Estes cientistas e suas maravilhosas contradições. Tempo atrás uma revista de circulação nacional publicou amplo atestado de reabilitação dos queijos, manteigas e – hurra! – a carne vermelha, essa inimiga pública número um dos veganos. Muita gente comemorou a anistia do bife mal passado, quase sangrando, com dois ovos fritos na manteiga.
No abalizado perdão ao filé mignon, há pelo menos 20 anos na lista dos bandidos mais sanguinários, consta que a metade da gordura que compõe a carne vermelha é oleica, ou seja, a mesma do saudabilíssimo azeite de oliva. A outra metade é saturada, que, como o vinho, quando degustada com moderação, é essencial para o espírito do bem viver. Não o vinho tinto, diga-se, porque há quem considere o vinho branco a bebida mais parecida com o vinho.
Como um assunto puxa outro, assim como uma minhoca puxa as outras, para muitos é excitante a descoberta de cientistas ucranianos de que a tragédia de Chernobyl mudou a rotina sexual de algumas espécies de minhocas: trocaram a reprodução assexuada pela “procriação carnal”. Depois do PUM! de Chernobyl, as minhoquinhas receberam fortes doses de radiação e partiram para o pecado, reproduzindo-se por via sexual. Antes amontoadas na mais pura inocência, agora se reproduzem em altas orgias, pois a bandalheira permite transmitir aos descendentes os genes mais resistentes às radiações e aumentar as chances de sobrevivência. Enfim, a ordem entre as minhocas agora é essa: ou dá, ou vai pro anzol!
Só com muitas minhocas na cabeça se justifica qualquer criatura rejeitar a vacina russa por incompatibilidade ideológica
Depois da revolução sexual das minhocas de Chernobyl, os cientistas ucranianos chegaram a outras descobertas fundamentais para a reprodução das espécies: o orgasmo de um porco dura 30 minutos; os humanos e os golfinhos são as únicas espécies que copulam por prazer; o louva-a-deus macho não consegue copular com a cabeça presa ao corpo, pois a fêmea inicia o ritual de acasalamento arrancando fora a cabeça do macho; alguns leões copulam mais de 50 vezes por dia.
É preciso tirar o chapéu para esses adoráveis malucos da ciência, cujas pesquisas mostram que eles têm muito mais coisas na cabeça, além de pipetas, bactérias, vírus e minhocas. Nesta pandemia podemos compreender com mais alcance a frase de Isaac Newton: “O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano”. Com o novo coronavírus, por exemplo, não sabemos de onde surgiu tanta gente com minhoca na cabeça. É uma pandemia de minhocas por este mundo afora. Ou um oceano de minhocas, como diria Newton.
Estes adoráveis malucos da ciência, por mais que avancem no desenvolvimento da vacina para a Covid-19, nunca vão explicar o que leva uma criatura com a cabeça cheia de minhoca a sair na rua com um cartaz escrito em letras garrafais: “Cloroquina ou ivermectina sim, vacina não!”.
Só com muitas minhocas na cabeça se justifica qualquer criatura rejeitar a vacina russa por incompatibilidade ideológica. Se o protesto ocorresse na Rússia, onde os voluntários compulsórios do Exército Vermelho já testaram o vírus com a opção de passar uma quarentena perpétua na Sibéria, seria compreensível a rejeição. Em Moscou, o comediante Maxim Galkin ironizou uma entrevista de Vladimir Putin, ao comentar o cronograma para respirar durante o abrandamento do lockdown: “É verdade que às vezes nós cortamos o oxigênio para algumas pessoas, mas não para as massas. Pelo menos não por enquanto. Vamos apenas acrescentar uma palavra e chamá-lo de ‘cronograma para se respirar livremente’”.
Assim como em Moscou, em Curitiba as autoridades estão ansiosamente aguardando o Sputnik V cruzar o hemisfério e pousar no Palácio Iguaçu. Nesse dia, como já se diz nas redes sociais, o governador Ratinho Júnior vai anunciar aos paranaenses a boa nova: “Tenho a satisfação de informar a chegada do Sputnik V. Por ser do grupo de risco, meu pai Ratinho foi o primeiro a ser vacinado. Até agora ele não apresenta kalker reakzão ou efeikto sekundariski если вы можете это прочитать, это потому, что вы понимаете русский”.
Enquanto a vacina não chega, a paranoia seria cômica se não fosse trágica. Por certo muitos podem achar que tudo isso é coisa de cronista com minhocas na cabeça, mas pelos cálculos dos cientistas é preciso movimentar 76 músculos para franzir a testa diante de tanta gente com minhocas na cabeça.
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