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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica tática

Por que alguns bilionários financiam a esquerda?

A curiosa “atração” de alguns bilionários pela agenda vermelha (Foto: Fabrice Coffrini/AF)

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Muitas pessoas entram em choque quando descobrem que grande parte do financiamento para projetos “progressistas” procede de fundações comandadas por bilionários. Mas não seriam os bilionários grandes capitalistas? Por que financiam uma ideologia que condena o acúmulo de riquezas e a exploração do pobre pelo rico? Alguns acreditam que os super-ricos agiriam assim para compensar por sua enorme abundância, motivados por uma questão moral, numa tentativa de “dormir com a consciência tranquila”.

Entretanto, o historiador Gary Allen tem uma opinião distinta. No livro “Política, Ideologia e Conspirações”, o autor defende que julgamos estranho um bilionário financiar projetos de vertente esquerdista em virtude de uma ideia errada do que seria o socialismo. Aprendemos na escola e nos meios de comunicação que o socialismo seria um projeto de distribuição de renda e de poder. Porém, Allen argumenta que, na verdade, o socialismo consiste num grande sistema de concentração de renda e de poder. Pensando por este lado, as coisas começam a fazer sentido.

No dia 12 de julho de 2019, li numa revista certa frase que caiu como uma luva sobre a definição de Allen: “Não defendo a democracia. Ditadura é melhor. O ditador diz: vou fazer assim e pronto. Na democracia, as coisas se diluem”. O autor foi Bernie Ecclestone, bilionário e antigo chefão da Fórmula 1. A frase foi dita em meio a um bate-papo em que foi abordada a questão de sua proximidade com Vladimir Putin. Aqui fica claro que, para algumas figuras que estão no comando, no topo da “cadeia alimentar” internacional, colocar as coisas em votação é muito enfadonho. Eles preferem dar comandos e serem obedecidos, sem qualquer questionamento. Para eles, é mais prático assim. E alguns utilizam seu poderio econômico para atingir tais objetivos.

Creio que seja muito importante trazer à tona essa discussão neste momento. Estamos migrando de uma ordem mundial globalizada, então comandada pelos Estados Unidos e pelo dólar (mais especificamente, o petrodólar), e seguindo para uma nova ordem mais fechada, setorizada, classificada por alguns como “neofeudal”, instaurada pelo Grande Reset, onde “ninguém terá nada, mas será feliz”. Ou seja, um cenário preocupante. Como é comum o povo aceitar de bom grado coisas que acabam se revelando como péssimas escolhas, chegou a hora de entendermos melhor para que lado o mundo está seguindo.

Conforme anunciado em seu livro “Covid-19: The Great Reset”, Klaus Schwab conclama os tomadores de decisão a nível internacional a não perderem a oportunidade de mudança trazida pela crise sanitária, vista por ele como a perfeita ocasião para implementar uma espécie de “capitalismo sustentável”, um nome bonito para um projeto mais feudal do que capitalista. Porém, o detalhe é que esse projeto - que no final das contas acaba aumentando o poder estatal por meio da direta redução do poder social – só pode ser bem-sucedido caso seja implementado um cenário de escassez e medo. Lembre-se que medidas muito prejudiciais ao povo somente são amplamente aceitas quando as massas estão amedrontadas e passando por necessidades.

A associação entre a crise sanitária e a crise na Ucrânia trouxe de volta um discurso que não ganhava força há muito tempo: escassez de comida e de energia a nível global. Neste ponto, vale recordar que abundância produz independência, e esta conduz à liberdade. Mas, ao contrário, escassez gera dependência, e dependência abre caminho para o controle. Ou seja, a oportunidade para aumentar o controle é em tempos de privação. É oportuno reforçar que Albert J. Nock, no livro “Nosso Inimigo, o Estado”, nos alerta que, de tempos em tempos, surgem crises, que são aproveitadas pelo poder estatal como oportunidades para o abocanhar mais uma parte do poder social, aumentando o controle sobre a população.

Infelizmente, é para este caminho que o mundo está seguindo. Porém, tenho a impressão de que há, talvez, um único país no planeta que tem o potencial de interromper essa tendência de escassez global, sendo capaz de garantir a segurança energética da Europa e a segurança alimentar mundial. Segundo a diretora-geral da OMC, esta é a nação que possui uma agricultura sem a qual o mundo não sobrevive. Isso, se os abutres não conseguirem derrotá-la. Você sabe que país é esse?

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