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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica subterrânea

Por que poderosos do mundo estão gastando bilhões construindo bunkers?

(Foto: EFE/Alberto Estévez)

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O que esses poderosos sabem que nós não sabemos? Por que eles estão gastando fortunas construindo bunkers em lugares remotos do planeta? À primeira vista, ficamos assustados quando percebemos que muitos membros da elite global estão se preparando para algum tipo de catástrofe. Seria apenas uma postura excêntrica comum aos super ricos? Ou há realmente uma ameaça oculta e iminente que justifique essa atitude?

Primeiro, é importante lembrar que, no caso dos Estados Unidos, essa ideia de se “preparar para o fim do mundo” não é nova, nem rara. Tudo começou no período da Guerra Fria, quando os inimigos dos americanos também desenvolveram armas atômicas. Por isso, os cidadãos estavam sempre vivendo sob a ameaça de um ataque atômico. Nas escolas, as crianças recebiam aulas de como agir no caso de um ataque desse tipo. A defesa civil norte-americana produziu, em 1952, inclusive um vídeo com orientações dessa natureza. O filme se chamava “Duck and Cover” (“Abaixar e se cobrir”), e reforçava a ideia de que todos deveriam estar sempre preparados para um ataque.

No entanto, o 11 de setembro mudaria tudo isso, na medida em que um novo “bicho papão” global entrava em cena: o extremismo islâmico

Foi nessa época que os mais abastados começaram a investir na construção de bunkers, enquanto o próprio governo americano criava bases subterrâneas para garantir a continuidade do governo no caso de uma ofensiva nuclear interromper a possibilidade de vida na superfície, devido à radiação.

Porém, com a queda do Muro de Berlim (1989), o fim do Pacto de Varsóvia (julho de 1991) e a dissolução da União Soviética (dezembro de 1991), o medo de uma 3ª Guerra Mundial foi praticamente extinto, surgindo uma impressão de que o mundo viveria uma nova era de paz. Essa percepção levou, por exemplo, o professor da Universidade de Stanford, Francis Fukuyama, a escrever em 1992 o livro “O fim da história e o último homem”, onde ele retoma a ideia de uma teoria de Hegel sobre o “fim da história”. Para Hegel, no momento em que a humanidade atingisse o equilíbrio, representado pelo advento da economia liberal e da igualdade jurídica, a história deixaria de ser caracterizada por processos de mudança. Isso traria uma era de paz e estabilidade mundiais. Ou seja, a sensação de que as guerras acabariam levou muitos a acreditar que não era mais necessário construir bunkers ou se preparar para o “dia do juízo final”.

Posteriormente, com o início da Guerra ao Terror, o medo voltou a assolar a humanidade, e fez ressurgir a ideia de construção de bunkers, principalmente nos EUA. Com a crise sanitária, foi renovado, inclusive, o “mercado dos bunkers”, em que várias empresas começaram a fornecer esse tipo de serviço de construção e venda de bunkers. Como exemplo, podemos citar a Rising S Bunkers. Em 2017, Clyde Scott deu uma entrevista insinuando que Kim Kardashian e Kanye West estavam entre seus clientes.

Neste clima de “perigo iminente”, com possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial, reforçado após o início da Guerra na Ucrânia (em fevereiro de 2022) e, mais recentemente, com o início da guerra entre Israel e Faixa de Gaza no dia 7 de outubro de 2023, a ideia de se preparar para o fim do mundo recebeu um enorme renovo. É nesse contexto que começam a surgir matérias com títulos como “Essas celebridades estão se preparando para o dia do juízo final”. No texto em questão, lemos que celebridades como Tom Cruise, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg estão gastando milhões de dólares (por vezes, bilhões de reais) em projetos de bunkers e propriedades “sobrevivencialistas”.

A primeira conclusão que chegamos é: desde a década de 50 existe uma cultura nos EUA de investir nesse tipo de proteção, não apenas na construção de bunkers e no estoque de alimentos, mas também na criação de comunidades independentes que buscam se desligar da rede elétrica e de água para se tornarem autônomos. Lembrando que essa cultura foi reforçada com a pandemia e o início da Guerra em Israel.

Fica, porém, a pergunta: será que eles estão sabendo de algo que nós não ainda não entendemos? Não precisamos ir muito longe. Realmente há um algumas coisas bem estranhas acontecendo no mundo nos últimos meses e dias. Todas estão sendo noticiadas na mídia, mas nem sempre ganham o devido destaque. Vou citar alguns exemplos. Desde o início da crise sanitária, Bil Gates tem falado sobre uma segunda pandemia que seria muito mais letal que a primeira. Como ele acertou na primeira, creio que devemos prestar atenção ao que ele está dizendo. Não podemos esquecer que a Fundação Bill e Melinda Gates, junto com a Universidade John Hopkins e o Fórum Econômico Mundial fizeram um exército de simulação de uma pandemia em outubro de 2019, dois meses antes da crise real começar. Cito este fato porque o mesmo grupo realizou uma segunda simulação em outubro de 2022, prevendo uma nova crise sanitária.

Por outro lado, desde 2020, o Fórum Econômico Mundial (que participou das simulações que “previam” a pandemia de 2020) está alertando que uma nova crise muito mais letal está chegando: uma pandemia cibernética. Segundo os exercícios de simulação chamados Cyber Polygon, hackers estão prestes a derrubar a internet e a elétrica de globais, o que pode gerar um número de óbitos ainda maior do que a crise do covid, uma vez que não funcionem hospitais, postos de gasolina, refrigeração de alimentos e etc.

Por incrível que pareça, a mídia tem insistido que 2024 será um ano de alto risco de uma queda generalizada da internet. Não exatamente em função de ativistas digitais, mas devido a uma atividade solar acima do normal, que pode abrir caminho para uma grande ejeção de massa coronal que, chegando à terra, atuaria como um pulso eletromagnético, queimado os circuitos elétricos dos mais diversos aparelhos, o que poderia gerar um caos global, derrubando a internet por meses. Além do sol, a mídia também tem reforçado a ideia de que os submarinos russos poderia romper propositalmente os cabos oceânicos de internet, fundamentais para a comunicação global. Obviamente, um mundo sem internet (e muito provavelmente sem eletricidade) poderia levar a sociedade ao colapso em poucos dias, abrindo caminho para um cenário ao estilo “Mad Max”. Neste sentido, um bunker ou uma propriedade isolada daria uma vantagem de sobrevivência para os super ricos.

Mas os alertas da mídia não ficam por aí. Ontem mesmo foi noticiado que o Relógio do Juízo Final continua na posição de 90 segundos para a meia-noite. Este é um parâmetro criado pelo Boletim dos Cientistas Atômicos, um grupo da Universidade de Chicago, para calcular o quão próximo da extinção estaria a humanidade. Para você ter uma ideia, o relógio foi criado em 1947, ou seja, há 77 anos, e nunca esteve num nível tão crítico de risco para o fim da humanidade. Isso tudo vai se somando ao nível de medo.

Além disso, algumas figuras do alto escalão de governos globais têm emitido alertas preocupantes, conforme mostrei aqui recentemente. Sabemos que uma das possibilidades mais temidas hoje de uma 3ª Guerra Mundial é um confronto aberto entre a OTAN e a Rússia. O quão possível seria isso? Atualizações recentes fizeram com que o cenário ficasse mais próximo do que nunca. Por exemplo, em dezembro do ano passado, duas declarações estranhíssimas trouxeram um alerta para os leitores atentos. O vice-primeiro-ministro britânico, Oliver Dowden, defendeu que os ingleses deveriam fazer estoques de rádios, lanternas, pilhas e kits de primeiros-socorros, numa preparação para eventuais “cortes de energia” e “interrupção das comunicações digitais”. No mesmo mês, o comandante do exército holandês defendeu que os holandeses deveriam se preparar urgentemente para uma guerra com a Rússia.

Em janeiro deste ano, foi a vez da Suécia fazer alerta semelhante, quando o ministro da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin (cuja opinião seria reforçada pelo comandante militar, o general Micael Bydén) defendeu a ideia de que os suecos também deveriam se preparar para uma guerra iminente com a Rússia. O clima de tensão aumentou quando, também em janeiro deste ano, o jornal alemão Bild, teve acesso a um documento secreto do exército da amanhã que traz um estudo afirmando que um conflito aberto entre Rússia e OTAN é iminente.

As suspeitas de que algo estranho está acontecendo nos bastidores da Europa ganharam ainda mais força com o início do maior exercício militar da OTAN desde a Guerra Fria exatamente nesta semana. São 90 mil homens (inclusive do exército sueco, que ainda não faz parte da OTAN) treinando para uma guerra iminente contra a Rússia, conforme declaração do próprio comandante-geral da Otan na Europa, o general Christopher Cavoli. A Rússia respondeu dizendo que um exercício deste porte mostra o retorno “final e irrevogável” da OTAN às estratégias da Guerra Fria.

Parece, então, que o “fim da história” chegou. Será essa a percepção dos poderosos do mundo que os está levando a gastar bilhões com a construção de bunkers? Seria apenas extravagância de bilionários ou será que existe algo a mais que ainda não chegou ao nosso conhecimento? O que você acha? Deixe sua opinião nos comentários.

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