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Nesta terça-feira (23) aconteceu o funeral de Darya Dugina, filha do filósofo Alexander Dugin, considerado (talvez erroneamente) o maior conselheiro de Vladmir Putin. Explosivos colocados em seu carro destruíram completamente o veículo no último sábado (20). Seguindo os passos do pai, Dugina defendia a invasão russa à Ucrânia, o que poderia ter motivado o crime. Não se sabe ainda se o alvo era o filósofo ou sua filha, uma vez que ela dirigia o carro que, segundo informações, pertencia ao pai.
Autoridades russas atribuem a autoria à Ucrânia. Kiev, entretanto, acusa Moscou de ter realizado um “ato de bandeira falsa” para justificar medidas mais duras contra os ucranianos. É difícil determinar o que realmente está em jogo. Entretanto, o caso acontece numa semana muito importante para a batalha ainda em curso.
Nesta quarta-feira (24) é comemorada a independência ucraniana, enquanto na quinta-feira (25) está agendada uma sessão do parlamento russo. Alguns analistas esperam que mudanças significativas na política externa russa sejam anunciadas na ocasião, em direção a uma escalada do conflito.
O presidente ucraniano já emitiu um alerta de que são esperados ataques “cruéis” por parte da Rússia no dia da Independência da Ucrânia. Em Kiev, muitos já estão deixando a cidade por receio de que uma ofensiva aconteça. A própria embaixada norte-americana no país pediu que os cidadãos dos EUA saiam da região o mais rápido possível.
A morte de Darya pode desencadear uma enorme indignação nacional russa, funcionando como poderoso pretexto para o aumento da tensão na Ucrânia, talvez até maior caso o alvo fosse o pai. Como se trata da morte precoce de uma jovem mulher, o nível de indignação é muito maior, o que deve fazer com que as redes sociais do país sejam inundadas com conteúdos pró-Rússia, clamando por um contra-ataque de Putin. É possível que o caso também torne menos incisiva uma resposta ocidental a uma possível ação russa, que poderá usar o ocorrido para colocar sua reação como meramente "retaliatória".
No Brasil, Alexander Dugin se tornou mais conhecido por meio de um debate realizado com Olavo de Carvalho, que acabou resultando no livro Os Estados Unidos e a Nova Ordem Mundial. Muitos tentam, inclusive, comparar Olavo a Dugin. Neste contexto, cabe observar que, assim como a mídia demonizou o professor brasileiro, hoje o filósofo russo Alexander Dugin também tem se transformado no “bicho-papão” da mídia internacional, principalmente britânica e norte-americana, enquanto exaltam o presidente ucraniano como uma espécie de herói do mundo contemporâneo. Esse é o problema de transformar a informação em espetáculo, criando estrelas e vilões, mobilizando a atenção internacional motivados por um viés que sempre pende, curiosamente, para a esquerda do espectro ideológico.
Enquanto isso, sigo aqui de olhos abertos, duvidando de atores transformados em presidentes e de agentes do serviço secreto fantasiados de tiranetes. Deus queira que a morte de Dugina não leve o povo ucraniano a sofrer ainda mais nesta guerra insana, que só favorece poderosos na segurança de suas mansões e interesses escusos, ocultos aos olhos da maioria da população.