, o engenheiro alemão defendeu que uma nova crise se aproxima, de potencial destrutivo ainda maior que aquele trazido pelo vírus. Segundo ele, uma pandemia cibernética, com características semelhantes às do Covid-19, teria o potencial de se espalhar cerca de 10 vezes mais rápido do que qualquer vírus biológico. Entre os alvos potenciais de um eventual ataque cibernético estão, entre outros, os sistemas financeiros globais, as cadeias de suprimento e as redes de energia elétrica. Os prejuízos seriam incalculáveis.
Tudo isso parecia muito distante, até que o grande apagão desta última segunda-feira colocou em nós a pergunta: seria isso o primeiro exemplo da nova pandemia cibernética? Era só que faltava. Deus nos guarde.