Deus, numa segunda-feira, criou Curitiba. Pelo menos assim pensam os curitibanos. Com parques, praças, penduricalhos, sistema de transporte e um divino planejamento urbano. Achou monótona e então, na terça-feira, criou o inverno. Com suas brumas, cachecóis e um generoso vinho em Santa Felicidade. Mas achou o frio muito triste.
Na quarta-feira Deus criou a primavera, florida e colorida para enfeitar as tantas áreas verdes. Não satisfeito, Deus a achou bucólica demais e na quinta-feira criou o verão, alegre e saudável, para fazer os curitibanos sorrirem. Bom estava, mas achou a estação muito seca e, na sexta-feira, criou o outono. Ameno e contemplativo. Então Deus achou tudo muito modorrento e, no sábado, misturou tudo. Fez o inverno, a primavera, o verão e o outono reinarem no mesmo dia em Curitiba.
E no domingo Deus descansou. Na verdade caiu de cama, pois não sabia que tinha acabado de criar a gripe, a rinite e o resfriado, além da virose. Boas desculpas para o curitibano faltar à escola ou ao trabalho.
Quando Deus criou o mundo, Ele não tinha a menor ideia das tantas doenças que iriam surgir. Um tempo atrás, o engenheiro de sistemas norte-americano Ahmad Anvari comprovou que existem mais de 25 enfermidades insólitas ligadas ao trabalho ou a hobbies. Uma delas chama-se “cotovelo de passeadores de cachorro” (dog walkers elbow), mencionada pela primeira vez em 1979 no New England Medical Journal, e se refere à dor causada pela tensão constante no braço de quem conduz um cachorro pelas ruas. Transtorno semelhante é o “cotovelo de pescador”, o inchaço doloroso do ombro e do cotovelo de quem passa horas e horas sacudindo uma vara de pescar na beira do rio (New England Medical Journal, 1981). Já a “bursite de polícia” é causada pelas horas e horas que um policial passa caminhando, de um lado para outro.
A lista continua. Outra profissão que causa muitas doenças, poucos reconhecem, é a “síndrome de dona de casa”. São sintomas nervosos provocados pela dedicação excessiva ao lar, doce lar. No outro lado da mesma moeda aparece a “síndrome da mulher que trabalha fora”: fadiga, irritabilidade, dor de cabeça e diminuição da libido pelo esgotamento causado pela profissão. É um interessante paradoxo: a mulher, dentro ou fora da cozinha, não está livre do fantasma do estresse. Entre outras possíveis causas do estresse feminino tem uma que é insólita. Trata-se da “síndrome do marido aposentado”. Os sintomas: tensão, dor de cabeça, depressão e ansiedade que afligem a mulher de um marido que acaba de se aposentar. Depois de tantos anos “casados com o trabalho”, os homens aposentados produzem um efeito extraordinário na saúde de suas companheiras. E a causa é bem conhecida: de um dia para outro, o casal passa a conviver 24 horas sob o mesmo teto.
A lista de Anvari inclui também curiosidades dermatológicas. A “toilet seat dermatites” leva todos os prêmios. É a irritação na bunda de quem passa muito tempo lendo no banheiro. “Creditcarditis” é outra moléstia que ataca a bunda, causada pela compressão nos glúteos de quem fica sentado muito tempo com um maço de cartões de crédito no bolso traseiro da calça.
Se a gripe, a rinite, o resfriado e a genérica virose já não são suficientes, esta lista de raras doenças é de grande valia para enforcar o trabalho. Podem não convencer, mas são reais e de possível comprovação perante chefias benevolentes.
As pesquisas do engenheiro Ahmad Anvari são do início deste século. Se levantadas nos dias de hoje, com certeza seriam certificadas outras dezenas de enfermidades insólitas, ligadas principalmente ao comportamento político dos brasileiros nas redes sociais. Duas dessas enfermidades se destacam.
A “seitasitose” é uma virose que, ao atingir o cérebro, deixa suas vítimas em permanente estado belicoso. Ela ataca indivíduos de natureza gregária que não conseguem pensar com os seus próprios botões. De forma genérica, esses pacientes fazem parte de seitas ideológicas manietadas por um líder carismático que priva seus seguidores da opinião própria e do livre-arbítrio.
Bem ao contrário da “seitasitose”, a “ceticositose” apresenta sintomas de um paciente incrédulo e descrente. É próprio do cético em estado avançado, quando se recusa a aceitar uma ideologia com base na sua popularidade ou no líder carismático que representa e impõe um pensamento único. O escritor Nelson Rodrigues, ao asseverar que “toda unanimidade é burra”, revelou-se portador desse transtorno que, assim como o resfriado, rinite ou virose, também pode ser uma boa desculpa para enforcar o dia das eleições.
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