“Nunca desperdice uma boa crise”. A frase é geralmente atribuída a Winston Churchill. Entretanto, especialistas afirmam que se trata, na verdade, de uma “Churchillian drift” (ou "deriva churchilliana”), fenômeno em que citações de autores desconhecidos são imputadas a grandes figuras históricas. Para além da autoria, fato é que muitos líderes internacionais já fizeram uso do conceito para propagandear suas agendas e visões de mundo. Talvez o exemplo mais recente seja o líder do Fórum Econômico Mundial Klaus Schwab defendendo que a pandemia criou uma “estreita, mas imperdível oportunidade de implementação do Grande Reset”, sua proposta de uma sociedade “mais justa e igualitária”. Uma propaganda muito bela, mas que esconde um obscuro projeto de poder, em que as massas estarão cada vez mais dependentes do Estado, controlado por grande corporações e tecnocratas.
Se a fala de Schwab encarava a crise sanitária como grande oportunidade, a guerra na Ucrânia abriu caminho para que esse processo de redução da autonomia pudesse ser acelerado exponencialmente. Como não poderia deixar de ser, os abutres de plantão estão aproveitando para avançar seus projetos tirânicos diante da nova instabilidade mundial. Se a pandemia gerou, por um lado, falta de chips para a produção de automóveis, a crise em Kiev está trazendo um cenário cada vez mais real de escassez de alimentos a nível global. Para o cidadão comum, esta é uma informação muito triste e preocupante. Contudo, para os oportunistas, é motivo de empolgação, uma vez que esse contexto tenebroso está trazendo de volta o maior de todos os instrumentos de dominação: o controle da oferta de alimentos. “Quem te alimenta te controla”, dizem alguns. E isso está sendo visto por muitos tiranetes como uma chance imperdível para aumentar seu poder.
No profético livro “Nosso Inimigo, o Estado”, Albert Jay Nock explicou de forma clara e brilhante a maneira como as crises são sempre aproveitadas para o aumento do poder estatal em detrimento do poder social. Ele associa diretamente o poder estatal ao poder político, que sempre está em desacordo com os interesses da sociedade, ainda que o discurso seja sempre de conformidade com o desejo das massas. O autor defende que o Estado não possui seu próprio dinheiro, nem seu próprio poder. Em condições normais, todo o poder que o ele possui é exatamente aquele que a sociedade lhe concede. Entretanto, de tempos em tempos, o Estado “confisca” poder, em épocas de crises. Pense num contexto de escassez de alimentos, inflação elevada e aumento da pobreza. O povo fica nas mãos do Estado para suprir suas necessidades mais básicas, como a própria alimentação. Pense nas propostas de renda básica universal, moeda digital controlada pelos Bancos Centrais e o sistema de crédito social. Quem não seguir a cartilha do Estado não come. Simples assim. E somente um mundo em caos completo poderia dar ao cidadão comum a ideia de que seria benéfico renunciar a seus direitos em troca de comida e segurança.
Desde os tempos de Albert Jay Nock (lembrando que o livro foi publicado em 1935), foi instaurada uma propaganda estatal de que o povo deveria deixar tudo nas mãos do Estado. Isso simplesmente atrofiou a disposição geral das pessoas para resolver seus problemas por conta própria. Dessa forma, o Estado foi invadindo as mais diversas áreas da sociedade, de modo que, por exemplo, toda intervenção estatal na indústria e no comercio sempre terá o mesmo objetivo: aumentar o poder do Estado por meio da redução do poder social. Como ilustração, numa entrevista recente, o economista Simon Hunt defendeu, por exemplo, que o governo chinês provocou a atual crise imobiliária para que pudesse retomar o controle sobre seu sistema habitacional, comprando tudo por preço de banana.
O problema é que quando o Estado assume funções sociais ele é capaz de criar um completo monopólio, por meio de uma concorrência desigual com o setor privado, impondo taxas e regulações aos concorrentes. Imagine toda a renda do cidadão ser concedida e controlada pelo Estado. Quem poderia oferecer concorrência? Infelizmente, é para este caminho que o mundo está seguindo. Veja, por exemplo, o serviço de comunicação russo. Hoje, as emissoras estatais realizaram um total monopólio sobre o fluxo de informação no país. Enquanto veículos estrangeiros como BBC e Deutsche Welle tiveram seu acesso restrito e jornais independentes foram simplesmente fechados, veículos estatais como a agência de notícias TASS, o canal de televisão RT e a agência de informações Sputnik ganharam controle total. A atual crise trouxe a Putin o cenário perfeito para controlar a mídia completamente. Ou seja: aumento do poder estatal em detrimento do poder social.
Nos mais diversos lugares, a pandemia e a Guerra na Ucrânia estão servindo de perfeito álibi para fazer avançar a ideia de que o aumento do poder e do controle estatais são não apenas necessários, mas saudáveis e inevitáveis. A instituição da pobreza e da dependência da ajuda governamental funciona como um perfeito ativo político, sempre colocado como provisório, mas que invariavelmente evolui para uma tomada permanente de poder. Depois que o Estado conquista mais uma fatia do da sociedade, dificilmente ele será devolvido ao público. E a Era do Controle está apenas começando.
Seria possível reverter essa tendência? Para Albert Nock, não há como impedir o progresso do poder estatal em detrimento do poder social. Entretanto, se informação é poder, quanto mais as pessoas entenderem essa dinâmica menos fácil será para o controlador abocanhar a autonomia do cidadão comum.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião