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Calçada da Fama do Teatro Guaíra

Arte: Felipe Lima (Foto: )

Se Curitiba não tem mar, tem o bar para a imaginação flutuar. Numa dessas conversas intermináveis no Café do Teatro, o ator, escritor e diretor teatral Enéas Lour e Beto Bruel (por sua vez, um dos mais premiados diretores de iluminação do teatro brasileiro) imaginaram uma Calçada da Fama em torno da quadra do Teatro Guaíra. Nos moldes de Hollywood, lá onde os registros estrelados das celebridades atraem milhões de turistas ao ano.

Calçada da Fama não seria bem nenhuma novidade em Curitiba. Em meados da década de 1960, uma base de concreto em frente ao Cine Vitória, na Rua Barão do Rio Branco, recebeu as palmas da mão de estrelas internacionais: Nancy Kovack, Janet Leigh, Karl Malden, Tony Perkins e o supergalã Troy Donahue, que, para o delírio de milhares de adolescentes curitibanas, compareceu ao baile na Sociedade Thalia e tirou para dançar Ângela Vasconcelos, eleita Miss Brasil em 1964.

Para abrir a nossa Calçada da Fama, como só o piso em frente à Biblioteca Pública do Paraná poderia se igualar, Beto Bruel sugeriu a calçada em frente à Praça Santos Andrade para receber os nomes dos quatro maiores incentivadores do teatro paranaense: Bento Munhoz da Rocha Netto (idealizador do atual Centro Cultural do Teatro Guaíra), Ney Braga (notabilizado pela política de incentivo ao teatro brasileiro em seus dois governos, 1961/1965 e 1979/1982, com o financiamento de grandes produções montadas a partir de Curitiba), Paulo Pimentel (não só manteve a política de incentivo e financiamento públicos às produções locais e nacionais, como também retomou as obras do Grande Auditório do Teatro Guaíra) e Jaime Lerner (o governador e prefeito que mais abriu salas de espetáculos no estado, do Teatro do Paiol às salas do projeto “Velho Cinema Novo”).

Ex-superintendente da Fundação Teatro Guaíra, o jornalista e professor Hélio Puglielli rende aplausos ao Festival de Teatro de Curitiba (FTC), hoje sem dúvida uma incubadora de talentos, mas pede licença para ressaltar que esta grande trincheira de resistência da classe teatral nasceu e cresceu em terra fértil e cultivada. Além da garra e persistência de Leandro Knopflholz, o Festival de Teatro tem marcado sua identidade com Curitiba graças à fidelidade do público, desde os velhos tempos de Ney Braga, quando os grandes espetáculos estreavam em Curitiba para depois se apresentarem no eixo Rio-São Paulo.

Dos quatro primeiros nomes que merecem abrir a Calçada da Fama do Teatro Guaíra, coube ao ex-governador Paulo Pimentel a infelicidade de ver o Guairão (Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto) ser consumido pelo fogo em abril de 1970, pouco antes de fechar as cortinas de seu bem sucedido governo. Foi durante sua gestão, em agosto de 1966, a estreia nacional de O Senhor Puntila e seu criado Matti, de Bertolt Brecht, no Auditório Salvador de Ferrante, o Guarinha. Na cabeça do elenco, como o Senhor Puntila, estava o falecido ator Jardel Filho. Um astro de temperamento boêmio e violento. A peça ainda estava em fase de ensaio e sua estreia estava sendo aguardada com grande ansiedade pelo público e pela imprensa, quando a Tribuna do Paraná deu como manchete na primeira página:

“JARDEL FILHO NA CADEIA / O ator de cinema e teatro Jardel Filho, que se encontra na capital integrando um grupo teatral, foi detido, espancado e algemado por guardas da Rádio Patrulha que haviam sido chamados à boate Marrocos pelo seu atual proprietário, Orlando Wendt, onde registrava-se uma desinteligência. O conhecido ator negava-se a pagar a conta que lhe apresentaram, importando em 120 mil cruzeiros, por julgar uma exorbitância, ou, segundo expressou: Exploração, roubo, assalto.

Na mesma edição da Tribuna, a popular coluna de humor Triboladas, assinada pelo famoso Dartagnan, deu a sua versão dos fatos: “‘Sabe quem prenderam?’ ‘Não!’. ‘O Senhor Puntila e seu criado Matti!’”

Para a Calçada da Fama do Teatro Guaíra, o nome do diretor Zé Celso Martinez Corrêa deve ter lugar marcado. Em setembro de 1967, levou ao palco do Teatro Oficina, em São Paulo, O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, peça marcada pelo experimentalismo que revolucionou o teatro brasileiro. Em plena ditadura, a encenação tornou-se um marco de resistência política. Meses antes da estreia, Zé Celso veio a Curitiba para uma audiência com o então governador Paulo Pimentel, tendo embaixo do braço seu projeto para montar e estrear o espetáculo no Teatro Guaíra, com Dina Sfat, Ítala Nandi, Renato Borghi, Othon Bastos e mais um punhado de astros e estrelas.

Conforme o próprio Zé Celso contou recentemente para Beto Bruel, o governador Paulo Pimentel analisou atentamente o projeto, fez as contas e bateu o martelo, com toda a sua simpatia: “Muito interessante! Te dou o dinheiro, mas não precisa montar aqui em Curitiba!”

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