A nova moeda dos BRICS está chegando, provavelmente com o yuan digital como base.| Foto: Reprodução
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No último dia 21, Robert Kiyosaki, autor do famoso livro Pai Rico, Pai Pobre, recebeu em seu podcast Andy Schectman, presidente da Miles Franklin Ltd. Precious Metals. A conversa trouxe informações indispensáveis para quem deseja entender realmente para onde o mundo está caminhando, e o que podemos fazer para nos preparar para as enormes mudanças que estão chegando. O tópico central de sua fala foi a ascensão dos BRICS (o grupo dos países emergentes, compostos por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) diante de um Estados Unidos cada vez mais enfraquecido.

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Schectman mostrou que, em 2016, muito estranha e repentinamente, o Deutsche Bundesbank (o Banco Central alemão) começou a repatriar seu ouro que estava em outros países, principalmente o dos EUA e da França. Os alemães haviam enviado para o exterior suas reservas no contexto do final da 2ª Guerra Mundial, para evitar de o tesouro cair nas mãos dos russos em caso de uma eventual invasão. Logo em seguida após a decisão alemã de trazer de volta seu metal precioso em 2016, vários bancos centrais europeus começaram a fazer o mesmo.

O mundo está fugindo do dólar, de forma que, assim, os EUA perdem seu principal mecanismo de influência global, restando apenas a força bélica.

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Durante muito tempo, ninguém estava entendendo a motivação para isso, uma vez que, à época, o ouro estava se desvalorizando há alguns anos, principalmente após a ascensão do bitcoin e outras criptomoedas. Não fazia sentido o movimento. Qual seria a razão para trazer de volta um ativo que não estava sendo valorizado?

A resposta está relacionada ao Banco de Compensações Internacionais (BIS). Sua essência está no seguinte: o BIS administra o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, por sua vez, administra os bancos centrais ao redor do mundo. O corpo desse controle é chamado de BCBS – o Comitê de Basileia de Supervisão Bancária. Este é o pessoal que controla o mundo no final das contas, e que decide o futuro do planeta. Vale lembrar que o sistema de dominação mundial e exclusiva do dólar foi criado em 1944 em Bretton Woods, e refeito em 1976 na Jamaica, quando a equivalência do ouro ao dólar foi cancelada. O dólar foi transformado na reserva de valor global e o ouro foi rebaixado a um bem comum.

Porém, uma gigantesca mudança aconteceu no dia 29 de março de 2019, quando o BCBS decidiu restituir a posição do ouro como moeda de troca, em nível igual ao dólar, o euro e a libra esterlina. Agora fica claro entender o motivo pelo qual os bancos centrais estavam repatriando seus metais preciosos e comprando ouro físico em larga escala. Isso tem um enorme impacto na ordem internacional vigente, até então dominada pelo dólar como reserva de valor global. Pode até mesmo ser que essa recente ascensão do ouro (e, portanto, desvalorização da moeda americana) possa ter efetivamente encerrado a atual ordem internacional. Alguns já arriscam dizer que a era do dólar, que durou de 1944 a 2019, terminou.

O mundo está fugindo do dólar, de forma que, assim, os EUA perdem seu principal mecanismo de influência global, restando apenas a força bélica. Será que o império em queda usará sua potência militar na tentativa de salvar um projeto já moribundo? Deus nos proteja disso. Aproveitando a queda do xerife global, a China está aproveitando para fortalecer sua Nova Rota da Seda, fugindo do dólar e usando sua CBDC, o yuan digital, de forma que quase 75% da população mundial já está em caminho de adotar a moeda digital chinesa.

Diante da “desdolarização” do mundo, até mesmo o FMI se manifestou dizendo que queriam um novo Bretton Woods, ou seja, um novo padrão que substitua o dólar como reserva de valor global. A partir de 2020, os bancos centrais do mundo começaram a acumular ouro numa velocidade ainda maior, principalmente Rússia, Índia, China, assim como investidores particulares, family offices (fundos familiares). Em 2021 o movimento seguiu, com Turquia, Polônia, Cazaquistão, Hungria, Tailândia e Brasil comprando grandes quantidades do metal precioso.

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Cabe também lembrar que, perto do fim da Guerra do Vietnã, o presidente francês De Gaulle percebeu que os EUA estavam imprimindo mais dólares e títulos do que tinham em reservas de ouro. Os franceses pediram aos norte-americanos seu ouro de volta. Nixon deu o ouro e queimou boa parte da reserva norte-americana daquela época. Esse movimento levou às mudanças de agosto de 1971, quando acabou a paridade do dólar com o ouro. Era para ser temporário. Mas está em vigor até hoje.

Neste ponto, surge a pergunta: por que o dólar continuou sendo a reserva de valor mundial? Com base em que, uma vez que não possuía mais o lastro em ouro? Em 1974, Kissinger foi enviado à Arábia Saudita, e fez uma promessa aos sauditas. Os EUA protegeriam o reino saudita e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) só aceitaria dólar como moeda de troca pelo petróleo no mundo inteiro. Por isso, desde 1974, todos os países do mundo tiveram que possuir dólares para comprar petróleo. Isso criou o chamado “petrodólar”.

No dia seguinte ao que os EUA deixaram o Afeganistão, Rússia e Arábia Saudita anunciaram um acordo de cooperação militar conjunto.

Outro ponto marcante no fim da ordem mundial governada pelos EUA e pelo dólar foi o dia em que os norte-americanos deixaram o Afeganistão. Foi algo vergonhoso, uma grande demonstração de fraqueza. Eles abandonaram os apoiadores e deixaram suas biometrias para o Taliban. Isso mudou a maneira como o mundo olha para os EUA.

No dia seguinte ao que os EUA deixaram o Afeganistão, Rússia e Arábia Saudita anunciaram um acordo de cooperação militar conjunto. Rússia agora substitui os norte-americanos como protetora dos sauditas. No dia seguinte, a Nigéria (outro membro da OPEP) também estabeleceu o mesmo acordo com os russos. A Nigéria começou a vender petróleo para a China aceitando títulos públicos chineses como pagamento, uma espécie de “petroyuan”, imediatamente conversível a ouro no Shanghai Gold Exchange. Já temos 2 dos 13 países do OPEP vendendo petróleo para a China aceitando yuan.

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Agora, se uma moeda é uma reserva de valor mundial, você não pode determinar quem vai usá-la ou não. Quando os EUA instrumentalizaram o dólar contra a Rússia, os outros países do mundo que utilizam o dólar como moeda de referência começaram a temer se eles não seriam os próximos. Por isso, começaram a fugir da moeda norte-americana.

Então chega Klaus Schwab e o Fórum Econômico Mundial dizendo: “você não terá nada, mas será feliz”. A princípio, parece uma projeção idiota. Mas vejam que os EUA estão imprimindo nos últimos três anos mais do que imprimiram em toda a história. Isso está gerando inflação. Mas o FED não está querendo subir juros para controlar a inflação. Porém, agora eles conseguiram um culpado, um bicho-papão: Putin.

Quando os EUA tiraram a Rússia do Swift, os outros países dos Brics pensaram: seremos nós os próximos? Por isso a China tem vendido bilhões em títulos do tesouro americano. Washington jogou a Rússia no colo do sistema financeiro chinês. Parece tolice, mas pode ter sido tudo proposital para criar um vilão. Entretanto, cabe ressaltar que 85% do mundo ainda está fazendo comércio com a Rússia. Por isso os cortes não serviram para nada, a não ser para enfraquecer ainda mais o dólar e o poder norte-americano.

Prata e ouro sendo acumulados em velocidade nunca vista. O caminho para o Grande Reset está sendo aberto com velocidade sem precedente.

Em 2022, já temos a Nigéria e Arábia Saudita vendendo petróleo por yuan. Foi criado um Corredor Rússia-Irã-Índia, conectando a Rússia ao Golfo Pérsico. Turquia, Egito e Arábia Saudita anunciaram que estão pensando em se unir aos BRICS. Eles estão saindo das alianças ocidentais e se unindo ao grupo dos países emergentes. Turquia segue liderando no mundo em compras de ouro. Já são 140 países que estão na Nova Rota da Seda, incluindo os 13 países da OPEC. Seis dos países da OPEC já estão nos Brics, ou em processo de entrada. Emirados Árabes já se uniram ao banco dos Brics. Rússia e China anunciando uma nova moeda reserva de valor mundial. Prata e ouro sendo acumulados em velocidade nunca vista. O caminho para o Grande Reset está sendo aberto com velocidade sem precedente.

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Primeiro, levaram o preço dos ativos às máximas históricas, com as menores taxas de juros de todos os tempos. Depois, incentivaram o mundo a achar uma segunda opção ao dólar, após o que os EUA fizeram com a Rússia, retirando Moscou do sistema de pagamentos internacionais, o SWIFT. O caminho para a nova ordem está sendo rapidamente pavimentado.

Veja que os BRICS somam 90% da população global. Os países que compõem o bloco, isoladamente, não conseguem fazer frente aos EUA. Porém, unidos, são capazes de enfrentá-lo.

Então, por que estão todos os bancos centrais comprando ouro? Lembre-se que o ouro foi transformado de volta ao status de moeda de troca. E o que está por vir? Arábia Saudita em vias de se unir aos BRICS. Todos os 13 países da OPEP já estão na Nova Rota da Seda. Os sauditas agora estarão protegidos por Rússia e China, e não mais pelos EUA. Pelo jeito que saíram do Afeganistão, sauditas perceberam que, talvez, os EUA não estejam mais na posição de conseguir protegê-los. Os países exportadores de petróleo estão passando a aceitar outras moedas como pagamento para o petróleo (yuan, rupias, rublos, ouro). Neste momento, acabou a ordem mundial, pois cada país que a partir de 1974 teve que possuir dólares para comprar petróleo e energia, agora irá se desfazer de suas reservas da moeda norte-americana.

Assim, o pilar número 1 cai: conforme o dólar é deixado de lado, seu valor colapsa. Isso chegará aos EUA como hiperinflação: a moeda não vale mais nada (vejam o exemplo da Venezuela e Argentina), ou seja, uma perda total do poder de compra. Em reação, os juros subirão astronomicamente, para tentar controlar a inflação. Nos EUA, ações, títulos públicos e setor imobiliário (os 4 pilares da economia norte-americana) também colapsam. Isso será o Grande Reset. Vejam quão frágil está o sistema hoje.

É por isso que todos os grandes bancos centrais estão comprando metais preciosos. Lembre-se que 75% da população global já está na Nova Rota da Seda e, portanto, se conectando ao yuan digital. E o yuan digital está funcionando como uma espécie de teste beta. Em artigo recente, Seguey Glazyev, comissário russo de integração macroeconômica, mostrou os princípios que funcionarão no sistema econômico pós-dólar. Ele não será baseado em nenhuma moeda em particular, como no sistema Bretton Woods, mas numa cesta de moedas locais atreladas mais profundamente a uma lista de commodities reais, como ouro, outros metais preciosos, grãos, açúcar e hidrocarbonetos. O yuan digital será o caminho para isso. Enquanto a União Europeia não consegue funcionar, pois cada um está indo para um determinado lado, o novo sistema dos BRICS e a Nova Rota da Seda estarão unidos por um sentimento de contestação à hegemonia ocidental.

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E quais são os países que possuem todas as commodities? Os BRICS e todos os novos países que estão se juntando ao bloco. E a nova moeda dos BRICS está chegando, provavelmente com o yuan digital como a nova base dessa nova moeda. O mundo irá diminuir cada vez mais o uso do dólar, deixando de confiar em promessas falsas e geração de dívida quando podem estar no sistema dos BRICS, calcado em commodities.

Este foi um pequeno resumo da tese de Andy Schectman sobre o que está por vir. O que você acha? Concorda? Isso será bom ou ruim para o Brasil? Por questões de espaço, emitirei minha opinião no artigo da semana que vem. Enquanto isso, gostaria de ler suas opiniões nos comentários. Até lá.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]