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Este foi, sem dúvida, um dos réveillons mais estranhos de todos os tempos. Hoje, por exemplo, já sabemos que a NASA detectou a maior explosão de energia do sol em 6 anos exatamente na véspera de Ano Novo, que gerou uma estimativa de 25% de chance de perturbar GPS e satélites mundialmente. Como se não bastasse, na virada do ano, o Japão foi tingido por mais de 155 terremotos em menos de 24 horas, que até agora já vitimaram 62 pessoas, ferindo mais de 300, sendo 20 com ferimentos graves. Foram dezenas de milhares de casas destruídas, o que obrigou 31.800 pessoas a procurarem abrigos.
O desastre trouxe lembranças de outro acontecido 13 anos atrás: o enorme terremoto submarino de magnitude 9.0 que desencadeou uma série de tsunamis e vitimou por volta de 18.500 pessoas, entre mortos e desaparecidos. Mas não apenas isso. O tremor também acabou gerando um dos piores desastres nucleares do mundo, quando as ondas gigantes comprometeram a estrutura da usina atômica de Fukushima. É neste ponto que algumas teorias mirabolantes começam a surgir, defendendo que tanto o ocorrido de 2011 quanto o evento deste ano no Japão teriam sido deliberadamente provocados por “armas tectônicas”. A teoria é louca, mas o estudo é interessante.
O terremoto do Japão de 2011 que destruiu a usina de Fukushima foi provocado por uma explosão nuclear, detonada pelo governo israelense para impedir que o Japão enriquecesse urânio para o Irã.
Lembre-se de que vivemos num mundo em que a população civil está completamente atrasada em termos de avanço tecnológico quando comparamos com o meio militar. No livro The Pentagon's Brain (“O Cérebro do Pentágono”), a jornalista Annie Jacobsen explora os meandros da DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency, Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa), explicando que, desde o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos buscam estar de 20 a 30 anos à frente de seus concorrentes, a fim de manter sua hegemonia. Sabemos, por exemplo, que o exército americano criou a própria internet. Antes da DARPA, havia a ARPA, que, em 1969, criou a ARPANET, uma rede experimental de comunicação que ligou 4 universidades, de modo que os cientistas poderiam interagir remotamente e compartilhar informações. Lembre-se que a internet somente se popularizaria nos anos 90, ou seja, 20 anos depois.
Saber que o meio militar possui os maiores recursos e as tecnologias mais avançadas nos oferece certa humildade na hora de tentar desacreditar logo de cara teorias consideradas “mirabolantes”. Hoje, por exemplo, já sabemos da existência do setor de “Guerra Entomológica”, cujo objetivo é utilizar insetos como armas. Podemos citar a “Operação Big Itch” (Operação Grande Coceira), que foi um experimento de campo na área das guerras entomológicas por parte do exército norte-americano. O objetivo era avaliar se pulgas poderiam ser utilizadas como transmissores de doenças para tropas inimigas. O teste buscava avaliar se os insetos sobreviveriam a um lançamento por avião e descobrir o quão distante eles chegariam por conta própria. A experiência foi realizada em 1954, no Dugway Proving Ground, uma instalação do exército dos EUA criada em 1942, especializada em testes de armas biológicas e químicas. Há vários outros experimentos desta natureza. Para os curiosos, indico pesquisar as operações Big Buzz (que lançou mosquitos sobre a própria população americana), Operação Drop Kick e Operação May Day. O mundo é muito mais estranho do que você imaginava.
Seria então real a louca teoria de Jim Stone? Provavelmente não.
Existem também as operações de “Guerra Climática”, cujo objetivo é alterar o clima como recurso de guerra. Um exemplo clássico que podemos citar é a Operação Popeye, quando o exército americano utilizou aviões para lançar produtos químicos nos céus do Vietnã para aumentar a incidência de chuvas das monções, alagando o terreno e impedindo a movimentação das tropas inimigas. Em junho de 2021, escrevi aqui na Gazeta do Povo um artigo chamado “Eles querem controlar tudo, até o clima”. Nele, contei um pouco mais das estratégias de alteração do clima com fins geopolíticos e bélicos.
Tendo feito esse percurso prévio, agora podemos falar sobre “Guerra Tectônica”, ou seja, a utilização de tremores de terra como recursos bélicos. A primeira pergunta que deveria surgir é: seria o homem capaz de provocar terremotos? Claro. Todos os dias. Muitas das vezes, involuntariamente.
Em 2016, foi realizado um estudo global sobre todos os terremotos induzidos pelo homem. Os resultados mostraram que as atividades industriais possuem enorme ação sismogênica (provocadora de terrenos), o que surpreendeu muitos cientistas. Os resultados foram arquivado num “banco de dados de terremotos induzidos”. Entre as principais causas de terremotos provocados pelo homem, estão: mineração (37,4%); represamento de reservatórios de água (23,3%); exploração convencional de petróleo e gás (15%); atividades geotérmicas (7,8%); injeção de fluido residual (5%); fraturamento hidráulico (3,9%); explosões nucleares (3%); experimentos de pesquisa (1,8%); extração de águas subterrâneas (0,7%); construção (0,3%); captura e armazenamento de carbono (0,3%).
Mas agora você conhece uma pouco da relação entre iranianos e japoneses, que envolve petróleo e energia nuclear.
Agora você já sabe que o homem pode provocar terremotos, mesmo que involuntariamente. E não precisamos nem falar sobre o HAARP (deixo esse interessante tópico para quem quiser pesquisar por conta própria, pois se trata de um tema já muito “batido” na internet). Na lista de causas humanas apresentada acima, veja que as explosões nucleares compõem 3% dos terremotos provocados pelo homem. É neste ponto que entra a grande “conspiração” de que os tremores no Japão de 2011 e de 2024 teriam sido provocados. E a teoria mirabolante faz uma estranha conexão com o conflito em Israel hoje.
A teoria foi apresentada numa matéria muito interessante da revista Wired, uma das mais renomadas mundialmente nas aéreas de ciência e tecnologia. O texto foi publicado no dia 31 de janeiro de 2012 por Katie Drummond, com o título “Israeli Nukes Triggered Fukushima Quake, Crackpot Claims” (“Armas nucleares israelenses desencadearam o terremoto de Fukushima, afirma um maluco”). O artigo faz parte de uma série que a revista chama de “Tinfoil Tuesday”, ou seja, “Terça-Feira do Alumínio”, em referência ao apelido dado nos EUA para os teóricos da conspiração. Eles são chamados de “tinfoil hat” (chapéu de alumínio”), devido à crença de que, ao utilizar esse tipo de proteção na cabeça estariam imunes aos equipamentos governamentais de controle mental.
A matéria então traz a teoria mirabolante de um cara chamado Jim Stone. O problema é que Stone possui um background “interessante”. Ele é apresentado como um ex-analista da Agência de Segurança Nacional com uma "formação em engenharia". Sua teoria é a seguinte: o terremoto do Japão de 2011 que destruiu a usina de Fukushima foi provocado por uma explosão nuclear, detonada pelo governo israelense para impedir que o Japão enriquecesse urânio para o Irã. Segundo a doideira, os israelenses esconderam várias armas nucleares dentro de câmeras de segurança gigantes, e ficaram esperando a hora certa de usar o equipamento. Quatro meses depois, um grupo de engenheiros israelenses, se passando por trabalhadores de uma empresa de segurança, ofereceram aos japoneses a instalação de câmeras de segurança gigantescas dentro dos reatores nucleares de Fukushima. Depois disso, Israel ficou esperando até que um novo terremoto natural atingisse o Japão. Até que, no dia 11 de março de 2011, um terremoto de nível 6,67 atingiu o país, causando pequenos danos. Mas teria sido neste momento que, segundo o doidão Jim Stone, Israel supostamente entrou em ação. Quando aquele terremoto natural chegou, Israel detonou uma bomba na costa do Japão, desencadeando aquelas ondas gigantescas, e também detonou as bombas escondidas dentro da usina de Fukushima. Seria uma espécie de punição aos japoneses por oferecer ajuda ao Irã. Teoria louca demais, concorda?
O problema é que realmente o Japão possui uma enorme proximidade com o Irã. Talvez até poderíamos dizer uma dependência. Os japoneses precisam importar a maior parte de seus produtos e matéria prima. E são muito dependentes de petróleo externo. Quando você estuda a antiga relação entre iranianos e japoneses, descobre essa antiga aliança, que remonta ao ano de 1926.
O Irã é o terceiro maior fornecedor de petróleo para o Japão, ficando atrás apenas da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes. A proximidade entre japoneses e iranianos vai além da questão energética, extrapolando para a diplomacia. Ambos os países cooperaram na reconstrução do Afeganistão e nas mediações do longo conflito Israel-Palestino. Em junho de 2019, por exemplo, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe (assassinado com um tiro no dia 8 de julho de 2022) visitou o Irã para tentar intermediar negociações entre EUA e os iranianos, que também importam uma série de produtos japoneses, como automóveis, produtos elétricos, petrolíferos e petroquímicos.
Mais recentemente, no dia 21 de setembro do ano passado, o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida encontrou-se com o presidente iraniano Ebrahim Raisi em Nova York. Conforme um comunicado do próprio Ministério das Relações Exteriores japonês, o tema da conversa envolveu o acordo nuclear de 2015 com o Irã (estranho, não?), a liberação de água radioativa pelo Japão da usina de Fukushima para o mar (também estranho) e a guerra na Ucrânia, bem como a situação no Oriente Médio e no leste da Ásia. Conclusão: os países são próximos, e a questão nuclear sempre está presente na conversa entre ambos.
Seria então real a louca teoria de Jim Stone? Provavelmente não. Mas agora você conhece uma pouco da relação entre iranianos e japoneses, que envolve petróleo e energia nuclear. Porém, com relação ao terremoto mais recente, aconteceu uma estranhíssima coincidência. Depois de 11 anos desligada, devido ao acidente com a outra usina de Fukushima, o governo do japonês havia finalmente decidido religar a maior usina nuclear do mundo. Entretanto, curiosamente, apenas alguns dias após o anúncio, a usina Kashiwazaki-Kariwa foi abalada por um terremoto de magnitude 5. Como ainda não havia sido reiniciada, os danos foram pequenos. Mas a decisão de reiniciar os trabalhos foi momentaneamente adiada.
Deve ser apenas mais uma coincidência. Certo? O que você acha? Deixe sua opinião nos comentários.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos