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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica provocativa

Milei trouxe para a América do Sul a guerra em Israel

O presidente de Israel, Isaac Herzog (à direita), reunido com o presidente da Argentina, Javier Milei (à esquerda), na residência presidencial em Jerusalém nesta terça-feira (6) (Foto: EFE/EPA/HAIM ZACH/GPO)

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Javier Milei tem todo o direito de colocar a embaixada de seu país onde desejar. Eu apenas fico com dúvida se o momento é adequado. Em sua primeira viagem oficial após as pesadas críticas em Davos (em minha opinião, com o consentimento de Klaus Schwab), ele visita Israel num ambiente de completa tensão (em meio à guerra contra o Hamas, o Hezbollah e, talvez, contra o Irã). Já na chegada, fez (como de costume) declarações bombásticas, anunciado que a Argentina mudará sua embaixada para Jerusalém, repetindo o que já fizeram EUA e Guatemala, tempos atrás.

Milei foi recebido no aeroporto pelo ministro das relações exteriores Israel Katz, que disse ao argentino, na saída do avião: "Obrigado por reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e por anunciar agora a transferência da embaixada argentina para Jerusalém, a capital do povo judeu e do Estado de Israel”. As conversas já foram suficientes para gerar uma declaração pesada do Hamas contra o líder argentino, cobrando Milei para que revertesse sua decisão, afirmando que a decisão violaria as regras do direito internacional e colocaria a Argentina como parceiro de Tel Aviv em suas ações contra os palestinos.

Seguimos na torcida para que a postura de Milei não traga para a América do Sul o conflito que aflige hoje o Oriente.

Eu não sei se você entende o que pode sair disso. Não se esqueça que a Argentina abriga a maior comunidade judaica na América do Sul, sendo a terceira maior das Américas, e o sétimo maior contingente de judeus fora de Israel. Por isso, infelizmente, o país já foi palco de alguns dos mais terríveis atentados terroristas das Américas, como o ataque à embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992 (deixando 29 mortos e 242 feridos) e o ataque contra a AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina) ocorrido também na capital argentina no dia 18 de julho de 1994, deixando 85 mortos e centenas de feridos. Portanto, o receio é que a postura de Milei possa aumentar o risco para os judeus que vivem na Argentina.

Milei, logo depois da interação com o chanceler israelense no aeroporto, visitou nesta terça (6) o muro das lamentações, onde ficou vários minutos e posteriormente saiu emocionado. Isso tudo acontece num momento em que Biden tenta a angariar parceiros sul-americanos para fazer frente à presença chinesa cada vez maior na região. O jornal argentino Clarín noticiou, por exemplo, que no próximo mês de maio o porta-aviões USS George Washington, da Marinha norte-americana, visitará a Argentina, atitude que foi interpretada como uma aproximação de Washington a Buenos Aires com o fim de frear a crescente força chinesa na região.

Caso Donald Trump retorne ao poder em 2025, fica claro que a Argentina será seu maior aliado na região. Seria este movimento o início de uma guinada sul-americana para o time do G7 e de Israel, afastando-se dos BRICS?

O tempo dirá. Tudo vai depender do resultado de novembro deste ano nas disputas pela Casa Branca. Enquanto isso, seguimos na torcida para que a postura de Milei não traga para a América do Sul o conflito que aflige hoje o Oriente.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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