| Foto: Maryane Vioto Silva/ Gazeta do Povo
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(Cidade do México) Assim como as revistas e jornais impressos, os guias de viagem estão se tornando peças raras de colecionadores e itens para comercialização dos sebos. Um desses é o Guia Visual editado originalmente pela Penguin Random House, de Londres, traduzido e impresso pela Folha de S. Paulo.

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Antes de embarcar para uma curta temporada na Cidade do México (não sem antes pintar três aquarelas em Cartagena das Índias, Colômbia), depois de procurar na internet consegui um exemplar do Guia Visual do México de 2017, de muita valia para os desconectados e uma verdadeira peça de museu para os nômades digitais a girar o mundo guiados pelo Google Maps.

Além de um guia de viagem impresso, o smartphone e um laptop, como bagagem de mão trouxe também o Kindle com um bom companheiro: Erico Verissimo. “México: história duma viagem”, publicado em 1957, é um misto de guia de viagem e de ensaio sobre a história, a cultura e o caráter mexicanos. O pai de Luis Fernando Verissimo costurou o enredo do livro a partir dos deslocamentos que realizou dentro do território mexicano e de seus encontros pessoais e literários com grandes nomes das artes, da filosofia e da historiografia.

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Assim como o giramundo Erico Verissimo, autor de importantes obras para a compreensão daqueles gaúchos que fincaram armas no Brasil Meridional e foram se abancando de bombacha e cuia pelo resto do país, também precisamos arrumar alguns bons motivos antes de viajar para o México, principalmente com a pandemia ainda assombrando até os vacinados com a terceira dose de reforço.
Em férias da direção do Departamento de Assuntos Culturais da OEA, que o fez permanecer por três anos na cidade de Washington, estava cansado daquele mundo lógico e ordenado, ansiando por voltar ao mundo surpreendente e desordenado latino-americano, das imagens, sons e cheiros de um mundinho em que, conforme suas próprias palavras, “o relógio é apenas um elemento de decoração e o tempo, assunto de poesia”. Para tanto, convencer a família não foi assim tão tranquilo. Os dois filhos, Luis Fernando e Clarissa ficaram em Washington, Veríssimo viajou com Mafalda fazendo contraponto entre o marido contador de histórias e o intelectual rigoroso.

Assim como as cores no Brasil, onde os contrastes sociais são igualmente notáveis, o gosto do México não é capaz de sair da memória do viajante: “Doce? Não. Amargo? Também não. Esquisito, raro, diferente, mistura de tortilla, cigarro de palha, chile e sangue. Um gosto seco, às vezes com certa aspereza de terra desértica, não raro com inesperadas e perecíveis doçuras de fruto tropical”.

Nestes vintes dias na CDMX, ficamos hospedados num apartamento (Airbnb) da Avenida José Vasconcelos, nome de um dos intelectuais com quem Erico Verissimo muito se encontrou naquela viagem. Escritor historiador, José María Albino Vasconcelos Calderón (Oaxaca, 1882 \ Cidade do México, 1959) escreveu em 1925 o seu mais controvertido livro: “A raça cósmica: missão da raça ibero-americana”, um elogio à mestiçagem, no qual sustenta que nós os latino-americanos somos o único povo capaz de criar uma autêntica cultura, através da mestiçagem entre três raças humanas: a branca dos colonizadores; a negra dos escravos; e a amarela ou vermelha dos nativos.

Conhecer o México através de Erico Verissimo é ter em mãos um Guia de Viagem do Reino de Montezuma, o imperador Asteca que no seu palácio de verão, na colina de Chapultepec, era servido por seu cozinheiro com “assados de carne dum valente guerreiro inimigo sacrificado ao deus da guerra”.

Nos dias de hoje Montezuma é facilmente encontrado nas barraquinhas (puestitos) de esquinas, sendo servido da mais autêntica “comida callejera”. A comida de rua com registros desde a época pré-hispânica: tacos de canastra, tacos al pastor, tacos de guisado, tortas, tamales, quesadillas, chicharrónes e churros, para arrematar com tequila ou mescal.

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