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Um dos maiores despropósitos da história do Paraná se chama Aeroporto Afonso Pena. Em 1944, recebeu esse nome graças a uma colônia agrícola chamada Afonso Pena em São José dos Pinhais. A colônia se tornou um aeródromo militar e a iniciativa da construção foi do Exército dos Estados Unidos, com a participação do Ministério da Guerra do Brasil.
Os militares bateram continência ao ex-presidente e a denominação assim ficou. O objetivo era estratégico. Em plena Segunda Guerra Mundial, aquele local, mesmo úmido e nevoento, serviria para que aviões da força aliada levantassem desta base para combater no Atlântico Sul a presença de submarinos e embarcações bélicas do Eixo.
Assim como foi batizada com o nome de um ex-presidente do Brasil, a base militar poderia ter sido chamada também de Aeroporto Bento Ribeiro da Silva, o pai de Anita Garibaldi nascido em São José dos Pinhais. Caso o aeródromo não tivesse ainda um nome carimbado pelos militares, depois da guerra e com mais propósito o aeroporto poderia ter sido chamado de Max Wolf, o sargento curitibano da FAB que entrou para a galeria de heróis da Segunda Guerra Mundial.
Por não ser uma homenagem direta, pois o nome deriva da antiga denominação de uma colônia agrícola, a história do Paraná pouco deve ao advogado mineiro Affonso Augusto Moreira Penna (1847/1909). Com todo o respeito ao sexto presidente da República, de 1906 até sua morte, ex-presidente de Minas Gerais, legislador, presidente do Banco da República, ministro de Estado e republicano de última hora, só podemos creditar ao ex-ministro a forte colonização europeia em substituição à mão de obra escrava.
Antes de assumir a presidência, Pena fez uma viagem de três meses pelo país com o objetivo de conhecer melhor a realidade nacional. Percorreu mais de 21 mil quilômetros e visitou 18 capitais brasileiras. Não se sabe se caiu de paraquedas em Curitiba.
Afonso Pena pertence à história da economia café com leite de Minas Gerais e São Paulo, um político típico da Velha República. Pouco pertence à história do Paraná, até receber o nome da maior porta de entrada do Brasil Meridional.
Pertencimento (percepção de fazer parte de uma mesma cultura, de uma comunidade, de uma família, de um grupo, de uma nação) é uma palavra que muito lembra o urbanista Jaime Lerner. Foi com o sentimento de pertencimento que o urbanista realizou a revolução urbana de Curitiba e fez a autoestima da cidade decolar para o mundo. Se o Rio de Janeiro tem o Aeroporto Tom Jobim, Curitiba e São José dos Pinhais merecem um aeroporto com o nome do paranaense mais conhecido e reverenciado internacionalmente.
O aeroporto Jaime Lerner é uma questão de pertencimento. E merecimento.
*Dante Mendonça. é escritor e aquarelista, com a Cadeira N° 1 da Academia Paranaense de Letras