| Foto: Rehan Khan / EFE
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No último artigo que escrevi prometi abordar o tema da relação entre o Japão e os países do Oriente Médio. O tema veio à tona devido ao crash da bolsa japonesa nesta última segunda-feira (5), que afetou mercados mundo afora e trouxe preocupações de uma crise global. No referido artigo, expliquei que se trata de um tema espinhoso e recheado de lendas urbanas. Comecemos pelas lendas urbanas, seguindo das insanidades para as razoabilidades.

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Muitos anos atrás, esbarrei num vídeo muito louco do jornalista Benjamin Fulford, em que ele comenta sobre uma entrevista que realizou com Heizō Takenaka, que foi ministro da economia e também das comunicações, no Japão. Fulford perguntou ao ministro o motivo pelo qual o Japão teria entregue seu sistema financeiro a um grupo de oligarcas americanos e europeus. A resposta é difícil de acreditar. Segundo o jornalista, esses oligarcas teriam dito que, caso os japoneses não aceitassem o acordo, o país seria atingido por uma máquina capaz de provocar terremotos. Não entrarei nesse assunto, pois considero piração demais.

O detalhe é que já li em outros lugares que o argumento havia sido diferente. A questão era que, se o Japão continuasse enviando tecnologia atômica para o Irã, o país seria atingido por essa arma tectônica, que destruiria suas usinas nucleares, que são vitais para a segurança energética do país. Isso porque, conforme no artigo mais recente que publiquei aqui, o Japão importa quase 95% do petróleo que utiliza. Diversificar sua matriz energética é algo de elevada importância estratégica para o país. Mas, por incrível que pareça, suas usinas nucleares acabaram sendo destruídas por terremotos. Coincidência? Sinceramente eu não sei. Acredito que não. Mas as lendas me serviram de inspiração para um interessante estudo.

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Partindo desta loucura toda, eu comecei a pesquisar como era a relação dos japoneses com o Irã, e se realmente o Japão havia fornecido tecnologia nuclear para os iranianos. A relação diplomática entre os dois países é antiga, remontando ao ano de 1926, ainda na era Pahlevi. Excetuando-se o período da 2ª Guerra Mundial, ambos têm sido nações amigas. O interesse do Japão em estreitar os laços com Teerã tem como maior motivação a busca por petróleo. O Irã é o terceiro maior fornecedor de petróleo para o Japão, compreendendo cerca de 15% do total das importações, ficando atrás apenas dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita. Em contrapartida, segundo os dados oficiais, o Japão exporta para os iranianos automóveis, produtos elétricos e petroquímicos.

O Japão também fornecia secretamente tecnologia nuclear para o Irã construir sua bomba atômica?

Porém, a pergunta que fica é: o Japão também fornecia secretamente tecnologia nuclear para o Irã construir sua bomba atômica? Talvez não o país, mas alguns cidadãos. Por incrível que pareça, em fevereiro deste ano, o governo dos EUA indiciou um líder do crime organizado japonês por tentativas de traficar materiais nucleares como o urânio e o plutônio para o Irã. O curioso é que o caso não ganhou atenção no mundo, mas foi noticiado em Israel, talvez o país mais interessado quando o tema é impedir o Irã de possuir armas nucleares. Tudo muito estranho.

Seria a destruição da usina de Fukushima um meio de impedir que o Japão se tornasse autônomo energeticamente? Muito difícil dizer, pois teríamos que considerar a possibilidade de terremotos criados pelo homem, o que não irei fazer aqui. O pessoal do chapéu de alumínio diria que foi uma punição pelo fato do Japão repassar equipamentos atômicos para o Irã. Outra postura delirante.

O problema é que estava agendada para janeiro de 2024 a reabertura da maior usina nuclear do mundo, chamada Kashiwazaki-Kariwa, que está localizada na cidade de Niigata. A usina foi desligada em 2011, quando aconteceu o tsunami que destruiu a usina de Fukushima, por receios de segurança. Em 2023, a Autoridade de Regulação Nuclear do Japão retirou o veto que tinha imposto ao funcionamento da usina. A reinauguração estava agendada para dia 6 de janeiro de 2024. Porém, cinco dias antes, no dia primeiro de janeiro deste ano, o Japão foi atingido por nada menos do que 155 terremotos num único dia, o que levou as autoridades locais a decidir pelo adiamento do retorno da maior usina do mundo, para a tristeza dos japoneses e para a alegria daqueles que não querem um Japão menos dependente da importação do petróleo e, portanto, menos “manipulável”.

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A conversa é louca, mas agora você entende melhor como um apocalipse poderia começar pelo Japão.