Na última terça-feira (23), a venda de um terreno virtual por uma bagatela de US$ 2,4 milhões (R$ 13,4 milhões nos valores atuais) acendeu uma luz no mundo geopolítico. Isso porque onde há economia, há classes. Onde há classes, há renda. Onde há renda, há propriedade, concentração e desigualdade. O metaverso está atraindo não apenas os gigantes da tecnologia, do mercado financeiro e dos blockchains, mas também analistas políticos e os mais diversos estudiosos da dinâmica dos jogos de poder. O assunto tem demonstrado tanto interesse que o Facebook recentemente mudou o seu nome para Meta, numa tentativa de dominar as redes de ambientes virtuais. Poder, tudo se resume a poder.
Hoje, partindo da leituras de obras como o clássico “Política, Ideologia e Conspirações”, de Gary Allen e Larry Abraham, sabemos que, ao contrário do que é apregoado, o socialismo não tem como objetivo a distribuição de renda e de poder. O plano realiza exatamente o contrário, concentrando o poder e as riquezas nas mãos de uma pequena elite privilegiada. No mundo de hoje, há uma concentração de poder tão grande nas mãos dos magnatas que dominam a tecnologia a partir do Vale do Silício, que a FTC (Federal Trade Comission) trouxe recentemente uma nova denúncia de monopólio contra o Facebook. O poder é tão grande que eles conseguiram expulsar de suas redes ninguém menos que o presidente americano. Já tendo dominado as finanças, a política e a internet, agora desejam garantir sua hegemonia sobre o metaverso, ou seja, aquilo que tem sido profetizada como a nova Internet.
Esse domínio traz preocupações em termos geopolíticos e de privacidade. As críticas de Jaron Lanier às redes sociais são igualmente válidas ao metaverso. Lanier é engenheiro da Microsoft, criador da expressão “realidade virtual” e conhecido como “o filósofo do Vale do Silício”. Ele defende, em livros como “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais”, que os efeitos perniciosos das novas tecnologias estão destruindo vidas. Na pretensão marxista de fazer tudo de graça, de não cobrar nada dos usuários para acessar suas plataformas, as redes sociais acabam aplicando uma perigosa engenharia social, minerando dados privados e influenciando seu comportamento com o objetivo de extrair cada vez mais informações e magnificar a interação, geralmente, por meio de comportamentos negativos e agressivos. Dessa forma, criam um consumidor cada dia mais influenciável, sempre envolvido numa rede pavloviana de estímulos e respostas. Se as redes sociais tradicionais já funcionavam como um parque de diversões para a engenharia social, a espionagem e as mais diversas operações psicológicas, pergunto: quanto o metaverso poderia fortalecer ainda mais esse grande sistema de controle?
Tudo parece indicar que o metaverso será o arauto da Internet dos Corpos, a evolução natural da Internet das Coisas. Inclusive, tenho a impressão que essa próxima fase do desenvolvimento das tecnologias de interação mediada por computador irá definir o novo imperador tecnológico global. Há hoje uma enorme disputa sobre quem dominará as novas tecnologias. Alguns analistas defendem que Bill Gates perdeu a era dos smartphones. A Microsoft dominava o mercado, com um monopólio forte, mas foi superada pela Apple, Google e Facebook, não exatamente em termos econômicos, mas em relevância. O detalhe é que Gates percebeu que o próximo smartphone é o corpo humano. O 5G deve inaugurar a era da IoT (Internet das Coisas, traduzido do inglês). Porém, o 6G vai instaurar a era da IoB (Internet dos Corpos). Como muitos dizem: “Data is the new oil” (“dados são o novo petróleo”). Os dados são a nova riqueza no mundo atual. Como será a coleta e o processamento desses dados? Quem vai dominar o mercado das mídias humanas? Imagine o tamanho do poder nas mãos da empresa que dominar o metaverso, com acesso direto ao corpo do “cliente”, num monitoramento total, em tempo real?
Poder, é tudo sobre poder. E este é um tema que Marx compreendia muito bem. Fiquem de olhos abertos, pois os magnatas do Vale do Silício representam a mais fiel expressão marxismo no mundo contemporâneo: nadam em dinheiro, capitalizam sobre a concentração e o monopólio, mas sempre em nome da igualdade, da neutralidade, em seu coletivismo interesseiro, que Jaron Lanier chamou de “maoísmo digital”...
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