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Joe Biden, presidente dos EUA, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, durante cúpula em Genebra, Suíça, em 16 de junho de 2021.
Joe Biden, presidente dos EUA, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, durante cúpula em Genebra, Suíça, em 16 de junho de 2021.| Foto: EFE/EPA/MIKHAIL METZEL/SPUTNIK/KREMLIN POOL

No livro Princípios para a ordem mundial em transformação: Por que as nações prosperam e fracassam, Ray Dalio realiza uma profunda investigação histórica e financeira com o objetivo de desvendar os mecanismos do passado que configuraram a sociedade de hoje. Na pesquisa, ele identificou uma série de ciclos e fatos que se repetem, tanto na ascensão quanto na queda de novas potências mundiais. Lembrando que Dalio é o fundador da Bridgewater Associates, a maior e mais lucrativa gestora de hedge funds do planeta. Hedge Funds são fundos dedicados a administrar o capital dos investidores com o fim de proteger o patrimônio aplicado. Por isso, são compostos por especialistas em analisar os riscos que se colocam a cada momento.

A partir da leitura do livro de Dalio, lançando em 2022, somos instigados a perceber a recorrência de eventos históricos. Assim, o que acontece hoje pode ser compreendido em comparação com outros fatos semelhantes ocorridos décadas atrás. Incentivado por essa leitura, passei a perceber a enorme semelhança entre o contexto da atual Guerra na Ucrânia com a famosa Crise dos Mísseis de Cuba, um impasse diplomático entre Estados Unidos e a União Soviética que quase levou o mundo à 3ª Guerra Mundial. O caos durou 13 dias, entre os dias 16 e 29 de outubro de 1962.

Imagine se a Rússia fizesse um acordo com Cuba, México e Canadá para colocar centenas de mísseis balísticos (armados com ogivas nucleares) nas fronteiras norte e sul dos Estados Unidos.

Aprendemos na escola que a Crise dos Mísseis aconteceu quando Moscou decidiu colocar mísseis balísticos em Cuba, a menos de 150 km dos EUA. Obviamente, os americanos ficaram muito chateados e revoltados com esse perigo iminente. Mas o detalhe que muitas vezes não é ensinado é que a decisão do então líder soviético Nikita Khrushchev de posicionar os projéteis na ilha foi, na verdade, uma resposta a uma provocação anterior norte-americana. Isso porque em 1961, os EUA haviam treinado e apoiado um grupo de paramilitares que tentaram invadir Cuba, conhecido como a Invasão da Baía dos Porcos. A ação fazia parte da Operação Mongoose, criada em 1960 por John Kennedy para derrubar o governo cubano.

Porém, a provocação norte-americana que levou ao posicionamento dos projéteis em Cuba já havia acontecido antes, quando, em 1959, os EUA posicionaram 30 mísseis balísticos PGM-19 Júpiter (armados com ogivas nucleares) na Itália, e mais 15 projéteis do mesmo modelo na Turquia, numa estratégia de dissuasão da OTAN contra Moscou.

Como resposta, houve o posicionamento dos mísseis russos em Cuba, que levou o mundo a viver 13 dias de níveis máximos de tensão. O dia mais tenso aconteceu no sábado, 27 de outubro de 1962, quando uma aeronave espiã americana foi derrubada pelos cubanos, levando à morte do piloto. Naquele momento, o desfecho de um conflito de proporções globais parecia inevitável. Porém, o resultado acabou sendo “feliz”. Após o impasse, houve um acordo entre Moscou e Washington, que envolveu a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba, mas também a remoção dos projéteis americanos da Turquia e Itália. Além disso, os EUA assinaram um acordo prometendo nunca mais tentar invadir Cuba. Também foi criada uma linha direta de comunicação entre os EUA e a União Soviética, popularmente chamada de “Telefone vermelho”, conhecida em inglês como a “Moscow-Washington Hotline”. Porém, na verdade, não se tratava de um telefone, mas de um teletipo, que evoluiu posteriormente para uma máquina de fax em meados dos anos 80.

Agora, veja como hoje vivemos um cenário muito semelhante. O que a mídia mostra é a atitude de Putin de invadir a Ucrânia. Mas não se costuma mostrar como a OTAN foi se expandido ao redor da Rússia. Hoje, os EUA possuem mísseis balísticos posicionados na Espanha, Alemanha, Romênia, Polônia e (novamente) na Turquia. Quase todos os antigos países que compunham a União Soviética foram integrados à OTAN, criando uma espécie de “cortina de contenção” ao redor da Rússia. Seria muito previsível que Moscou não ficaria inerte diante de um avanço e de um risco tão claro como esse.

Imagine se a Rússia fizesse um acordo com Cuba, México e Canadá para colocar centenas de mísseis balísticos (armados com ogivas nucleares) nas fronteiras norte e sul dos Estados Unidos. Qual seria a reação de Washington? Obviamente haveria uma resposta muito agressiva por parte dos EUA. É exatamente o que Biden e a OTAN estão fazendo com Putin. Mas é óbvio que isso não justifica as loucuras que Moscou tem feito na Ucrânia. A reflexão busca apenas ressaltar a motivação (e os riscos) por trás de tudo que estamos assistindo.

A grande pergunta é: será que, assim como aconteceu em 1962, teremos um “final feliz”? Deus queira.

Qual é a sua opinião? Conte nos comentários. Até a semana que vem.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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