Quem poderia imaginar que, em pleno século XXI, viveríamos uma nova Guerra Fria? Desta vez, os americanos não estão disputando o controle global apenas com os russos, mas com a China. E o 5G, a quinta geração da internet móvel, se transformou no tópico de maior destaque nessa contenda, tanto pelo gigantesco potencial econômico quanto por seu componente geopolítico. O controle do fluxo de informação é uma questão estratégica e de segurança nacional, mas também envolve aspectos de inteligência, com o fluxo de dados sensíveis em termos de soberania. Sem falar que a alta velocidade trazida viabilizará não somente carros sem motoristas, casas e cidades inteligentes, mas principalmente aplicações bélicas, como drones e comunicação de combate.
Para vencer essa batalha, Washington iniciou uma odisseia na tentativa de barrar a Huawei, gigante chinesa da telecomunicação, em importantes mercados globais. A empreitada do Tio Sam foi vitoriosa na Europa, Reino Unido e Austrália. Porém, a partir de 2017, o Brasil se transformou no próximo campo de disputa. E o resultado desses 4 anos de combate saiu nesta semana. Mas quem venceu? Bem, há controvérsia.
Neste ano, o interesse dos americanos de retirar os chineses do 5G brasileiro se mostrou tão grande que eles enviaram ao Brasil não apenas o Conselheiro de Segurança Nacional, mas o próprio diretor da CIA. No entanto, é importante explicar que a tarefa de excluir completamente a Huawei do sistema brasileiro seria uma missão muito custosa e quase impossível logisticamente. Os ingleses tentaram fazer isso, mas desistiram. A gigante chinesa da tecnologia fornece hoje cerca de 50% de nossas redes de 3G e 4G. Não há viabilidade de expurgá-los por completo, como desejariam os americanos. Dessa forma, ficamos numa sinuca: como agradar um lado, sem irritar o outro? Pode parecer impossível, mas o Ministério das Comunicações encontrou uma solução mirabolante.
Houve uma cisão entre as redes 5G comerciais e aquelas privativas do governo, para a qual a Huawei não poderá fornecer equipamentos. Dessa forma, os chineses ficaram de fora da atuação em bandas onde trafegam dados sigilosos, governamentais. Assim, o Brasil agrada os americanos. Mas a pergunta que fica é: será que Pequim irá nos retaliar por isso? Talvez não, uma vez que a rede governamental é importante em termos geopolíticos, mas ínfima em aspecto econômico. A gigante asiática poderá atuar nos demais setores, onde está o grande potencial econômico, com potencial de se transformar no grande personagem do 5G nacional.
Alguns podem perguntar: como a empresa chinesa atuará no Brasil uma vez que não participou do leilão do 5G? Explico. O edital estabeleceu que apenas operadoras de telefonia poderiam participar. A Huawei não é operadora, mas fornecedora de equipamentos de infraestrutura de telecomunicações. Ou seja, mesmo não tendo participado do pregão, a empresa poderá fornecer equipamentos para as operadoras que venceram a disputa.
Conclusão: os chineses perderam, mas ganharam. Ficaram de fora das redes governamentais, o que pode ser entendido por Pequim como um recado de que o governo brasileiro desconfia de suas práticas. Porém, ao mesmo tempo, poderão ganhar muito dinheiro fornecendo equipamentos de infraestrutura e desempenhando grande protagonismo no 5G nacional.
A pergunta remanescente é: será que o Brasil conseguiu agradar gregos e troianos, ou acabou irritando tanto americanos quanto chineses? Ainda é cedo para responder. Analisemos o desenrolar dessa história. Talvez, uma eventual derrubada do bloqueio à importação da carne brasileira para China possa nos dar a resposta. Aguardemos.
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