O título deste artigo foi inspirado num vídeo recente do investidor Mark Moss, que abriu meus olhos para um problema que poucos têm comentado. A cada dia é mais frequente nas publicações online uma célebre frase atribuída a Henry Kissinger, antigo Conselheiro Nacional de Segurança dos EUA. Ela é mais ou menos assim: “Quem controla o abastecimento de alimentos controla as pessoas; quem controla a energia pode controlar continentes inteiros; quem controla o dinheiro pode controlar o mundo". Um dos motivos que tem feito a citação ressurgir são as propostas relacionadas ao chamado Great Reset, tema que já abordei aqui em outras oportunidades. Muitos identificam certa histeria nos comentários sobre essa ousada proposta de repaginar o mundo como o entendemos. Um antídoto para fugir aos delírios é partir de fontes primárias. Por este motivo, inicio a presente reflexão retomando um artigo publicado por Klaus Schwab no site do Fórum Econômico Mundial (FEM) no dia 03 de junho de 2020. Nele, o economista alemão defende a tese de que a pandemia representa uma “rara mas estreita janela de oportunidade para refletir, reimaginar e redefinir nosso mundo para criar um futuro mais saudável, justo e próspero”. Deus queria que seja isso mesmo. Porém, costumo pautar minhas reflexões por um importante preceito bíblico: “Examine todas as coisas; retende o que é bom”. Examinemos.
Pode ser que o Great Reset seja apenas uma maneira de “melhorar o capitalismo”. Porém, alguns o interpretam a partir da premissa de Kissinger, enxergando na proposta uma maneira de faturar bilhões e aumentar ainda mais o controle dos poderosos sobre as massas. A frase do antigo diplomata coloca três pontos de análise sobre a busca pelo poder que todos devem sempre ficar de olho: o controle dos alimentos, da energia e do dinheiro. Em geral, especialistas abordam o “Grande Reinício” como uma nova ordem financeira global. Eles o enxergam como uma espécie de reedição do Acordo de Bretton Woods, que definiu, em 1944, um novo sistema de gerenciamento econômico internacional, formalizando regras para as relações comerciais entre os países mais desenvolvidos. No entanto, um aspecto não muito frequente das análises sobre esse novo cenário proposto é seu componente alimentício.
O grande argumento para uma reforma dos hábitos alimentares é a questão da mudança climática. Especialistas têm argumentado que precisaremos, a cada 2 anos, de reduções de carbono equivalentes à que tivemos no ano de 2020, para “manter os limites seguros para o aquecimento global”. E um dos instrumentos para evitar o caos climático é, na opinião deles, controlar o consumo de carne, o novo vilão do clima global.
No dia 17 de janeiro de 2019, foi publicado um artigo no site do FEM cujo título é bem elucidativo: “Por que todos nós precisamos seguir a ‘dieta da saúde planetária’ para salvar o mundo”. Neste ano, no dia 12 de março, foi publicado outro texto no site do Fórum com o título: “Soluções baseadas na natureza podem salvar o planeta, mas somente se mudarmos nossa dieta também”. E qual seria essa dieta miraculosa? Outro estudo publicado por eles responde: “As dietas à base de plantas serão essenciais para o futuro do planeta, diz relatório”. Para eles, a humanidade somente poderá salvar o planeta se deixar de comer carne e buscar outras proteínas alternativas. Há uma campanha já antiga que tenta estabelecer a associação dos gases liberados por touros e vacas como os grandes poluidores globais.
Nesse sentido, o que eles poderiam fazer para reduzir o número de vacas no mundo? Investir numa campanha contra o consumo? Isso eles já estão fazendo há muito tempo. Outro caminho mais recente, que muitos não percebem, é um movimento que os americanos estão chamando de “farmers squeeze”, que espreme o produtor rural. Eu escrevi um artigo recente sobre esse tópico. Os fazendeiros americanos estão sendo empurrados para fora do mercado. Grandes fundos de investimento estão se dedicando fortemente à aquisição de terras agricultáveis. Comentei, por exemplo, no referido artigo, que Bill Gates já se transformou no maior dono de fazendas nos Estados Unidos. Provavelmente ele não planeja investir na pecuária.
Em 27 de fevereiro de 2019, a Reuters publicou uma matéria mostrando que a dívida dos agricultores americanos subiu para níveis somente vistos durante a crise agrícola dos anos 1980. A pressão sobre os agricultores tem sido tão grande que estudos mostram que eles estão em primeiro lugar no ranking das profissões com maiores taxas de suicídio, com 85 mortes por 100 mil pessoas.
E quem são os maiores produtores de carne no mundo? Segundo o próprio Departamento de Agricultura americano, os EUA estão em primeiro lugar, o Brasil em segundo e a União Europeia em terceiro. Mas, nos EUA, apenas 4 empresas dominam 85% do mercado de produção de carne. E duas delas estão sob o controle de brasileiros...
Eles estão determinados a convencer (ou futuramente obrigar) o mundo a deixar de comer carne. Mas não divulgam os dados mostrando que alimentar vacas com algas marinhas pode reduzir sua emissão de metano em até 82%, conforme estudo publicado no dia 18 de março no jornal inglês The Guardian.
Com os Estados Unidos agora de volta ao Acordo de Paris, os signatários estão programando trilhões em investimento anual para adequar as finanças internacionais a empresas e governos que sejam partidários dessa nova moda. Aí você imagina que os grandes controladores da produção de carne mundial estariam contra esse projeto, certo? Errado. Alguns já entraram na corrida pela busca por substitutos para a carne. Eles já estão criando uma “coalizão global de proteína sustentável”.
O processo em curso é a concentração da produção de carne e a posse das terras agricultáveis cada vez nas mãos de menos pessoas. Nesse meio, surge Bill Gates argumentando que as nações ricas deveriam abandonar de vez o consumo de carne bovina e adotar completamente o bife sintético. Curiosamente, ele disse que, caso não seja possível alterar de forma espontânea os hábitos alimentícios das pessoas, poderão ser usadas regulações para mudar completamente a demanda. Talvez seja só uma coincidência o fato de ele investir em inúmeras empresas desse ramo de carne artificial. Mas fique tranquilo caso não queira comer bife sintético. Existem outras opções muito “interessantes”, conforme matéria do último dia 8 de maio, que trouxe o seguinte título: “Se queremos salvar o planeta, o futuro da alimentação são os insetos”...
Será que esse pessoal está realmente preocupado em salvar o planeta, ou em controlá-lo? Dinheiro, energia e comida. Nunca foi tão importante parar e pensar sobre isso. Depois que as leis forem aprovadas, já será tarde demais.
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