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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica cínica

O homem que destruiu a ordem mundial (e isso não é algo bom)

Para uma nova ordem surgir, a atual precisa ser superada (Foto: Nikkei)

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Uma das coisas mais impressionantes que o mundo pode contemplar hoje é a destruição proposital do país mais poderoso do mundo. É um caso a ser estudado por anos a fio. Depois de alguns meses, ficou claro que a Guerra na Ucrânia foi um movimento provocado pelo Ocidente com o suposto intuito de trazer Kiev para a Otan e frear os objetivos geopolíticos russos. Essa é a narrativa oficial. Entretanto, hoje sabemos que os grandes prejudicados foram os europeus e, por incrível que pareça, os próprios norte-americanos.

A economia mais potente do mundo está amargando uma crise sem precedentes, com inflação recorde e um risco real de escassez não apenas de combustível, mas de alimentos. Um cenário completamente distinto daquele comparado à gestão anterior, quando os Estados Unidos haviam conquistado sua autossuficiência energética e o posto de grande produtor mundial de grãos. Contudo, motivado pela proposta de uma “economia verde”, Biden destruiu a indústria do petróleo e, após as sanções à Rússia, colocou os EUA numa posição muito complicada em termos geopolíticos.

Para enfrentar o problema, o presidente americano poderia simplesmente reverter a polêmica decisão que tomou poucas horas depois de sua posse em 2021: o decreto que cancelou as obras do oleoduto Keystone XL, que traria petróleo do Canadá para o Texas, cruzando o território norte-americano. Uma pressa muito estranha, e que está trazendo enormes prejuízos para Washington. Em vez disso, preferiu insistir na tentativa de buscar petróleo da Arábia Saudita e dos inimigos Irã e Venezuela. Tudo muito estranho.

Não podemos esquecer das outras estranhíssimas medidas de Biden nas primeiras horas de seu governo. Ele determinou, por meio de ordens executivas, que o governo federal interrompesse a autorização de novas perfurações de petróleo e gás, aboliu subsídios aos combustíveis fósseis e determinou que os veículos do governo fossem substituídos por modelos elétricos. Neste detalhe parece estar o grande objetivo dessa escalada proposital: tornar a gasolina tão cara que os carros movidos a combustível se tornem inviáveis. Parece haver uma tendência clara neste sentido.

Havia uma série de medidas mais simples e baratas que poderiam aliviar o bolso do norte-americano. Mas parece que a gestão Biden está escolhendo sempre o caminho mais difícil e caro, totalmente desfavorável ao povo. Enquanto a Europa está liberando o retorno das usinas termelétricas como forma de tentar conter o avanço desenfreado do custo da energia, Biden agora está sugerindo taxar o petróleo para conter a inflação. Para o leitor desatento, isso pode parecer uma atitude de um presidente que quer o melhor para seu país. Entretanto, para o observador mais atento, fica cada dia mais sugestiva a ideia de que o atual chefe do executivo em Washington é apenas um instrumento de um poderosos grupo que deseja nada menos do que destruir a América.

Na grande mídia, há um alarde de que os EUA estão, por meio das sanções, sufocando o governo Putin. Porém, na verdade, vemos europeus e norte-americanos comprando não apenas o petróleo, mas fertilizantes e muitos outros insumos russos, por meio de intermediários, e por um valor muito acima do mercado. Ou seja, é tudo uma grande encenação. Eles continuam adquirindo de Moscou, mas indiretamente. E, ainda por cima, terão provavelmente que pagar em rublos, e não em dólares.

Biden conseguiu destruir a ordem mundial comandada pelos EUA, tirou o dólar da posição de reserva de valor global, trouxe fim ao petrodólar e fortaleceu ainda mais não apenas o poder de Putin, mas jogou a Rússia no colo da China, consolidando o bloco eurasiano.

Você pode não se preocupar muito com isso, mas há motivos que chamam nossa atenção enquanto brasileiros. Essa demolição proposital da Ucrânia, da Europa e dos EUA abre caminho para que o Brasil se transforme no novo líder mundial na produção de energia e alimentos. A diretora-geral da OMC chegou a dizer recentemente que o “mundo não sobrevive sem a agricultura brasileira”. Porém, meu receio é que, depois de terminada a demolição forçada dos Estados Unidos, os controladores do mundo voltem seus olhares de abutres para o Brasil. Que Deus nos guarde.

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