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Em visita recente ao presidente Vladmir Putin, Emanuel Macron tomou uma atitude que gerou controvérsia: ele não quis submeter-se a um teste de Covid realizado pelas autoridades sanitárias russas. Segundo matéria recente da Reuters, o motivo alegado por dois assessores do presidente francês para a recusa foi a iniciativa de não conceder ao governo de Moscou dados sobre seu material genético.
Nesta terça-feira, foi a vez de o chanceler alemão Olaf Scholz também recusar-se a realizar o exame. Em virtude da negativa, ambos não receberam autorização para se aproximar de Putin, ficando impossibilitados de realizar as tradicionais fotografias com apertos de mãos e de chegar a menos de 6 metros de distância do líder russo. Para tanto, sentaram-se nas extremidades de uma enorme mesa, cena que, inclusive, transformou-se em memes instantaneamente. Diante disso, a pergunta que fica é: por que tanta preocupação? Seria legítimo tamanho receio?
Conforme explicou o virologista português Pedro Simas, as células mortas retiradas durante o procedimento poderiam ser usadas num processo chamado “DNA profiling” (do inglês “perfil de DNA”, também conhecido como “impressão digital de DNA”). Seu objetivo é determinar os traços específicos da estrutura genética de um indivíduo. A técnica é muito utilizada na prática forense, como auxílio de investigações criminais. Também é comum no estabelecimento de testes de maternidade. Contudo, como os russos poderiam utilizar o material genético do presidente francês em seu desfavor? Qual seria o interesse da comunidade de inteligência russa nesse tipo de conteúdo?
Gordon Corera, correspondente de segurança da BBC londrina, ofereceu, em artigo recente, uma possível explicação. O jornalista explicou que, durante muitas décadas, espiões dedicavam anos analisando as características peculiares de líderes estrangeiros. O objetivo era compreender, por exemplo, sua personalidade, como eles costumavam reagir perante situações adversas e por quanto tempo provavelmente ficariam no cargo. Este último tópico envolve conhecer o quadro de saúde do indivíduo em questão. Mas essas informações sempre foram mantidas em grande segredo.
Entretanto, com o avanço da biologia, mais especificamente da genética, Corera defendeu que a tarefa tornou-se menos complexa. Uma vez que, por meio da análise do DNA, é possível conhecer informações não apenas relacionadas à longevidade de cada pessoa, mas também seu passado. Por este caminho, seria possível descobrir se uma figura importante está escondendo alguma condição de saúde ou se é vulnerável a algum tipo de enfermidade no futuro, informações valiosas em termos de planejamento estratégico.
Foi por esse motivo que, recentemente, a comunidade de segurança dos EUA apontou um problema: a China vem catalogando uma enorme quantidade de dados de saúde de uma massa cada vez maior de pessoas. O curioso é que os norte-americanos esquecem que eles mesmos detêm o maior banco de dados de DNA do mundo, e já foram acusados de buscar acesso a informações genéticas de diplomatas estrangeiros.
No final das contas, o DNA acaba sendo a informação mais valiosa que possuímos. Quando perdemos um cartão de crédito, por exemplo, podemos cancelá-lo e solicitar outro, com número diferente, para evitar qualquer tipo de fraude. Porém, se um agente opositor tem acesso aos seus dados genéticos, não é possível trocá-lo por outro.
O mais recente filme da franquia 007 tocou nesse assunto. Lançado em 2021, “007 - Sem Tempo para Morrer” conta a história, entre outras, de um cientista que participou do chamado “Projeto Heracles”, cujo objetivo era desenvolver uma arma biológica criada a partir do DNA de um indivíduo, de modo que somente o alvo e seus parentes próximos seriam afetados pelo agente causador. Definitivamente, um cenário aterrorizante. Porém, trata-se apenas de ficção. Certo?
Depois de toda essa reflexão, permaneço na dúvida se Macron e Scholz estão com a imaginação excessivamente aflorada ou se somos nós que não fazemos a mínima ideia do que realmente acontece nos bastidores do poder…