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A solução que pode trazer o desastre
A solução que pode trazer o desastre| Foto: Reprodução internet

Muitos estudiosos da Bíblia tentam, ainda hoje, entender o real motivo que levou Deus a decidir pelo dilúvio. A resposta mais comum é que a humanidade havia se tornado completamente maligna, violenta e destruidora. Há, entretanto, uma outra versão, inspirada no relato de Gênesis 6, segundo o qual havia “gigantes” naqueles tempos. Fazendo uma conexão com outro texto, mais obscuro – e que acabou não ganhando espaço entre os livros bíblicos – outros analistas apontam o Livro de Enoque como contendo a resposta para o que realmente levou ao grande cataclismo. A causa seria a alteração genética, que teria produzido não apenas gigantes, mas animais e plantes “transgênicos”, geneticamente modificados. Isso teria levado à necessidade de reconstruir a natureza a partir de uma matriz renovada, livre das alterações causadas, segundo a narrativa, por “anjos caídos”.

Como vemos, desde os tempos antigos, a alteração genética é reputada como uma “obra demoníaca”, que teria conduzido a grandes catástrofes. Esta parece não ser, porém, a opinião de muitos cientistas hoje. Na busca pela cura de enfermidades que assolam o planeta, a “edição de genoma” surge como uma resposta a problemas ainda vistos como insolúveis. Por meio da técnica CRISPR (“Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas”, a partir do inglês), hoje já é possível realizar a edição genética de forma rápida, barata e simples, o que traz grande otimismo para alguns, e enorme preocupação para outros. Inspirado na maneira como certas bactérias se protegem de ataques virais, o CRISPR (pronuncia-se “crisper”) foi inicialmente utilizado para melhorar a defesa de bactérias utilizadas na produção de iogurtes e queijos, assim como na indústria agrícola. Hoje, entretanto, a tecnologia tem cada vez mais se colocado como soluções para o câncer e para o "melhoramento" da genética humana.

A pesquisa relativa ao chamado CRISPR/Cas9 acabou levando à conquista do Nobel de Química em 2020, quando duas mulheres dividiram, pela primeira vez, o prestigiado prêmio científico. Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna foram agraciadas com o reconhecimento por seu trabalho, que desde o início encantou muitos e assustou outros. Dentre os encantados está - o já frequente aqui em meus artigos - Klaus Schwab, engenheiro e economista alemão que fundou o Fórum Econômico Mundial. Durante uma entrevista, concedida alguns anos atrás, o economista associou a ideia de edição genética ao seu conceito de “Quarta Revolução Industrial”, nome de um de seus livros. A ideia seria que, neste novo processo revolucionário, as novas tecnologias estabeleceriam a fusão dos mundos físico, digital e biológico, de forma a criar grandes promessas, mas também possíveis perigos. Mais atento aos benefícios, ele afirmou, em um determinado trecho da referida entrevista, que a diferença para primeira revolução industrial é que, agora, a mudança não se restringe apenas à sociedade e ao comportamento humano, mas à própria pessoa. Ele explica que, quando se realiza uma edição genética, é transformada a própria estrutura biológica do indivíduo, e isso tem um grande impacto quanto à identidade pessoal. E, segundo ele, isso preocupa algumas pessoas, uma vez que a alteração poderia mudar, no fim das contas, o que significa ser humano.

É claro que isso tudo coloca um cenário preocupante, principalmente quando comparamos com algumas obras de ficção que trataram do assunto, como o “Frankenstein”, de Mary Shelley (considerado o fundador do gênero da ficção científica) ou “O Médico e o Monstro: O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde”, de Robert Louis Stevenson. O clássico de H.G Wells “A Ilha do Dr. Moreau” é, também, elucidativo. Prendick, o protagonista, é resgatado de um naufrágio por uma embarcação que transportava animais para uma ilha misteriosa. Nela, conhece o Dr. Moreau, misterioso cientista que foi obrigado se refugiar devido às suas pesquisas pouco ortodoxas com animais. Porém, outra obra que penso ser ainda mais arrepiante – e atual - é o filme “Eu sou a Lenda”, baseado no romance homônimo de Richard Matheson. Nele, cientistas em busca da cura para o câncer decidem alterar geneticamente o vírus do sarampo. Mas o resultado acaba se transformando num agente que mata 90% dos infectados, ao mesmo tempo em que transforma outros 9% numa espécie de vampiros.

Ainda bem que essa ideia de realizar edições genéticas em busca de curas é apenas coisa de ficção. Se bem que...

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