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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica cibernética

Pijamas, salgadinhos e um ditador enfurecido

Sozinho, hacker americano fez a Coreia do Norte beber do próprio veneno. (Foto: Saul Loeb/AFP)

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Um hacker derrubou, sozinho, toda a internet da Coreia do Norte. É o que informa uma matéria recente da revista Wired. Devemos lembrar que, como o próprio especialista reconheceu na entrevista citada, o sistema norte-coreano é consideravelmente defasado, obsoleto. O problema é que você pode até achar interessante um governo que pratica esse tipo de conduta colher o que plantou. Contudo, é algo realmente preocupante imaginar uma pessoa ser capaz de abater, por conta própria, a rede de um país inteiro.

O ocorrido parece indicar que Klaus Schwab, o “oráculo de Davos” - uma espécie de novo profeta de Delfos - estava correto em sua profecia, quando alertou sobre a chegada de uma nova pandemia, desta vez, de cunho cibernético. Nesta terça-feira (8), por exemplo, ficamos sabendo que o sistema do governo do Rio Grande do Sul havia sido derrubado por uma grande ofensiva online. As páginas estão inacessíveis desde a noite de segunda-feira (7). Uma análise preliminar indica que o mesmo grupo teria abatido recentemente sites da prefeitura de Macapá, da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná e de prefeituras catarinenses.

Mas qual foi o motivo que levou esse americano a derrubar as páginas norte-coreanas? Segundo entrevista concedida à revista Wired, P4x (codinome usado pelo hacker) agiu em vingança contra a Coreia do Norte. Ele informou que, num determinado dia, percebeu que havia sido alvo de hackers, provavelmente devido a seu trabalho como pesquisador na área de segurança. Os ativistas costumam realizar ataques contra pessoas desse tipo na esperança de adquirir ferramentas mais sofisticadas de invasão.

Segundo P4x, a tentativa de invasão ao seu computador não obteve sucesso, uma vez que ele foi capaz de interrompê-la. Entretanto, quando investigou a origem da ofensiva, identificou que procedia da Coreia do Norte. Indignado, ele procurou as autoridades americanas, mas foi ignorado. Decidiu, então, responder de alguma forma, iniciando sua própria guerra, com ataques contra os sistemas norte-coreanos.

A Coreia do Norte conta com um número reduzido de sites, e são poucos os cidadãos que possuem acesso à internet. Todavia, as páginas derrubadas desempenham atividades importantes para o país, como notícias e serviços governamentais. P4x percebeu, durante o processo, que a infraestrutura norte-coreana continha inúmeras vulnerabilidades, que os tornavam muito suscetíveis a ataques. Assim, da sua própria casa, de pijama, chinelos, assistindo filmes de alienígenas e comendo salgadinhos apimentados, ele levantava em intervalos recorrentes e fazia uma visita a seu escritório para checar o progresso dos aplicativos que ele estava executando para embaralhar a internet de uma nação inteira, do outro lado do mundo. Parece cena de filme. Talvez uma mistura de Nacho Libre com John Wick.

Fato é que seus ataques foram tão eficazes que especialistas imaginaram que a queda da internet na Coreia do Norte fazia parte de uma operação estatal. Uma possível retaliação ocidental contra os recentes testes nucleares realizados pelo governo de Pyongyang. Não era nada disso. Tratava-se apenas de um cara irritado que estava querendo vingança.

Agora, imagine o líder de uma nação inteira, com o maior arsenal nuclear do mundo, reunindo forças para retribuir uma ofensa, ou para se vingar de algum prejuízo. Olhe para a crise na Ucrânia. Observe os discursos de Putin. Ele está levando a situação para o lado pessoal. O líder russo tem argumentado que a Otan e os EUA querem separar povos amigos, romper laços históricos entre Moscou e Kiev (local onde a Rússia teve origem). Toda sua indignação está sendo direcionada ao Ocidente.

"Se uma guerra eclodir, não haverá vencedores. Eles nem terão tempo para piscar os olhos". Essa frase foi dita na última segunda-feira (7), quando Putin concedeu uma entrevista coletiva no Kremlin, após cinco horas de negociações com o presidente francês Emmanuel Macron. Era só o que faltava. Não é suficiente uma crise sanitária, cibernética, logística, inflacionária e energética. Eles querem um conflito armado, nuclear. E o mais impressionante de tudo é que há muitos que lucram com isso. Deus nos livre de mais uma encrenca. Ninguém aguenta mais.

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